CHOREI, E MUITO !
Milton Sapiranga Barbosa
Depois que os desfiles cívicos, pátrios e carnavalescos foram transferidos da Av. FAB para à avenida Ivaldo Veras(Sambódromo), nunca mais me interessei em ir assistir desfiles no local acima mencionado, até que neste ano de 2011, não pude deixar de ir, por dois motivos que julguei importantíssimos, como vocês poderão comprovar a seguir.
Minha filha caçula, Elinne, quando fui visitá-la no sábado, 03/09, me fez um convite muito especial, pedindo que fosse assistir o desfile do Pedro Caíque, seu filho( aquele moleque da crônica O filho da lavadeira e o neto indagador ). Lembram? De imediato prometi que não ia faltar. Primeiro, porque naquele dia em que ele desfilaria, eu estaria de berço, completando 66 anos de vida, e segundo, por que, sem dúvida, veria naquele moleque, da terceira geração da Dona Alzira, um pouco de mim, já que ele carrega nas veias um de meu sangue. Não, eu poderia deixar de ver meu Neto desfilar pela primeira vez na vida e logo no dia de meu aniversário.
Na quarta feira, 07/09, às 06 da manhã já estava acordado. Depois de rezar e agradecer à Deus por me dar, até então, o dobro de sua idade, tomei um reconfortante banho, vesti uma roupa nos trinques, bebi o café matinal , saindo em seguida pedalando minha bike rumo ao sambódromo.
Como o trajeto da casa onde moro até ao local do desfile dista uns mil e quinhentos metros aproximadamente, ou mais, fui relembrando, feliz, como pinto no lixo, dos meus tempos de jardim de infância até à quinta série, iniciado no anexo da Escola Normal e concluído no Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Lembrei das professoras que me deram ensinamentos e alguns cascudos, também. Como foram diversas, não cito nomes para não cometer injustiça.
Lembrei com saudade da “Turma da Graxa”, pois por dois anos, por ser baixo e magrinho, sempre ficava no pelotão da “bagunça”, já que na graxa não havia preocupação com o passo certo. Bem que tentávamos, dando aquele “pulinho” para acertar o passo(assim pensávamos), com o do colega que marchava ao lado direito ou na frente, mas as vezes eles também estavam marchando errado, e a coisa ia do jeito que dava até o final do desfile da escola.Mas o orgulho de passar em frente ao Palanque Oficial era indescritível.
Recordei da Turma do Bastão , da Escola Industrial, comandada pelo saudoso professor, árbitro, atleta e escoteiro, Expedito da Cunha Ferro(91), que com uma varinha na mão direita, exigia muita atenção e disciplina dos “bonecos de anil” por ele selecionados .
Quando a Turma do Bastão parava em frente ao palanque e começava a fazer evoluções, com uma precisão incrível, era um espetáculo e os aplausos e fogos eram ensurdecedores.
De repente, ainda envolto nessas gostosas lembranças de meu tempo de primário, cheguei na Ivaldo Veras, acho que uns 10 minutos antes de começar o desfile de 7 de setembro. As dependências do sambódromo já estavam lotadas. E agora? Como iria ver meu neto passar garboso pela avenida. Felizmente, liberado por uma policial militar, consegui lugar em uma das cabines que abrigam os jurados nos desfiles carnavalescos. Lá, daquele lugar privilegiado, fiquei atendo, assistindo o passar dos membros da Polícia Militar, um pelotão da Legião Estrangeira, e os alunos das diversas escolas de Macapá e dos meus olhos começaram a cair gotas e mais gotas de lágrimas .
Como tinha gente ao redor, de vez enquanto eu ia até a escada enxugar lágrimas saudosas que teimavam em cair devido a forte emoção que tocava meu coração, por lembrar da minha infância feliz.
De repente, lá vem o pelotão da Polícia Ambiental e dentro de um carro patrulha, envergando o uniforme da companhia, no posto de Tenente, era meu netinho Pedro Caíque Barbosa Baía.
