Grupo Tortura Nunca Mais corre risco de perder sua sede

Cedida por Dom Paulo Evaristo Arns, ainda na década de 80, a casa localizada na rua Frei Caneca que abriga atividades do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e de uma dezena  de outros coletivos autônomos, começou a ser demolida essa semana, em meio a uma difícil negociação. Intenção da Paróquia Divino Espírito Santo é fazer no local um estacionamento.

Criado clandestinamente em 1976, inicialmente como parte do projeto BNM – Brasil Nunca Mais, o Grupo Tortura Nunca Mais – SP tornou-se um instrumento de organização dos familiares dos mortos, desaparecidos e torturados políticos durante o regime militar brasileiro. A partir de 1987, foi registrado como entidade da sociedade civil e reconhecido como de utilidade pública em nível municipal, estadual e federal, trabalhando na defesa dos direitos humanos, com ênfase na luta contra a tortura praticada por agentes do Estado.

Nessa mesma época, a partir de um acordo com Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, a Cúria Metropolitana de São Paulo cedeu o imóvel para abrigar a sede do grupo. Inicialmente foram disponibilizadas apenas duas salas, já que a casa ainda era usada pela Igreja para algumas atividades (como reuniões dos Alcoólicos Anônimos e o sopão para moradores de rua). Com o fim dessas atividades pela paróquia, o grupo passou a utilizar os espaços ociosos para promoção de outros eventos (como exibição de filmes, debates, encontros e etc.) além de abrigar reuniões e atividades de outros coletivos autônomos da cidade, que trabalham com o tema dos direitos humanos.

Em meados de 2012, a Paróquia Divino Espírito Santo (a qual o imóvel está ligado)  manifestou interesse em reaver a casa, para dar um lugar a um estacionamento. Foram então iniciadas negociações sobre a transferência da sede do grupo e a proposta da Igreja era ceder um outro espaço em uma região menos valorizada da cidade. Ocorre que as poucas opções oferecidas não comportam as atividades do grupo e dos coletivos parceiros.

Após algumas reuniões e muita dificuldade em se chegar a um consenso, começaram na segunda-feira (9 de setembro) os trabalhos de demolição do imóvel, levados a cabo sem aviso prévio e na ausência de um entendimento definitivo sobre o futuro da sede do grupo.

A casa abriga hoje um importante acervo sobre os mortos, torturados e desaparecidos políticos durante a ditadura, além da própria história documentada do Grupo Tortura Nunca Mais – SP. Por enquanto estão sendo demolidos os anexos ao fundo, que não guardam a documentação, porém, os trabalhos devem avançar rapidamente nos próximos dias.

O momento é especialmente delicado pois a sede tem sido muito utilizada pelo grupo para debates e reuniões sobre as sucessivas demonstrações de violência policial durante os protestos de rua dos últimos meses. Com o início da demolição, essas atividades agora estão comprometidas.

(Grupo Tortura Nunca Mais)

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