Há 70 anos – Discurso do governador Janary Nunes

Há 70 anos, quando foi fundada a Academia Amapaense de Letras, o então governador Janary Nunes fez um discurso onde ressaltou obras sobre o Amapá que foram publicadas mesmo antes da criação do Território Federal do Amapá, como A Participação de Macapá e Mazagão na Cabanagem, de Jorge Hurley; e o ensaio Amapá, de Aurélio Buarque, entre outras.

Ontem, na comemoração dos 70 anos da AAL, Rudá Nunes, filho de Janary, leu o discurso.Confira:

DISCURSO DO GOVERNADOR JANARY NUNES À ACADEMIA AMAPAENSE (1953)

“Senhor presidente, senhores membros, excelentíssimas senhoras, senhores.

O Amapá é uma ideia em marcha para o porvir, é um sonho que se realiza a cada instante. Debruçado entre o Oiapoque e o Jari, no maciço guiano, cuja idade é a da formação da terra, contempla na direção do nascente a imensidão do oceano e ao sul do gigantesco Amazonas, que liga os Andes ao mar vislumbrando seu destino universal. A história de incorporação de seu solo á Pátria é o mais inteligente e o mais perseverante capítulo do livro de ouro escrito pela diplomacia brasileira na fixação das nossas fronteiras.

O Amapá merece assim uma academia, cujos membros sejam os garimpeiros de suas pedras preciosas ainda por descobrir, nesse cascalho rico que é o seu passado, nossa mina que é sua natureza. Surpreende-nos, entretanto, senhores acadêmicos a honra demasiada que nos concedem, escolhendo-nos membros honorários de vossa sociedade. Não encontramos frases apropriadas para exprimir nossa gratidão a esse gesto que nos cativa eternamente.

Desejamos que a Academia Amapaense de Letras, constituída de homens de cultura, acompanhe, participe e oriente a caminhada que o vosso povo vai trilhar. Os acadêmicos têm sido alvo de críticas nem sempre justas e serenas. Acusam-nos de esterilidade, de limitação à rebeldia criadora, de cenáculo vaidoso onde se esfria a chama sagrada da beleza.

Mas tantas já foram as graças de Deus derramadas sobre esta terra, que as nossas esperanças se animam e dão-nos a certeza de que a Academia Amapaense de Letras formará um ambiente propício aos altos remígios do Espírito. O Amapá é um convite irresistível aos que possuem sensibilidade e aptidão para traduzir em palavras o que sentem.

Antes da criação do Território, Aurélio Buarque escreveu interessante ensaio intitulado: Amapá. Elfredo Távora Gonsalves levou-nos ao Verdadeiro Eldorado, Mário da Veiga Cabral, nas edições da sua Corografia Brasileira, divulgou episódios da formação da fronteira setentrional. Arthur Vianna apresentou a Histórias das Fortificações Construídas pelos Portugueses. Palma Muniz, através dos Anais da Biblioteca e Arquivo Público do Pará, deu-nos a História dos Municípios de Macapá, Mazagão e Montenegro. Jorge Hurley mostrou A Participação de Macapá e Mazagão na Cabanagem. Emílio Goeldi situou as Cerâmicas do Cunani e do Maracá. O General Rondon imprimiu Rodovia Macapá/Clevelândia. Alexandre Vaz Tavares e Acelino de Leão cantaram as belezas de seu torrão natal. Pedro de Moura e Josalfredo Borges divulgaram Elementos Básicos de Nossa Geologia. Dois cientistas franceses publicaram volumosos Ensaios Sobre a Guiana Brasileira. Henry Coudreau com La France Equinociale e Brousseau com Les Richesses de La Guyane Française.

Macapá teve um jornal impresso (século XIX): PINSONIA. Eis a obra em resumo de algumas famosas personalidades ou que passaram por aqui deixando sua marca intelectual.

Aguardam divulgação os estudos de Álvaro da Cunha, Alceu Magnani e Lúcio de Castro Soares. Ainda não foram descritas como merecem, no seu heroísmo anônimo a existência do balateiro, esses caboclos indômitos que munidos de um pouco de sal, jabá e farinha, embrenham-se na mata, somem e desaparecem na floresta para voltarem meses após, maltrapilhos e doentes. Eis senhores acadêmicos alguns temas que pedem livros e mais livros. A cultura de um povo só se conquista acumulando experiências, somando conhecimentos e multiplicando pesquisas.

Pioneiros da segunda metade do século XX, lutemos para fazer do Amapá, desta terra generosa e deste povo amigo, um conjunto amigo e feliz, onde não falte a crença que constrói nem beleza e nem amor.”

(Esse discurso está publicado no Jornal Amapá, de 6 de julho de 1953)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *