Só de ouvir contar!
Milton Sapiranga Barbosa
Em crônicas anteriores publicadas neste conceituado blog, sempre fiz questão de lembrar dos Pretos Velhos que moravam no bairro da Favela, pois que eles contribuíram e muito com seus conselhos e, às vezes ralhando, com autorização dos pais, para nossa formação. Contei também que eles narravam histórias maravilhosas e assombrosas para a molecada do bairro. Narrativas que deixavam os moleques com os cabelos em pé, com exceção deste humilde cronista, que tem os cabelos pixaim, mas que também ficava com muito medo.
Entre as muitas histórias ouvidas, duas ainda estão bem vivas em minha memória, pois falavam de assombrações, coisas do outro mundo.
Uma delas, eles, os Pretos Velhos, contavam de uma bela mulata, dessas que nós homens classificamos de “ gostosas”, de “fechar o comércio” e por aí vai. A tal mulata, tarde da noite, costumava chamar um táxi, entrava e depois de rodar por um bom tempo por ruas e avenidas da antiga Macapá, mandava o motorista seguir pela av. General Gurjão e dobrar à esquerda, entrando na rua Eliezer Levy, que ainda não era mão única. Nessas alturas, pelo longo trajeto percorrido, o motorista mostrava um sorriso de orelha a orelha, prevendo que ia fechar o dia com uma boa grana no bolso e ainda na companhia de uma mulata como aquela. Pois sim!.
Quando o carro chegava em frente ao portão do primeiro residencial dos mortos de Macapá, ela mandava parar o carro, depois de perguntar quanto ela devia . O motorista informava o valor da corrida e solícito dizia: “A senhora não devia saltar aqui, é muito perigoso. Entre que vou deixá-la na porta de sua casa, sem cobrar mais do que já foi acertado”. E ouvia como resposta. “Bom homem, não se preocupe, não tem perigo algum, pois aqui é a minha casa há muito tempo”. Em seguida, ela adentrava ao cemitério, virando fumaça. Quem contava a história da Mulata do Cemitério, dizia que teve motorista que ficou lelé da cuca. Também não era pra menos.
A segunda história de assombração que não esqueço, também tem como personagem uma mulher bonitona, só que loura, que costumava aparecer pedindo carona em um ponto qualquer da estrada Macapá Santana, que já foi rodovia Duque de Caxias e atualmente é chamada de Duca Serra.
Bem trajada e com um corpo escultural, era um colírio para os olhos de qualquer um. Motorista que trafegava na estrada ,como dizia dona Lalí, (mãe do Alopércio, Haroldo e José Maria Franco, e do Carrapeta- adotivo -), “ NAS HORAS MORTAS”, indo ou vindo de Santana, não se furtava em dar carona aquele espetáculo de mulher. Tão logo a “bela” entrava e sentava no banco do passageiro, se mostrava receptiva a uma boa cantada. Ela deixava claro ao homem que lhe dava carona que aquela noite prometia. A “fera”, o motorista prestativo, vendo a oportunidade de uma conquista fácil, partia pra cima e tinha amplo sucesso. Trocadas as primeiras carícias e algumas apalpadelas aqui e ali, o casal saltava e a estonteante mulher levava seu parceiro mata a dentro até chegar em uma clareira, bem longe de onde o carro fora estacionado. Embriagado pela beleza daquela “deusa”que lhe caíra nos braços, o motora se deixava conduzir sem reclamar. Chegando a tal clareira, a loura, já despida, juntava um monte de folhas e se deitava em cima pronta para o ato sexual. Seu acompanhante, já babando de desejo por aquele pitéu, também se livrava rapidamente das vestes e partia feliz pro rala e rola. Só que quando ele, já com o membro em riste ia realizar a penetração, a mulher dava uma gargalhada apavorante e sumia, como por encanto. E o seu parceiro ia com tudo de encontro a folhagem que serviria de cama para os dois.
Completando a história da “ bela loura da estrada”, o narrador dizia, que teve motorista que ficou vagando, perdido na mata por muitos e muitos dias, outros endoideceram e outros, nunca mais apareceram. Só os carros foram encontrados abandonados na mata.
P.S.-Se verdadeiras ou não essas histórias, nunca pude comprovar, pois não há relato oficial de alguém que tenha passado por quaisquer um desses aperreios assombrosos contados acima. Portanto, por favor, não me acreditem
É só de ouvi contar.
