Como se faz um samba de enredo

Alcy Araújo, Nonato Leal e Julião Ramos – Imagem montagem

Neste texto o poeta e cronista Alcy Araújo conta para a gente a história do samba que ele e o violonista e compositor Nonato Leal fizeram para a “A Grande Família”, na década de 1970 (salvo engano), homenageando o grande laguinense (ou laguinhense, como querem alguns) Julião Tomas Ramos, “líder do Marabaixo, em Macapá”, no dizer do Francisco Lino, compositor da Boêmios do Laguinho.

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Por Alcy Araújo –Jornal do Povo

Era natal e o bloco “Grande Família” pediu um samba, para o carnaval. Numa noite, eu falei para o Nonato Leal. Então ele disse “vamos fazer o samba, parceiro, numa homenagem ao mestre Julião”. Não deu outra coisa:

Julião, Julião, eu procuro e não te acho. Rei Negro do Marabaixo.

O refrão estava feito. O pior foi depois: ‘com a nostalgia no além mar, no bojo escuro dos navios negreiros, enchentes de batuques as noites de luar, para os balés suados dos terreiros’.

Aí eu e o Nonato, tivemos que consultar Nunes Pereira e, surgiu uma nova estrofe: “rei bânto, com Ladislau e tia Felícia, lutaste em favor da tradição e gritaste com ritmo de malícia, o teu protesto em forma de canção”.

Nós estávamos felizes, eu e o Nonato. Arrepiou. Juntos fizemos o final.

Soberano dos campos do Laguinho, teu canto de atávica emoção, com o negror imemorial da escravidão, já não se ouve na margem do caminho”.

E nos abraçamos, pulamos (tomamos uma) e só não levamos o samba para o Martinho, porque estávamos tão felizes como a gente tivesse recebido um presente de papai Noel.

Deus e o samba sabem disto. E um dia, eu e o Nonato, vamos contar esta estória para o Fernando Canto, o Epifânio Sousa, os Jorges (Herberth e Basile).

A Cristina Homobono Aires sabe que o samba passou na avenida e provocou lágrimas no poeta. Aí foi só tomar mais uma. – AL.

(Fonte: BlogDeRocha)

(Meu comentário: O Jornal do Povo, de propriedade do saudoso jornalista Haroldo Franco, foi o primeiro jornal diário do Amapá. Circulou na década de 1970.
Alcy Araújo e Nonato Leal compuseram sambas de enredo para várias escolas, dentre as quais Maracatu da Favela e Embaixada. Todos os sambas desta dupla obtiveram nota 10 dos jurados. Alcy faleceu em abril de 1989)

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