Artigo dominical

O novelo de lã
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Tinha uma grande festa na corte. No salão mais bonito do palácio, o rei recebia as homenagens e os presentes dos súditos. A fila dos doadores já estava quase no final quando chegou uma pobre mulher idosa, apoiando-se num cajado e arrastando os pés. Carregava um pequeno embrulho. Quando chegou à frente do rei abriu o pacote e lhe ofereceu um simples novelo de lã. Era o presente dela e das duas ovelhas que criava. Todos viram e não conseguiram segurar o riso. Aquele não era presente para um rei. No entanto o soberano aceitou a oferta, cumprimentou a senhora e deu a ordem para iniciar a festa.

A idosa saiu da sala entre os comentários sarcásticos dos convidados e voltou para a sua pobre morada. Quando chegou perto, ficou apavorada. A sua casinha estava toda circundada por soldados que estavam colocando piquetes no chão e estendiam entre eles um fio de lã branca. A mulher pensou que tivessem vindo para prendê-la, porque o rei tinha ficado ofendido com o seu humilde presente. O comandante dos guardas, porém, fez uma reverência para a idosa e disse:

– Por ordem do nosso bom rei toda a terra que poderá ser circundada pelo fio de lã, que você levou para ele, será sua.

Assim a generosa senhora recebeu com a mesma medida com que havia doado.

O sentido da solenidade da Epifania vai muito além da forma literária do relato de uma viagem e do encontro dos Magos com o menino Jesus. Apesar do medo, da inveja e do ódio de Herodes, a Epifania é a festa da luz – a estrela – da alegria e da fé. Sobre os Magos, não sabemos de onde vieram e qual outro caminho pegaram para voltar na terra deles. No entanto eles sempre representarão todos os homens e mulheres de boa vontade que buscam um sentido mais profundo e bonito da vida. Precisamos de luz, porque com ela todos nós enxergamos mais e melhor. Na escuridão da ignorância e da dúvida, é muito difícil acertar o caminho. A alegria é, também, a lógica consequência de quem dá um rumo novo à sua vida, cheio de confiança porque está convencido que é o rumo certo. Por fim, confiança é outro nome da fé, sobretudo quando podemos conhecer mais de perto e melhor o nosso Deus. Por sua vez, a fé se torna luz para as nossas decisões nas encruzilhadas da vida e mantém o nosso coração alegre e esperançoso.

Com efeito, a página do evangelho deste domingo reaviva em nosso coração a esperança que um dia todos os povos da Terra possam vibrar de alegria, felizes por ter encontrado o Senhor, por serem capazes de adorá-lo como ele merece, cheios de gratidão e reconhecimento por tão grande amor. Os Magos manifestam esses sentimentos com os seus presentes: o ouro, o incenso e a mirra. Quem entendeu o dom que Deus nos fez vindo ao nosso encontro com a sua humanidade sente a necessidade de também oferecer algo. Mas o que podemos dar ao nosso Rei que ele já não tenha? Os presentes dos Magos, bem entendemos, nada acrescentam à divindade do Menino Deus, nada mudam da pobreza humana que escolheu, em nada amenizam o seu sofrimento e a sua morte na cruz. Reconhecem, porém, quem ele é e o que irá realizar – e já realizou – para esta humanidade ainda tão temerosa e desconfiada.

“Que tens que não tenhas recebido?” (1 Cor 4,11) pergunta Paulo aos Coríntios. É verdade. Sempre pedimos tanto a Deus, cobramos felicidade, bens, alegria, saúde, vida. Damos tão pouco a ele – e aos pobres – e raramente agradecemos.

Ele não precisa dos nossos presentes, mas eles são uma declaração da nossa fé, um humilde reconhecimento da sua grandeza e do seu amor. Somente assim teremos o coração aberto para receber mais, não numa troca, mas na gratuidade e na generosidade que somente o amor explica. É isso que faz todo presente precioso.

Como o novelo de lã da pobre senhora. O que para os outros era sem valor e objeto de zombaria, para o Rei foi um rico presente, porque junto ao fio de lã estava o coração da mulher. É só o que Jesus nos pede, mas é tão difícil e por isso vale muito.

  • O medo é uma coisa que a gente nunca consegue vencer. Quando um guerreiro é apanhado numa situação muito difícil, simplesmente dá as costas ao inimigo, sem
    pensar duas vezes. Um guerreiro não pode ter caprichos, e assim não pode morrer de susto. Quando está suficientemente forte para lutar, abre sua brecha e avança contra o inimigo, agarra-o, mantêm-no imóvel e conserva o olhar nele pelo tempo necessário; depois, desvia o olhar, solta o inimigo e o deixa partir. Um guerreiro, nosso amigo, é o Senhor em todas as ocasiões.
    Porém, agora temos necessidade de viver como um guerreiro. Sempre soubemos disso, e agora está na posição de termos de usar uma força que desprezavamos antes. Mas temos de nos esforçar para chegar a ela; não nos chega de mão beijada; não nos é apenas entregue. Temos de lutar conosco mesmo para isso. E, no entanto, você é um ser luminoso.
    Mesmo que façamos alguma diferença, vamos morrer como todo mundo. Não há nada que se modifique na Área Iluminada.

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