A história em chamas

A história em chamas
Ernâni Motta de Oliveira*

Moro no Rio de Janeiro há quase 40 anos e visitei o Museu Nacional por várias vezes. Voltava lá, a cada vez que um amigo de outro estado me visitava, fazendo questão de ficar por lá sem pressa, para que os meus amigos visitantes pudessem degustar bem o seu acervo. Ao mesmo tempo, eu revisitava a História!

E nessas quase quatro décadas, sempre ouvi que o Museu necessitava de recursos para ser restaurado, reformado, mantido! E nenhum, repito nenhum, governo se interessou em atender as suas premências, a fim de evitar o desastre que se viu ontem.

Os autoritários governos militares, o caótico governo Sarney, o tresloucado Collor de Mello e seu suplente Itamar Franco, o presunçoso e imperial Fernando Henrique, os arrogantes petistas e, por fim, esse doidivanas que aí está, ninguém deu a atenção que o Museu Nacional merecia. Por isso, emitir notinhas de lamentações é, no mínimo, escarnecer da História e do povo brasileiro.

As verborreicas desculpas da falta de recursos têm-se repetido, porém, o BNDES mostra-se, a cada governo, perdulário com o dinheiro público, ao colocá-lo nas mãos de empresários-políticos, governos estrangeiros e outros. Isso para ficar apenas em uma das instituições governamentais, por onde os nossos impostos somem, como em um ralo escancarado. Mas, há outros meios e métodos de nosso dinheiro sumir, enquanto a nossa História é destinada ao descaso, ao desprezo, à estupidez dos homens!

O Museu Nacional guardava um acervo de mais de 20 milhões de itens, em seus 200 anos de História, conforme publicado, hoje, em vários meios. E tudo virou cinza! Quanta vergonha, meu Deus!

Ah! Em minhas reiteradas visitas ao MN, uma das salas que me atraía era a que guardava as peças marajoaras, até por ser um nortista, que mesmo depois de 30 e muitos anos jamais tentou desenterrar o meu cordão umbilical daquela terra!

País que não tem História, por certo, será subserviente de outros povos, não tenho o menor pudor em fazer essa afirmação. Infelizmente, esse é o nosso destino!

*Ernâni Motta de Oliveira é jornalista

 

Não é apenas 2018. Vamos renovar a política?

Não é apenas 2018. Vamos renovar a política?
*Emilio Façanha

Em junho de 2013, o país foi surpreendido por uma série de protestos replicados em diversas cidades, reunindo multidões. Foram as maiores manifestações desde as “Diretas Já” na década de 1980 e do “Fora Collor” na década de 90. Os protestos das  “Manifestações de Junho” nasceram da reivindicação contra o aumento da tarifa do transporte público e se expandiram, na sua fase final, para bandeiras mais difusas e menos pontuais. Esse era o sentimento no seio da sociedade brasileira, o que estava no coração do povo, que lamentavelmente não foi traduzido nas urnas em 2014.
Depois da enorme demonstração de vitalidade política de junho de 2013, o país elege  o Congresso mais conservador  desde 1964, e com bancadas de interesses privados fortalecidas. Onde foi parar a energia libertária, democrática e igualitária que moveu parte das manifestações de junho de 2013 e das mobilizações que se seguiram?
As eleições presidenciais de 2014 foram marcadas pelo estelionato eleitoral das chapas que passaram para o segundo turno. Informações econômicas distorcidas além de um financiamento escuso, comandado por uma grande trama, descoberta posteriormente pelo Ministério Público Federal e desmascarada por operações da Polícia Federal.
Além disso, compareceram ao pleito,no primeiro turno 115.122.883 (80,61%) do eleitorado nacional. O número de abstenções correspondeu a 27.698.475 (19,39%). Os votos válidos somaram 104.023.802 (90,36%), brancos 4.420.489 (3,84%) e nulos 6.678.592 (5,80%) ou seja, mais de vinte cinco por cento dos eleitores não se sentiram representados. O sentimento de junho, provocou uma premissa de ‘já que ninguém me representa”, logo  “não vou votar’, mas como renovar aquilo que se abre mão de participar?
Falamos tanto de renovação da política, de uma nova forma de fazer política e corremos o risco de repetir os mesmos erros de 2014. Devemos ficar atentos. Não é de hoje que o debate se resume a nomes antagônicos, reduzindo a percepção para grupo “A “ou grupo “B” que podem ser faces de uma mesma moeda, deixando de lado, propostas e projetos reais que possam mudar a vida do povo.
 A sociedade se mobilizou em torno de pautas diversas e não abaixo de uma bandeira partidária ,de entidade de classe ou em defesa de interesses privados. As causas eram coletivas, e nas eleições de 2014  elegemos poucos  que dessem essa representatividade.
Renovar a política é participar , propôr e praticar. De maneira tímida,vamos recuperando a fé na política e formando movimentos para influir na agenda pública. Trata-se de uma geração globalizada,  que exercita a cidadania construindo movimentos independentes, não governamentais em defesa de bandeiras  específicas, com uma posição clara e bem definida a respeito de cada tema.  Ao invés de apenas gritar palavras de ordem, pôde-se construir novas formas de reabrir as portas da representação política tradicional e,através disso, melhorar muito a representatividade na política brasileira que é prioridade zero em qualquer reforma que mereça esse nome, não resta dúvida. Em um Congresso cuja renovação a cada quatro anos é a de prenomes (ou a adição de “Jr.”, “Neto” e “Bisneto” ao sobrenome), urgem mecanismos para eleger deputados que não sejam só herdeiros do poder.
Renovar não é apenas votar em um rosto jovem, pois existem os jovens herdeiros. Também não é apenas ecoar o grito de “reeleger ninguém” e perdermos os poucos bons quadros que temos  e que devem continuar para ajudar no processo de transformação. Renovar é o exercício cotidiano de influenciar na mudança , participar ,ser criativo e “hackear ” a política tradicional, assim como os hackers da informática, são capazes de entender um sistema, encontrar suas brechas e transformá-lo por dentro.
Quer renovar a política? Usemos como exemplo a tentativa frustrada dos protestos de 2013 e das urnas de 2014. Participe, influencie e vote para que em 2018 os anseios verdadeiros da população brasileira sejam entendidos e a frustração dê lugar a esperança da renovação.
*Coordenador Executivo da Rede Sustentabilidade-AP

