Desabafo do leitor

Sobre os meus problemas com os Kaiowá Guarani
Igor Reale Alves

igorrealeHá alguns meses atrás, os Kaiowá Guarani emitiram um texto cheio de passagens dramáticas a respeito do drama que viviam em sua localidade. O texto era bastante forte. A comunidade indígena explicou que preferia morrer coletivamente, lutando nas terras que os seus antepassados viveram do que sair de lá. Não havia a quem denunciar, pois, a mesma justiça que eles iriam recorrer era a mesma que iria expulsar todos eles daquela terra.

A carta circulou nos veículos de comunicações e, graças a estes, a determinação de morrer lutando dos Kaiowá Guarani foi interpretada como um anúncio de suicídio coletivo. A galera também participou da briga. Da mesma forma que circulavam as fotos bizarras ( e falsas) de bebês com tumores gigantes no rosto, crianças sem cérebro ou aqueles bombeiros ajudando as pessoas deitadas na rua com um Jesus como paramédico, o feed de notícias passou a ser contaminado com foto de índios enforcados, levando gravata de policiais. Algumas fotos inclusive, também foram usadas na época da construção da usina de belo monte (Alguém viu aí aquele video com um bocado de globais falando sobre os problemas que o meio ambiente ia correr com a construção da usina?).

Não parou por aí. Em apoio a causa, muitas pessoas mudaram o seu sobrenome no nick. Por exemplo, o seu nome é Super Mario Bros. Para ajudar na causa dos Kaiowá Guarani, você devia mudar o seu nome para Super Mario Kaiowá Guarani. E esses novos indios contaminaram a internet, todos publicavam incansavelmente que estavam se sentindo terrívelmente indignados pelo o que seus companheiros de sobrenome e tudo mais. Porém, dormiam tranquilos depois.

Afinal, a situação indígena era mais um dos tópicos hot do facebook, junto com Candy Crush e a Marcha das Vadias (que se refere a uma moça que foi numa delegacia no Canadá reclamar de uma coisa e o delegado explicou que ela parecia uma vadia com a roupa que estava usando no dia. Daí se criou uma campanha no mundo todo em que moças de classe média saem às ruas mostrando os seus, com cartazes ousados e tudo mais. Muito libertador. Nada efetivo. http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/index.php?option=com_content&id=1975 . Vamos encerrar esse parêntese. Ele está grande demais) .

Para entrar no clima do Brasil todo, foi criado um ato Kaiowá Guarani aqui em Macapá também. O interior do Pará e do Amapá possuem problemas de terra tão gritantes e terríveis quanto os do Kaiowá Guarani. No entanto, era bem mais divertido mostrar que estava preocupado com troca de sobrenome e compartilhamento de fotos degradantes e conteúdo distorcido do que procurar entender o panorama geral da coisa. É mais cômodo. A moda kaiowá guarani durou uns cinco meses no total. O pastor Silas Malafaia deu a sua opinião a respeito dos homossexuais e conseguiu mudar o foco da militância virtual. Todos apagaram os seu novos sobrenomes e passaram a perseguir a igreja evangélica. Eu, no entanto, continuei próximo dos Kaiowá Guarani.

A minha militância contra a militância a favor da tribo na época me rendeu um processo nada divertido. Minhas palavras foram retiradas do contexto original que ocupavam no meu perfil pessoal e denunciadas. Hoje, respondo a um processo por racismo. Já devidamente divulgado por aí pela internet e, reproduzido com detalhes, através do site do Ministério Público.Vocês podem acessar lá. Mea Culpa. Se eu tivesse escrito “[ironia]” antes de cada post meu, seguido de vários tópicos explicando que, de fato, aquilo não era nada mais que uma crítica ao que é grotesco e preconceituoso de fato, eu não estaria passando por essa situação. Que é bem menos divertida do que mostrar os seios na marcha das vadias.

Não culpo ninguém, nem estou me vitimizando aqui. É papel dos órgãos públicos regularem o conteúdo nessa rede mundial de computadores. Mas eu sei o que eu falei e sei das minhas verdadeiras intenções ao escrever o que escrevi na época e não preciso provar a ninguém que não tenho problemas de preconceito. Na verdade, tenho sim. Para a justiça. É isso. Meus amigos dessa rede virtual, compartilhem o meu ponto de vista em seus feeds. Fiz de tudo para esse texto ser polêmico, leve e esclarecedor. Isso vai me ajudar bastante. Vou morrer lutando contra a tirania dos movimentos sociais rasos. Isso não é uma carta de suícidio. Ah, e a dos kaiowá guarani também não era.

http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=brasil-indios-guaranikaiowa-desmentem-suicidio-coletivo-em-04024C183764E0C13326

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