Benditos advogados militantes
Elson Martins
No período da ditadura militar e civil (1964-1985) que infelicitou o país com a supressão das liberdades individuais; que prendeu, torturou e matou pessoas inocentes; que amordaçou as organizações populares e democráticas, – eu vivi em quatro capitais: Belo Horizonte, Macapá, Belém e Rio Branco. Foi em Macapá, entretanto, onde corri mais riscos como militante de esquerda. Já em Rio Branco fui ameaçado quando exercia a atividade de repórter-correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, cobrindo conflitos entre seringueiros e pecuaristas.
Nas duas outras cidades, Belo Horizonte (na qual permaneci de 1963 a 1969) e Belém (1970 a 1974), passei quase despercebido. Na primeira tratei de me instruir para entender a ameaça que cercava a sociedade de um modo geral, mas o golpe militar me alcançou, ainda jovem e despreparado, comprometendo meus estudos de Cinema, Belas Artes e Química Industrial. Procurei compensar isso com leituras de todo o tipo: de Marx e Lenin a Jean Paul-Sartre; de Krishnamurti a Vinicius de Moraes e Pablo Neruda; de Rainer Maria Rilke e Alceu Amoroso Lima a Campos de Carvalho.
Em Belém, me limitei a sobreviver com mulher e um casal de filhos, trabalhando numa usina de laticínios.
A partir de 1974, por obra e graça do jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, passei a correspondente de O Estado de S. Paulo, primeiramente em Macapá (1974), depois em Rio Branco (1975-1983). Aqui começaram as dificuldades. A ditadura militar e seus seguidores, fardados ou a paisano, odiavam jornalistas abelhudos; e contavam com a conivência do poder judiciário para persegui-los. Foi então que me dei conta da existência de alguns corajosos advogados que, em diferentes regiões do país, socorriam de graça (e correndo riscos) os indefesos e “lisos” repórteres considerados de esquerda.
Conheci vários deles, pessoalmente, ou pelo noticiário nacional, e a dois entreguei minha má sorte como perseguido pela justiça “militarizada” e intolerante. No Acre me vali do Arquilau de Castro Melo, repórter do jornal alternativo Varadouro que editei em Rio Branco de 1977 a 1981. Ele fazia o curso de Direito na UFAC e logo se tornou advogado combativo, o único que ousou defender Chico Mendes, os seringueiros e suas famílias expulsas da floresta pelos pecuaristas. Nos anos noventa fez concurso para juiz e acabou na alta função de desembargador. Alguma coisa melhorou na Justiça do estado por conta de sua inteligência, caráter e sensibilidade.
No Amapá, onde militares e juízes eram parecidos nas ações e na aversão aos ditos “subversivos”, fossem jornalistas ou não, eu e o saudoso Antônio Correa Neto sofremos sob o tacão deles nas duas últimas décadas do século passado. E ai de nós (e de outros insubmissos) se não existisse o advogado Wagner Gomes, filiado ao Partido dos Trabalhadores e que atuava em parceria com o também advogado Ronaldo Serra defendendo os desvalidos. Como editores da Folha do Amapá, jornal que circulou de 1991 a 2004, demos trabalho à justiça e, claro, aos dois amigos advogados.
Quem viveu naqueles tempos, nos resquícios da ditadura, tinha quase tanto medo de um juiz quanto de um agente do DOPS, o órgão da repressão que vivia caçando subversivos no país, até dentro das igrejas; às vezes, com a conivência de algum santo padre. Era muito difícil para os jovens da época, sobretudo, alimentar sonhos de uma vida que valesse a pena sem o mínimo de amparo legal para se expressar. Por isso, um sujeito que conhecesse as leis e não abrisse mão de aplica-las, ainda que se expondo à fúria dos repressores, se tornava imprescindível.
Faço este relato para testemunhar a favor do advogado Wagner Gomes, que, nesta segunda-feira (16), estará submetendo seu nome (em eleição da categoria) para disputar um lugar na lista sêxtupla que será apresentada ao Tribunal de Justiça do Amapá – e posteriormente ao governador Camilo Capiberibe, – para uma nomeação na vaga de desembargador. Sem desmerecer outros candidatos, expresso minha preferência pensando no passado histórico, ideológico e humano que Wagner carrega em seu currículo.
Um passado também reconhecido, presumo, pelos amapaenses que aspiram viver numa sociedade tolerante, democrática e justa.
8 Comentários para "Artigo – Benditos advogados militantes"
Elson Martins..Sempre mandando bem..
VINDO DE BELEM DE FERIAS FUI MUITAS VEZES A UM BAR DE NOME ‘THENDA’ ONDE SE DIZIA POESIA, FALAVA-SE DE TUDO, CANTAVA-SE MUITO, E TOMAVA-SE QUASE TODAS. LOCALIZADO NA AV FAB. QUASE TENHO A CERTEZA QUE ESTE COMPANHEIRO ERA O PROPRIETARIO. OUSAVA-SE CANTAR ATE MESMO ‘ PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES’ QUE PARA AQUELES ANOS ERA DESAFIAR A ‘FERA’.
LUIZ JORGE.
Faço minhas as palavras do grande e honrado jornalista Elson Martins. Wagner é um defensor da liberdade e combativo advogado
O governador irá nomear um advogado militante do PSB ou que com ele tenha relação de amizade. E, com certeza, será nomeado o candidato mais jovem possível, pois, em tese, terá mais tempo no desembargo uma pessoa de confiança do atual governo.
Elson Martins é, sem dúvida, um nome com respaldo para dar apoio ao Wagner Gomes. Fui uma das pessoas que teve a oportunidade de trabalhar e conviver com ele no Amapá, e aprender não somente sobre jornalismo, mas sobre dignidade, respeito, valorização e principalmente justiça. Quem conhece e reconhece, sabe de sua caminhada e de suas lutas.
Quanto ao Wagner Gomes, meu parceiro e companheiro de militância, é um homem íntegro e merecedor do cargo. O Amapá precisa de desembargadores como o Wagner, que não poderia ter melhor apoio que o do Elson Martins. Aos dois um grande abraço, minhas considerações e obrigado por fazerem parte da minha vida e terem contribuído para que o Amapá não estivesse hoje onde muitos gostariam. O Wagner defendendo as causas justas, e o Elson dando voz a elas.
Quanto ao historiador que escreve “istorinha”, tem que comer muito feijão pra falar de Homens como o Elson e o Wagner.
Para desembargador, realmente o Dr. Wagner Gomes é melhor nome que a OAB/AP tem para representar a classe dos Advogados e a sociedade Amapaense.
Excelente nome ao desembargo.
Martel, concordo plenamente com vc.
Uma lamuria.
Sou historiador e digo que isso que este cidadão ai falou em parte é mentira ou invenção de sua mente. Uma istorinha pra boi dormir.