Mundo Pixinguinha – 126 anos do nascimento de Pixinguinha

Mundo Pixinguinha
Por Tiago Pestana (*)

Hoje, 23 de abril, Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha é lembrado pelos seus 126 anos de nascimento. Compositor, orquestrador, flautista e saxofonista, Pixinguinha é autor de sucessos como Carinhoso, Lamento, Um a zero, Naquele tempo e Vou vivendo assim como por integrar o lendário grupo Os Oito Batutas, emplacando o chorinho e o samba carioca no mundo.

Mundo Pixinguinha é o título do álbum lançado em 2013 pelo bandolinista Hamilton de Holanda, uma verdadeira celebração da música e da cultura, unindo artistas de diferentes partes do mundo para homenagear o legado de Pixinguinha. A inclusão de músicos renomados como Wynton Marsalis, Chucho Valdés, Stefano Bollani, Richard Galliano e Mario Laginha adicionou uma riqueza única às interpretações das composições de Pixinguinha, definido por Holanda como capaz de “transcender fronteiras culturais e unir elementos diversos, como o samba, a valsa e a polca, em sua música, criando uma linguagem universal que continua a inspirar artistas ao redor do mundo.”

O Professor João Pereira, do Departamento de Antropologia da USP, enquanto escrevia sua tese de doutorado, sobre O negro e o rádio brasileiro, registrou sua entrevista com Pixinguinha, na Casa Gouveia, bar que o músico frequentava e onde tinha mesa cativa.

Pixinguinha falou de sua experiência como músico indicando que sua carreira começou aos 15 anos, ganhando oito mil réis por mês, tocando, primeiro, em casa de chope (descritas por ele como boates), das oito à meia-noite e em cinemas, executando trilha sonora dos filmes mudos.
Na entrevista Pixinguinha também abordou a criação do grupo Os Oito Batutas e a viagem à Europa patrocinada pelo empresário Arnaldo Guinle – herdeiro da família Guinle, uma das mais proeminentes do Brasil durante o século XX. – e de sua atuação na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro a convite do antropólogo Edgard Roquette-Pinto.

Com o rádio, Os Oito Batutas, adentravam um ambiente de maioria branca, dizia:
– Nós chegamos e fomos escurecendo o rádio.

Contou, também, que havia muita resistência por causa de sua cor, mas que sabia onde recebiam e não recebiam pretos, evitando ir e, por isso, “não foi barrado”, procurando evitar as barreiras construídas numa sociedade fortemente racializada.

E comparou Pixinguinha:
– Em casa de preto, a festa era na base do choro. Na casa do branco tocavam-se valsas e polcas, músicas europeias, francesas… Na casa de preto, na sala de visita era o choro e até outras músicas. Na sala de jantar, ou mais para dentro da casa, era o samba. No terreiro, no quintal, era a batucada. Nos fundos do quintal de algumas casas de tias, a gente armava os ranchos que iriam desfilar nos dias santificados.

Pixinguinha deixou uma longa produção musical destacando-se ainda na parceria com Vinicius de Moraes, produzindo a trilha do filme Sol sobre a lama, 1963, de Alex Viany:
– Vi desde logo que a música de Pixinguinha me seria tão indispensável quanto a história – disse o diretor em entrevista ao Jornal Ultima Hora.

Pixinguinha morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de fevereiro de 1973. Sua trajetória de dedicação e trabalho não caberiam neste pequeno texto. Seu nome marca uma geração e nos projeta uma notável personalidade negra em nossa história.

(*) historiador e integrante da diretoria Étnico-Racial da ABI

(Foto: Walter Firmo)

Fonte: Portal da Associação Brasileira de Imprensa

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