O Furão
Milton Sapiranga Barbosa
As vezes, de surpresa, nos deparamos com situações que nos levam a navegar no tempo, nos fazendo buscar no fundo do baú da memória, fatos de nossa infância, causos engraçados, vividos por nós ou acontecidos com nossos amigos de travessuras, de nossa época de moleque. Durante um jogo do campeonato amapaense de 2009, entrei no túnel do tempo, lembrando como se comportavam os servidores da extinta Guarda Territorial, durante as solenidades realizadas no sessentão estádio municipal Glicério de Souza Marques, carinhosamente eternizado com o apelido de Gigante da Favela, mesmo que agora o Bairro seja denominado de Central . Como bom desportista e ex-futebolista, militando na imprensa do Amapá há mais de 40 anos, sendo que 20 deles atuando como apresentador de programa, plantonista e repórter esportivo, com passagem pelo Alô Alô Amazônia da RDM e Rádio Nacional, fui assistir a decisão do campeonato amapaense entre Santana e São José, no famoso clássico SanxSão, vencido pelo São José, pelo placar de 3 a 0, dando o tricolor do bairro Julião Ramos, o seu quarto título da era profissional. Ainda quando me dirigia ao Estádio Glicério Marques, me bateu no peito uma saudade de doer, do meu tempo de repórter de campo, por pensar nos grandes embates entre Santana e São José, quando no gramado do Glicerão desfilavam craques como Perereca, Pedro Bala, Bronté, Guloso, Palito, Antonio Trevisani, Nego, Jucy, Haroldo Pinto, Lelé, Timbó, Alceu, Moacir Fernandes e tantos outros. Uns ainda estão por aqui, muitos já em outro plano. Durante as solenidades que antecederam o clássico decisivo, a saudade voltou com maior intensidade, quando lembrei do Jair e dos valorosos policiais da extinta Guarda Territorial. Eles sim, tinham respeito e amor à pátria. O porque desta afirmação? Simples. É que durante a execução do Hino Nacional Brasileiro e Hasteamento da Bandeira do Brasil, avistei, próximo ao muro do estádio, área dos fundos do Glicério Marques, 4 componentes da Polícia Militar, sendo 3 homens e 1 mulher, que conversavam e gesticulavam normalmente, não dando a menor importância aos acordes do hino pátrio e ao lábaro estrelado que subia mastro a cima. Recordei que no tempo da Guarda Territorial, quando a banda iniciava os primeiros acordes do hino brasileiro, os guardas ficavam em posição de sentido, prestando continência, em respeito aos dois grandes símbolos da República Federativa do Brasil, mesmo que eles estivessem encobertos pela arquibancada, longe dos olhos de seus superiores, não relaxavam, estavam lá, firmes, até o “ Pátria Amada Brasil”. Nessa viagem pelo passado, lembrei também do amigo de infância, o Jair( torcedor símbolo do Trem Desportivo Clube e de Piratas da Batucada), e apaixonado pelo Flamengo, que uma vez se deu mal enquanto o Hino Nacional era executado.
A molecada, das décadas de 50/60, sabendo que os guardas não abandonavam a posição de sentido, de jeito nenhum, sempre que o hino brasileiro começava a ser executado, aproveitava para furar, pulando o cercado ou passando por um buraco cavado por baixo das tábuas. Esse trabalho de cavar, era feito, à noite ou pela manhã, bem cedo e depois, camuflado com esmero, para o velho Damião ( um baixinho invocado), administrador do estádio, não perceber. Num jogo interestadual, hino sendo executado, o Hermenegildo Gomes de Lima, malandramente, mandou o Jair passar por primeiro no buraco, mas não foi por gentileza, foi para ele sondar o terreno, ver se a barra estava limpa . Sem desconfiar que estava sendo usado como isca, o Jair, alegre por ir na frente de todos, passou rápido a cabeça e o tronco pelo buraco. Coitado, justamente naquele ponto, perfilado, estava o Mamédio, filho da dona Gertrudes, um negão de quase 2 metros de altura e uns 100 quilos de musculatura, (do tipo chamado de armário), que ao perceber o penetra, descansou seu coturno 44, reforçado com sola de borracha de pneu “fenemê, no costado do Jair, que não pode mais ir, nem pra frente e nem pra trás, apesar de todo esforço dos moleques que aguardavam a vez de adentrar ao estádio sem pagar, que puxavam pelas pernas do colega e nada do Mamédio afrouxar . Terminado a execução do hino, o Mamédio se abaixou e, num gesto rápido, deu duas “ burrachadas” e aliviou a pressão que fazia na costa do furão. O Jair, com o lombo ardendo, deu uma recuada mais rápido que minhoca fugindo de predador e sumiu no rumo de sua casa, no bairro do Trem. Daquele dia em diante, o Jair ainda deu suas furadas nos dias de jogos, mas nunca mais quis ser o primeiro a varar em buraco feito sob o cercado do próprio da edilidade. Vá que o Mamédio ou o Henricão (outro armário), estivesse lá de plantão a espera de um furão.
Bons tempos aqueles.
4 Comentários para "Estripulias da turma do Sapiranga"
Milton, eu também furei no estádio, quando ainda era cercado de tábuas. Lembro de um dia, em que jogavam Ipiranga e S. José, em 1965, quando um moleque furou e o Henricão veio pra cima. Naquela altura, início de jogo, onde até os policiais aproveitavam pra dar uma olhadinha. Quando o moleque entrou, o GT correu atrás, tentando agarrá-lo. Eram dois espetáculos: um, no gramado, outro, atrás da arquibancada que dá pra Leopoldo. Parte da torcida virou, para, é claro torcer pelo moleque. Ao ver o GT em desabalada carreira, o moleque se meteu dentro de uma poça d’água e ficou ali, parado. quando o guarda resolveu avançar, o furão deu um drible de corpo, esquivando-se e ainda jogando lama no perseguidor. Foi um dia em que a caça… venceu o caçador.
Alcinéa foi a 1ª vez que eu acessei o seu blog e fiquei feliz e lisonjeado em ler o “causo” relatado por você sobre o meu pai Mamedio Amaral da Silva, que tanto serviço prestou ao nosso estado e a extinta guarda territorial. E peço desde já que quem mais souber de causos sobre ele que postem em seu blog. Abraços
kkkkkkkkk amei!!! muito engraçado! bom mesmo é saber que tudo era tão traquilo e que ladrão era só de galinha!!!
kkkkkkkkkk….Lembrei do tempo da “Violino” rapa tomei umas “Borrachadas” tbm, só de pensar ainda doi. Égua dos piquenos malvados…