15 Comentários para "Crônica do Sapiranga"
essa historia da loura de macapa e belem sao verdadeiras nao duvide desde pequena ouço falar conhecidos meus contam ate hoje
Ler estas histórias dá saudades de um tempo que sentavamos na varanda das casas para ouvir historias contadas pelos mais velhos.Desta epóca,recordo muito de uma senhora negra,que visitava nossa casa, sempre á tarde, era uma pessoa muito alegre,se vestia com saias rodadas,e, a chamavamos de Dona Cheirosa,talvez porque ela exalava sempre essencias de ervas caseiras.Nunca mais ouvi falar desta senhora.
Lembrei de uma outra estória de assombraçao que surgiu certo tempo. Diziam que aqui na Hamilton Silva aparecia uma loura e pedia cigarro..Quando o cara tirava o cigarro e ia dar, ela tinha crescido e estava do tamanho de um poste de luz. Eu era criança e junto com outras crianças da rua, ouvimos um rapaz de apelido Cubano, que frequentava a casa da nossa vizinha Esmeralda, contando que tinha acontecido com ele. Na maior cara-de-pau. Morríamos de medo claro..
Milton, sem querer abusar do privilégio de sua memória, conta-nos as estórias do Bar do Seu Raimundo (M. Furtado c/ Odilardo Silva), onde havia concurso de calouros. E no Canta Galo, do Seu Lúcio,a disputa da miss caipira, onde o povo escolhia a “Muriçoca”, figura conhecida no bairro. Lembra?
MIlton, meu camarada (risos), essa da loura da estrada, duvido que quem morou em Macapá daqueles tempos não lembre da estória. Muito bem sacada! Um grande abraço.
Caro Sapiranga, aprecio bastante suas crônicas. Lembro que em casa (ao lado da casa do tio Eulálio), os motoristas de taxi Jair e Calhambeque se reuniam com meu pai para contarem esses casos de visagem. Tinha um tal jagunço que virava cobra, essa loura da estrada e por ai vai. Grande abraço.
Oi, Mestre Milton. Vc lembrou bem do tempo dessas histórias. A da loura, segundo o João, é mais famosa q a outra. Talvez o Aloisio, um grande historiador, com também invejável acervo, possa decifrar qual das duas era a mais famosa. Parabéns pelo maravilhoso trabalho, enchendo de esperança nosso imaginário.
Lembrei da estória da loura da estrada, da mulher com algodão que assombrava nos banheiros da escola, ninguém ia aos banheiros sozinho e tinha uma moça em Belém que pegava um táxi na frente do Cemitério, pedia pra ser levada pra casa e dizia pro motora esperar na porta, passado um tempo, o condutor batia na porta e surpresa, a moça era morta há muitos anos e ele não era o primeiro….. Eu gosto dessas estórias, acho muito bacanas…. não se perde o encanto dos causos….
Espetáculo!! meu irmão foi por muitos anos taxista, eu era bem pequena, mas lembro-me perfeitamente, que ele contava os “causos” da loura.
Valeu, meu caro cangalha menor. Como diria a nossa querida Maltilde, lá da bandas do Laguinho…CRE DO LHÔ!hehehehehe
SEI DE UM MORADOR DA MENDONÇA JÚNIOR QUE CONVERSOU COM A TAL LOIRA, FICOU LELÉ DA CUCA, E DEPOIS APARECEU UMA MULHER DIZENDO QUE ERA A LOIRA QUE ASSUTOU O VALDO, E QUE NÃO PASSAVA DE UMA BRINCADEIRA DE MAL GOSTO.ACREDITE SE QUISER.UM ABRAÇO.
Hehehehe. Gostei da citação à vovó Lali (e ao tio Olopércio, tb…).
A dona Lalí e seu esposo Bingue, após chegarem de Cametá, foram por muitos anos meus vizinhos na Favela, av.Mendonça Furtado e mesmo depois da mudança pra Cora de Carvalho a amizade continuou. Joguei muita bola com o Zé Maria Franco, o Olopércio e o Carrapeta na baixa do pecó e no campo do aeroporto. O Haroldo, seu pai, não gostava muito de bola, raramente jogava. Um abraço
Prezado Sapiranga, as assombrações agora adotaram outra postura. Permanecem a loiras e as mulatas esculturais, sedutoras, mas na hora do rala-e-rola, para assombro do motorista, constata-se que não é mulher, muito menos ser sobrenatural – é homem que nem ele.
Amigo Sapiranga, só você mesmo, com suas belas e iluminadas lembranças. Duvido se, quem lê o texto não lembra de alguma situação, que passou ou ficou sabendo. Só lembro da Loura da estrada. Bjs no coração.