Que equilíbrio é esse?

QUE EQUILÍBRIO É ESSE?…
Rui Guilherme

 Capa da revista alemã Der Spiegel estampa ilustração com dois bebês de fraldas, um bem louro, outro com traço puramente asiático, aos berros, cavalgando uma enorme bomba que oscila sobre mola instalada em um pedestal precário. Diz a legenda “- TODESSPIEL – Donald Trump und Kim Jong Um riskieren den Atomkrieg” (JOGO DA MORTE. Donald Trump e Kim Jong Um arriscam a guerra atômica).

Que planeta é este em que dois bilhões e meio de pessoas aceitam, impotentes, a ameaça de ver o globo ser desintegrado, caso um dos dois líderes, cheio de fogo e fúria, resolva apertar um certo botão, despejando Continue lendo

Quem é Randolfe Rodrigues na fila do pão?

Quem é Randolfe Rodrigues na fila do pão?
Por Francy Rodrigues*

Francy Rodrigues

A pergunta pode ter um tom pejorativo e até combina com o momento em que ninguém mais acredita na verdade. Não duvido que alguém, aqui, esteja pensando em um texto debochado. O Brasil tem uma certa “paixão” por vilões, vide as novelas onde os próprios autores já revelam em entrevistas que chegam a se surpreender quando percebem o público torcendo pelos vilões. É como se a maldade e a mentira fossem as queridas da vez. O momento é de click farm ou dos haters

É preciso ficar atento porque nem tudo que se escreve ou se diz é a mais pura verdade. E como saber o que realmente merece crédito?

Deveríamos praticar o ‘Fact Checking”, uma ferramenta que se tornou indispensável no jornalismo de primeiro mundo. Continue lendo

As redes sociais e os regimes autoritários

As redes sociais e os regimes autoritários
 Ivan Carlo*

Durante muito tempo se acreditou que as redes sociais seriam grandes instrumentos de democracia. Eles permitiriam o diálogo e o debate sobre assuntos importantes, assim como a pressão sobre governantes, evitando desvios.
Mas, cada vez mais, parece claro que as redes sociais são facilmente aproveitadas pelos regimes autoritários – e não só para disseminar suas ideias. As redes sociais são uma forma fácil de identificar opositores. Nos protestos na China em 1989 o governo teve grande dificuldade para identificar os que protestavam. Agora bastaria rastrear suas redes sociais, identificando quem critica o regime. E uma forma ainda mais fácil e simples de fazer isso é simplesmente estimulando as pessoas a fazerem denúncias. Um simples print e pronto: o regime tem mais um preso político. E na maioria das vezes, quem fez o print e denunciou foi um “amigo”.
*Ivan Carlo é jornalista, professor universitário, escritor, roteirista de quadrinhos