Outra vez voltei no tempo. Ao vê-lo, comodamente sentado naquela viatura, foi então que chorei pra valer, ao lembrar, do dia em que cheguei atrasado para receber o material que o governador Janary Nunes mandava distribuir para os alunos da época (macacão e botas). Quando chegou a minha vez, o macacão estava na medida certa, mas as botas estavam dois números acima do que eu calçava, 38 em vez de 36. Mas quem disse que recusei? Eu não ficaria sem desfilar de forma alguma.
No dia 7, bem cedo, coloquei uns pedaços de papéis nos bicos das botas, calcei duas meias de jogador do meu cunhado justo (grande zagueiro do Amapá Clube) e mais a meia da escola e fui todo contente para a avenida FAB.
Minha escola Barão do Rio Branco, foi a quarta a desfilar, pegando já um forte sol pela frente. Quando passamos em frente ao palanque, ao olhar pra direita, avistei minha mãe Alzira e minha irmã Mariazinha batendo palmas e ostentando largos sorrisos em seus rostos.
Elas, eu tinha certeza, estavam aplaudindo orgulhosas aquele moleque magrela, que mesmo com enorme sacrifício de marchar com aquelas enormes botas e com pesos extras, passava garboso diante do público e das autoridades, como se tudo estivesse normal.
Terminado o desfile, fui liberado para ir tomar banho na praia da Fortaleza de São José, que naquele tempo era bem limpinha e tinha muita areia. Tirei as botas longe dos colegas, tomei banho e depois trouxe as botas nas mãos, pois se eles vissem o tanto de papel e pano que havia utilizado no calçado para poder desfilar, era gozação por toda a vida. É, chorei de verdade, ainda mais que depois que meu neto desfilou, correu ao meu encontro, me deu um forte abraço de parabéns pelo meu aniversário, depois que lhe prestei continência. Afinal estava diante de um Tenente Mirim da Polícia Ambiental. CHOREI, SIM ! E VOCE, NÃO CHORAVA?
28 Comentários para "Crônica do Sapiranga"
Realmente são tempos de sentimentos imensuráveis. Moro em Santana e me recordo do significado que era o desfile cívico de 13 de setembro. Nosso pai não tinha dinheiro para comprar uniforme novo, como muitos faziam, mas nossa mãe sabia direitinho como parecer novo. Sem falar que éramos obrigados a desfilar, tanto que era distribuido uma ficha para apresentar na entrada escola, provando que desfilou. Me recordo até do frio que dava na barriga ao passar em frente ao palanque oficial. Sentimento igual, somente quando desfilei na Av. Fab em 89 pelo brioso Exercito Brasileiro, Selva!!!!
Meu caro Sapiranga, todas as vezes que leio seus textos, cresço e aprendo mais. Que bom se todas as pessoas pudessem escrever seus passados com tanta presença de espírito, como você faz! Eu também guardo boas e saudosas lembranças dos desfiles da Av. Fab, quando em setembro 1970, desfilei uniformizado de tri campeão pela Escola Sâo Pedro (Beirol); e da turma da “graxa” – quanta saudade, apesar de nunca ter participado, mas era legal “sacanearmos” aqueles baixinhos e o meu maior orgulho foi quando, no dia 13 de setembro de 1979 puxei o pelotão das turmas de contabilidade do CCA – meu último ano naquele educandário. Abraços e continue nos presenteando com seus belos textos.
Milton, vc realmente é o cara que nunca muda. Não sei se materialmente vocês fez 66 anos. Só sei que continua como sempre, ou seja, aquele cara humilde, amigo de todos, inteligente e sábio embora não bonitinho, mas muito simpático. Você tem o poder de nos conduzir a um passado bom, passado puro, espontâneo. Que DEus te abençoe amigo velho!
Sapiranga Barbosa, fui boneco de anil e no período participei da Turma do Bastão do meu saudoso GM, tua crônica me relembrou aquele tempo e que os amapenses moravam no Amapa e se gabavam disso. No tempo em que faziamos vestibular em Belém, e os Paraense só concorriam nos cursos onde a presença dos amapaense era menor. Valeu. Manda mais.
Caramba, não consegui segurar a emoção e chorei sem querer…Impossível não se emocianar diante de um depoimento tão fantástico. Parabéns tenho 47 anos, sou amapaense da nata e sua narrativa me leva de volta a minha infância quando morei no igarapé das mulheres e também desfilei no dia 13 de setembro da Av. FAB.
