Artigo

Marcha contra a corrupção ou contra os partidos?
*Yan Fernando de França

O Dia do Basta à Corrupção é um movimento que aconteceu em várias partes do país no sentido de organizar um movimento de combate à corrupção.
No dia 21 de abril de 2012, vários cidadãos e cidadãs foram às principais ruas, avenidas, praças e outros lugares públicos, marchando e levantando a bandeira da ética na política, em sua maioria eram estudantes e jovens.
De fato, é muito difícil organizar um movimento com esse caráter que consiga dar conta de criar um fato político que garanta a atenção da sociedade. Será que os movimentos que aconteceram durante o dia 21 de abril deram conta de responder a essa falta de movimentos sociais que conseguem garantir um fato político? Tenho minhas dúvidas.

Existem duas características que podem ser atribuídas a um movimento. Primeiro: o movimento que crie um fato que coloque em xeque a situação política, que garanta a atenção do restante da sociedade, que dialogue com um povo que em sua essência é plural, que aglutine cada vez mais cidadãos e cidadãs e que tem vocação para propor uma nova política. Segundo: o movimento pode simplesmente dizer que está indignado, e daí pode resultar em nada (caso que aconteceu com o movimento no Amapá).

É consenso que um movimento que tem um caráter de combate à corrupção e que reivindica a ética na política tem em sua essência os princípios da democracia e da tolerância: participação de todos e de todas, combate à intransigência e à arrogância e que aglutine setores que, mesmo divergentes, constroem em torno de um interesse que é coletivo.
Pois bem, a marcha é contra a corrupção. Deduz-se daí que todos que são contra a corrupção na política podem participar do ato. Organizações políticas, coletivos autônomos, grupos de cultura, jornais alternativos e outros também podem. Mas porque quem é de partido político não pode? Onde está a democracia e a tolerância? Como é que esses movimentos vão dialogar com as massas que são plurais?

No ato que aconteceu na tarde do dia 21 no Amapá, as pessoas que estavam vestidas com camisas de alusão a um partido político foram convidadas a se retirarem do ato. Com isso, onde está o dispositivo constitucional que prega o “pluralismo político”, expresso no artigo 1º da Carta Magna de 1988? Todos podem se indignar com a corrupção na política, inclusive os militantes partidários. Estes têm a obrigação de se comprometerem com um movimento em prol de uma política limpa, afinal os partidos políticos são peças importantes nas discussões sobre reforma política.

Os movimentos sociais devem ser peças importantes no processo de reconfiguração da política. Se for para dizer apenas que está indignado, para nada servirá e a realidade continuará a mesma. Experiências políticas no decorrer da história dizem isso.

*Yan Fernando de França é estudante de Relações Internacionais/UNIFAP, militante do movimento estudantil e dirigente estadual do PSOL/AP

  • Parabenizar a todos que estavam na marcha,mostram que estao indignados e mostraram suas caras,agora é muito facil so julgarem se é ou nao politico,se é ou nao isso ou aquio,fizemos nossa parte,se a maior parte da populaçao fosse para rua e gritasse tudo que esse Estado ta passando,talvez as autoridades competentes tomassem maiores atitudes.Por isso que temos que aguentar esses sanguesugas em todos os poderes deste Estado.

  • Mensagens como essa (do artigo) que deixa a consciência do povo cada vez mais submissa com a condição em que este se encontra. Não importa o quanto sofrível é a situação em que se encontram ou o quanto imoral o seu povo esteja sendo tratado, algumas pessoas sempre pensam: “Isso não vai adiantar de nada”. “Só a camada baixa que se ferra”. Artigos como este de Yan Fernado que ajuda ainda mais tal acomodação.
    Devemos aprender que até os atos consideradas “medíocres”/”inúteis” (será assim, sempre entre aspas) que se tira inspirações e ideais para as grandes revoluções e mudanças.
    O povo do Amapá precisa urgentemente procurar e se manisfestar contra as imoralidades e causos inaceitáveis para nossa política.
    A Marcha Contra a Corrupção-AP pode ter sido pequena, mas jamais pode ser dada a ela tal característica infame:(um) movimento (que) pode simplesmente dizer que está indignado, e daí pode resultar em NADA.
    A Marcha deu os seus frutos e isso pode ser conferido no número de assinaturas nos três abaixo-assinados. Mas inda há muito que fazer e o trabalho (tendo como o primeiro passo a Marcha) continuará e espero que o povo não fique na acomodação influenciados por artigos tais.

