Para meu mano Hélio, hoje contador de estrelas
Graça Penafort
É tarde
O rio entoa a canção crepuscular
ao ritmo do vento.
Meu mano
contador de letras
com um sorriso etéreo
pega o barco em direção ao Mar
plenitude de luz e liberdade.
Árvores ensaiam a coreografia dos lenços bancos
regidas pelo vento.
As flores se curvam para abraçar o mistério da vida:
por que agora e não (muito) depois?
Importa saber?
Pássaros do poente,
procurai suas companheiras!
É hora de cantar
pois a lua tão plena,
carinhosamente bela
já espalha seu sorriso brilhante
para acolher meu mano…
contador de estrelas.
Nota do blog – Hélio Penafort (foto), jornalista e escritor e excelente contador de histórias, se ainda estivesse neste planeta teria completado 73 anos de vida na sexta-feira, 21. Hélio partiu num carnavalesco mês de fevereiro, mas é imortal pela sua obra.
Revirando meus arquivos, encontrei um recorte de jornal de junho de 1988 – que a Alcilene guardou com tanto carinho – com este belíssimo texto do meu pai Alcy Araújo sobre o amigo Hélio Penafort:
“Quando conheci o Hélio Penafort os vícios da civilização ainda não haviam poluído a sua singela maneira de transitar nas ruas do meu mundo, deteriorado por uma sociedade sem anjos, onde os poetas lutam para que a poesia não se perca entre ruídos de máquinas, sons de buzina, assaltos e políticos.
Hélio Penafort fumava cigarros “gaivota” e o Álvaro da Cunha finos “king-size”. Tomava conhaque “São João da Barra”, quando o Manoel Couto ingeria “white house”. Cortava o cabelo no Mercado Central, enquanto o Ezequias Assis já freqüentava o salão de um cabeleireiro gay. Tudo nele era de uma pureza de pescador.
Eu estava defronte de um contador de estórias que fazia rir o Padre Jorge Basile, numa tarde, na redação-oficina da “Voz Católica”, jornalzinho da Prelazia de Macapá, onde tantos talentos vieram à tona, como o companheiro João Silva e outros mais.
Hélio Penafort, há trinta anos bem vividos, bem comidos e bem bebidos, conta estórias. Na imprensa, no rádio, na televisão, nos livros que publica. Suas reportagens são contos, com personagens dançando o cacicó ou o turé, cavalgando ondas na costa oceânica ou singrando rios em igarités. Nas suas estórias, a mata, a terra molhada, o rio, a cachoeira do Firmino ou de Grand Roche. Na paisagem, sempre o homem. O caboclo, o índio, o negro. E mulheres de pernas bonitas e corpo cheirando a marés, a mato no amanhecer, a ervas que Deus plantou no chão amapaense.
Hélio Penafort é uma antologia folclórica. Um estudo de antropologia. Um livro para sociólogos e freqüentadores reincidentes do Bar do Abreu.
Entre uma estória e uma lenda, entre um mito e uma carraspana, ele já foi radialista, telegrafista, fotógrafo, prefeito municipal, juiz de paz, chefe de gabinete do governador, diretor de rádio-jornalismo, produtor de textos e programas de rádio e TV e sabe Deus mais o que.
Alto, desengonçado, careca, vive sorrindo, como quem tem a certeza de que a vida pode ser maravilhosa, não importa as acontecências. Certa vez ele disse: “Estou pê da vida com o Paulo Oliveira”. E em lugar de franzir o cenho, caiu na gargalhada.
Não há civilização que enodoe a alma deste contador de estória, carregada de poesia e de humor transparente. Com trinta anos de jornalismo, ele continua um homem da fronteira, que traz nos olhos o brilho das águas que se fixaram em sua visão. Só sei do Hélio zangado, quando estão botando no esfriador de arroz do seu amado e onírico Oiapoque. Aí ele protesta, no mais castiço patuá. Eu disse castiço?”
14 Comentários para "Pra não esquecer o Hélio Penafort"
A primeira impressão que senti dessas informações do Penafort….
Um ser humano raro,uma sensibilidade abrangente e poeticamente original e pratico….uma filosofia para se viver…aqui e agora!…
Aos vou descobrindo sobre este original autor…
Obrigado Alcinea pelas suas informações sobre Penafort.
Alcinéa, manda as informações do jornal, com esse reportagem do seu pai para Hélio Pennafort. Quero citar na tese. Abraços
É com muito prazer que deixo meu recado, sou acadêmica da Universidade do Estado do Amapá-UEAP, achei muito interessante a história de Helio Penafort, ele deve ter sido uma pessoa maravilhosa em vida, são poucas pessoas que passam por esse mundo e marcam e concerteza ele é um dessas poucas.
Só uma pessoa simples, que nem o poeta,para falar tão bem do Hélio Penafort.Alguns anos passados conheci, aqui em Brasília ,um pescador que se chamava NI (não sei se nome ou apelido), e na conversa de pescador , eu falei que nasci e me criei no Amapá e em Macapá, então ele me falou que o pai era pescador e se chamava Hélio Penafort, e nossa conversa se prolongou por muitos dias.
Me emocionei.
Titio Alcy,
Quanta sensibilidade, quanta alma nas suas palavras!
Imagino ele e o Hélio bombando na redação do Jornal Celestial .
Êpa! Lenços bancos??? Engoli o R. Por favor, maninha, corrige.
Helio Penafort em tom de brincadeira me disse assim: “estou farto dessa políticagem no Amapá, nos tornamos Estado mas eu prefiria de continuassémos como território, ou fizemos parte da Europa através da Guiana”. Quem sabe a gente melhorasse de vida, salário e aposentadoria para todos … enfim, em troca o Brasil ficaria com 10 ou vinte por cento em dinheiro do que o franceses ganham com as visitas ao Louvre. Sugira ao Capi”
É … esse nosso querido Penafort. Pessoalmente achei uma brilhante ideia, o Amapá ia se enxer de baianos.
http://www.saitica.blogspot.com
ola acinea!!!! Muita coisa e dita e prometida em campanhas eleitorais, foi uma garantia de que as bolsas não ião de maneira nem nem uma ser cortadas ou redusidas, pelo contrario a promessa foi que tudo seria ampliado, e agora o senhor governador vai recadastrar ou melhor cortar quase que pela metade, MAIS UMA PROMESSA DE POLITICA, agora quero ver a desculpa de que tinha muita bolsa, se n sabia da realidade na epoca pq fez promessas??? que n pode comprir…
Tive o privilégio de ser quase vizinho do Hélio, morávamos os dois na Odilardo Silva, distantes alguns metros, e trabalhar com ele na Rádio Educadora. O texto do jornalista e poeta Alcy Araújo, eu me atreveria a dizer que tem mais da alma do poeta do que a do jornalista, como o Hélio bem merecia e continuará, por toda a eternidade, a merecer. Ao Hélio, pois, todas as homenagens, recheadas de saudades.
Trabalhei com o Hélio no Gabinete do Governador, pessoa muito querida, sempre alegre e contando suas estórias, que lá no céu ele esteja pertinho de nossa Senhora contando seus causos.
Este é o retrato perfeito de meu tio. Saudades.
Tenho esperança que tenhamos tantas pessoas boas assim. Pela competência do dois, é o tipo de vizinhos que todos gostariam de ter. Eu tive esse privilégio. Parabéns, Graça e Néa, pela homenagem.
Legal! Os dois estão no céu contando estórias um para o outro. Deve ser uma alegria só.
Lembro muito do Penafort bem humorado pedalando na cidade com sua bicicleta.
Na teoria e prática ele era doutor.