Ai que saudade… Chorei agora com todas essas recordacoes….
O sapiranga devia era escrever um livro de memorias, garanto que seria um documento historico sentimental fantastico. manda ver sapiranga.
Olha quem voltou! sempre por aaqui lendo essas perolas do meu amigo, parceiro de domino Sapiranga!!!
Vou sugerir a próxima: A VOLTA DO SAPIRANGA.Você é o guardião das boas lembranças.No Coaracy Nunes tinha a merenda reforçada no dia do desfile, que era 5 de setembro (dia da raça).Voltei da viagem que você provocou,são boas e belas lembranças.Um grande abraço.
Convivo as 4° e 5° feiras com o Sarapiranga, eu já havia lido outras, mas esse definitivamente foi a melhor. Gostei muito do final!!
Parabéns pelo retorno Milton Barbosa, acredito que como eu, todos os visitantes do blog estavam preocupados com sua ausência, mesmo sabendo que foi por motivo justo. Como sempre, a narrativa é um mister de fidelidade e riqueza de detalhes, mente privilegiada que esperamos ter sempre aqui com mais frequência.
Um marco importante de suas crônicas é o valor à familia, bastião na formação moral de qualquer ser humano e o civismo, valores que lhes foram passados e que hoje transmites ao neto que te tanto te orgulha. Falar das nossas escolas primárias, dos desfiles da Av. FAB e do GM é transcender e vislumbrar todos aqueles bons momentos que passamos na infância e adolescência. Escrever tudo que se sente aqui é impossivel, então, aquela viagem do Caíca de 2009 voltará a acontecer, ele já está de passagem comprada e dia 27/12 estará aí para repetirmos tudo novamente e revermos os diletos amigos de infância, aquela turma se reunirá novamente, só que desta vez o amigo cronista e poeta Cléo Araújo estará presente.
Saudações e parabéns novamente pelo retorno.
Obrigado, amigo Ruy, pelo convite, o qual espero fazer jus. Vai ser maravilhoso rever os grandes atletas desta terra, que embalaram os sonhos esportivos de tantos torcedores, ainda que em campo de terra batida. Aqui, vale lembrar que o centro avante mais eficiente com quem joguei, foi o Antonio: Rápido, inteligente e decisivo, pelo time do Pasquim (um time que tínhamos na escola piramutaba). Embora não pertencesse ao IETA, era titular com a camisa alviceleste.
As crônicas do Sapiranga realmente nos fazem sentir saudade dos tempos em que desfilar pela escola querida era um orgulho sem par. quanta saudade.
Obrigado amigo Cléo Araújo pela lembrança. realmente nosso time “Pasquim” era quase que imbatível. muito embora eu fosse o “intruso” que vc levou para o time me sentia “em casa” afinal estava entre amigos e ficava a vontade para traduzir em gols as jogadas que voce e os outros preparavam. Bons tempos.
Ao ler as crônicas do Milton Sapiranga, realmente viajamos no tempo pra relembrar as belezas da infância e, ainda, absorver um pouco de sua sabedoria.
Obrigado amigo Cléo pela lembrança dos tempos de nosso “Pasquim Esporte Clube”. realmente eu fazia muitos gols, pois contava com a ajuda de voce e dos demais companheiros que preparavam as jogadas, para que eu cumprisse bem minha missão de atacante da equipe. abraços.
Oi, Antonio. Estou escrevendo uma crônica, intitulada “Bola na rua”, por sugestão do Mestre Aloísio Cantuária, que fala sobre o papel de alguns cracaços do esporte bretão. Como sabes, vimos: Alcione e Pam, Dilson Ferreira, o saudoso Cabral (nosso zagueiro imbatível) e outros. O Alcione concorda que vc foi o melhor na posição avançada. Coisa de moleque pobre. Ser pobre tem suas vantagens, né? Ah, eu e o Tondo estamos te esperando pra fisgarmos uns tucunas num lugar chamada “o paraíso dos tucunas, certo?