  • É por isso que as marchas contra a corrupção, apesar de iniciativas louváveis, estão fadadas ao fracasso. E como um ato desse contra a corrupção pode se considerar apolítico se o simples fato de ir as ruas contra a corrupção já é algo essencialmente político ? Vamos ampliar nosso conceito do que é política né meus caros! Isso é tudo que a corja podre da politica quer: que as pessoas reduzam a politica a partido e tenham cada vez mais aversão a ‘politica’ nesse aspecto.

    • Querida Genifer, em que local está escrito que o ato é apolítico?? Os pilares da marcha contra a corrupção são o pacifismo e o APARTIDARISMOS. Temos a compreensão clara sobre os conceitos. Temos que desmistificar e parar de confundir o conceito de político e partidários, são termos distintos. Qualquer ser pensante, que vive em sociedade necessariamente é um ser político, conquanto ser partidário pressupões que este ser político esteja inserido em um partido e defenda suas idéias e princípios.

  • ESCLARECIMENTOS SOBRE A MARCHA NACIONAL CONTRA A CORRUPÇÃO

    A Marcha Nacional Contra a Corrupção foi construída sobre pilares das atividades ocorridas nos dias 7 de setembro e 12 de outubro, quais sejam: o pacifismo e o apartidarismo. No ato do dia 21de abril mais de 100 mil pessoas foram movidas em todo Brasil. Em todos os Estados houve marcha e em nenhum aceitou-se bandeira, camisa ou quaisquer alusão a partido político. Pessoas, cidadãos, filiados ou não a partidos políticos, foram acolhidos e participaram das atividades. Ao contrário do que diz a nota pública, ninguém foi impendido de participar, ou “convidado a sair”, muito embora a coordenação do ato identificara três pessoas com camisas de partidos políticos, duas do PSOL e uma do PCB. A estes a coordenação solicitou que utilizassem vestimentas condizentes com o movimento, ou seja, que não fossem partidárias – como condicionante para participação. A Marcha Nacional não pertence a nenhum partido político e nem tampouco proíbe que seus filiados participem, porém não se admite o uso destas atividades, construídas de forma independente e livre, para capitalização política por partido azul, amarelo, vermelho, laranja ou verde.

    Coordenação da Marcha Nacional Contra a Corrupção

  • FHC “ir para debaixo do sol derreter o miolo” é muito mais prático do que ficar em casa e reclamar de tudo, é através de manifestações como essa que, muitas vezes, se consegue abrir os olhos da população inerte e que acredita, realmente, que nada vai mudar. Através de debates, manifestações populares que SIM, podemos acreditar que alguma coisa pode mudar….inclusive o voto!!!

  • Concordo com você Yan! Esse argumento patético de barrar militantes de partidos comprometidos com o combate a corrupção é patético. É o mesmo argumento usado por alguns deputados e jornalistas que defendem a ALAP contra as manifestações recentes em frente a ALAP. Dizem as manifestações não são legítimas porque existem jovens de partidos como PSOL,PT,PSB e PCdoB envolvidos. Na verdade esse é um argumento pra tentar tirar o foco da realidade de nossas instituições no Amapá. Manifestação é livre e todos podem participar, desde que o objetivo seja o mesmo naquele determinado momento.

  • Pelo que eu li nas redes sociais todos poderiam participar, também foi solicitado na maioria das cidades a utilização da camisa preta em forma de luto e que fossem empunhadas vassouras ou outros objetos que caracterizassem uma limpeza moral durante o evento, com relaçao a participação de partidos políticos, acho que todos deviam ter a consciência de que o evento era apolítico, onde quem quisesse participar deveria deixar sua bandeira ou camisa partidária em casa e participar de forma limpa e democrática, o povo aqui é acostumado a querer partidarizar esses movimentos, por isso que tais eventos acabam no descrédito da população, com isso ocorrendo o esvaziamento da população que deveria ser a principal participante desses atos contra a corrupção.

  • Bem mais fácil e prático do que ir para debaixo do sol derreter o miolo é votar com responsabilidade. Só que avocar a responsabilidade para si é bem difícil. Só dizer “ei, vote com responsabilidade, senão o feijão e o arroz aumentam e você correrá o risco de morrer por causa de uma diarréia” também não educa ninguém.
    Os anarquistas dizem isso há séculos, mas niguém QUER escutar, paciência. Se não educarmos nossos filhos, não assumirmos nossas responsabilidades e não acreditarmos em mudança, qualquer esforço será cosmético. Sem esquecer que a única pessoa que você pode ter certeza de mudar é você próprio. Portanto seria coerente se cada um se esforçasse para mudar a sí próprio, pronto problema resolvido. Mas tá difícil.

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