Hoje é Dia Internacional do Poeta

O poeta é um jornalista da alma humana. (Affonso Romano de Sant’Anna)

MINHA POESIA
Alcy Araújo

A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;
dos homens que ouviram o rumor do mundo
pela primeira vez.
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso.
Ídolos, crenças, tabus, por que?
Se os homens choram suor
na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
A minha poesia tem o ritmo gritante
da sinfonia dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a lingada que se desprendeu,
do desespero sem nome
da prostituta pobre e mãe,
do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios,
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão.
– Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia?
Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.
Cuidado, senhor, para o seu automóvel
não atropelar a menina!…

Poema para o amigo

Poema para o amigo
Alcinéa Cavalcante

É possível que eu te conte
uma história de príncipes e fadas
que escutarás com o olhar perdido na infância.
Ou que te conte uma piada tão engraçada
que rolaremos de tanto rir.
Nossas gargalhadas contagiarão os passantes
e de repente todo mundo estará rindo
sem nem saber por que.

É possível
que eu faça um café com tapioca e te chame
pois café, tapioca e amigo tem tudo a ver.

É possível que eu chegue na tua casa sem avisar
só pra te ofertar uma rosa que acabara de nascer
e te oferecer um Johrei.

É possível que eu te ofereça uma música no rádio
ou te mande, pelo Correio,
uma carta numa folha de papel almaço.

É possível que eu te ligue
no meio da noite
no meio do dia
a qualquer hora
– mesmo na mais imprópria –
só pra dizer:
Amigo, eu amo você.

(Alcinéa Cavalcante)

Barquinhos de papel

Que sonhos transportam
estes barquinhos de papel
soltos pela gurizada
nos riozinhos formados pela chuva?
Em que porto da vida eles ancoram?
Em que altura da vida-rio eles naufragam?
Na infância (já tão distante)
também soltei barquinhos de papel
e quando a chuva cessava
saía correndo de casa para resgatá-los.
Uns encalhavam em alguma pedra na margem da rua
outros caiam na boca-de-lobo
e de lá, por conta própria, seguiam viagem
levando meus sonhos por todos os rios e mares
e  perdiam a rota do retorno.

(Alcinéa)

A poesia na sessão solene do TRE do Amapá

tre2O Movimento Poesia na Boca da Noite participou da sessão solene de posse dos novos dirigentes do TRE-AP, desembargadores Carlos Tork (presidente) e Stella Ramos (vice-presidente).

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A intervenção poética – que aconteceu pela primeira vez  numa sessão solene de Tribunal no Amapá – foi um momento maravilhoso e de uma leveza tão lírica que encantou e emocionou todos.

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Com seu tradicional Pano da Poesia, os poetas declamaram os poemas Vem Comigo (de Alcinéa Cavalcante), Bênção (de Alcy Araújo), Desejo (de Flávia Wenceslau) e o universal Os Estatutos do Homem (de Thiago de Melo).

treAlém disso, ofertaram aos presentes origamis com trechos dos poemas declamados.

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(Fotos: Assessoria de Comunicação do TRE-AP)

De Maiakovski

Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas.
(Maiakovski)