Passei exatos 16 minutos viajando em suas lembranças e às comparando comas minhas… adivinha o que aconteceu? … é claro!!!
chorei……………..
Eu tenho 17 anos de Bombeiro Militar e apesar de todos os anos já estar acostumada a desfilar, toda vez que eu piso na Ivaldo Veras é como se fosse a primeira vez, meu coração vem na boca de tanta emoção! É maravilhoso marchar no 7 de setemdbro, digo que vou me aposentar desfilando no dia da Independência!
Luiz Nery escreve:
Pescador, sua crônica me fêz lembrar da mesma emoção que senti quando meu filho Pedro Nery Neto,hoje cursando engenharia de produção,passou na rua Ivaldo Veras.
Como diz o meu cunhado Antonio Modesto (chope).
Ler uma cronica do sapiranga é melhor do que pescar com ele e o Moacir Simões,só bagunça.
Mestre Mílton, que bom você ter voltado! Os teus escritos são uma luz de bons sentimentos e moralidade, fruto de um tempo maravilhoso. Pessoas iguais a você é que espelham a grandeza e certeza de que o caminho do bem é e será sempre o único a ser seguido. Parabéns pela crônica, pois revela o sentimento de um brasileiro humilde, mas que tem orgulho de ter desfilado na Av. FAB, ostentando as cores das escolas públicas do Amapá. O ato de ir ao sambódromo assistir o desfile do teu neto, enseja repassar a ele o civismo que todos nós devemos ter, nas magnas datas da nação e todos os dias de nossas vidas. Salve, MESTRE!
Oi Cleo, infelizmente nao pude encontrar vcs, nem me despedir. Estou em Altamira. Se vc pi puder me mande um email. Beijos
Com todo o prazer. Manda teu email para: [email protected]
Grande Milton Sapiranga!Adorei como todas suas grande lembranças.
Você tem o dom de viajar no tempo e nos levar juntos. Belas recordações dos desfiles e de como era a vida naquele tempo. Antropologia cultural pura.
Prezado Sapiranga, não sou da sua geração, mas também sinto um vazio deixado pelos saudosos desfiles do dia 07 de setembro e pelos banhos da praia da fortaleza de São José.
Aconteceu um fato dramático comigo naquela praia, quando eu tinha 17 anos. Houve uma programação para os alunos do Centro Interescolar Graziela Reis de Souza e o dia amanheceu chuvoso. Cedo dirigi-me àquela escola, mas como havia pouca gente, resolvi dar uma volta no quebra-mar. E foi exatamente nessa volta que deparei-me com o cadáver de uma moça, boiando na maré baixa. No ínicio, pensei tratar de mururé, mas o vestido alaranjado me chamou a atenção e constatei que era uma pessoa. Ato impensado, com a ajuda de uma vara, retirei o cadáver que a correnteza ameaçava levar e anunciei o achado à guarda da fortaleza. Senti-me orgulhoso e famoso pelo feito, mas a experiência me proporcionou 3 noites de insônia e algumas idas à delegacia para prestar esclarecimentos ao Delegado Araguarino. Na terceira vez, meu falecido pai, Roque Batista, tomou a frente e creio que o processo tenha sido arquivado. Fiquei sem saber o que motivou a morte da moça – soube depois que sofria de distúrbios mentais -, mas até hoje passo longe de cadáveres.
Muito bom. O Sapiranga voltou afiado.
Meu Caro Milton Sapiranga Barbosa Fluminense e coisa e tal: Muito interessante o que vc escreveu (PARABÉNS), também voltei ao passado ao lê seu comentário: tempo bom que não volta mais mas fica a lembrança pra sempre.
Abs do Amigo Matta.
Não é sem razão que ele é gente fina. Afinal é tricolorfluminense, também.
Caro Luiz,
Não sei qual a geração do Roque, porém, sei que o Milton é torcedor do Fluminense desde a época de Castilho, Telê, Pindaro, Jair da Rosa Pinto, etc, portanto alguns calendários já arquivados caprichosamente no dito “arquivo morto”. Neste campeonato não dá mais, domingo pega o Gigante da Colina doido para faturar a tríplice coroa.
Sds,