Chá das cinco – Neth Brazao

neth1Confissão
Neth Brazão

Olhar os céus e não pensar
No encontro de nossas mãos,
É sufocar a existência do amor.
As lembranças tiram suspiros
Que revelam teu perfume.
Um doce sabor flui na boca,
É o gosto extraído dos beijos teu.
O corpo arde em febre por ti,
Te chama, te implora vir,
Em romaria vou na noite viajando
Te amando, nos sonhos meus.

 

Chá das cinco – Maria Ester

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Até mais
Maria Ester

A chuva intensa
dorme a cidade de Macapá,
ele voltou para povoar
meus sonhos.

Sim, sou feita de sonhos,
matéria prima!
Talvez seja mais uma
talvez não…

A chuva dos meus olhos
se foi, finalmente
vou poder sair
num fino chuvisco

Mas no quarto
deixei a vontade monstro de ti
no meu : “Até mais!”

 

Chá das cinco – Ricardo Pontes

ricardoRetalhos
Ricardo Pontes

Falta um pedaço de mim,
penso que está dobrado nas voltas
do tempo. Marcando meus instantes,
que afeta meu destino.

Falta somente uma saudade,
ou a semelhança cadenciada pelo passado,
que chora arrancando pedaços de minha paixão
e vem suspirar estas canções.

Volto a dizer adeus às coisas mais belas,
esta ilusão procura o desabafo
das fantasias noturnas.
Em detalhes, falta a razão de amar.
Enquanto separam-se todos os retalhos.

Seminário Vozes da Amazônia no Amor

carlaFalar de amor está presente em nossas vidas deste as antigas gerações. Contamos e recontamos histórias por meio de diversas linguagens e a literatura é uma delas. As vozes de poetas do mundo todo ganham espaço em prosas e versos e disseminar as vozes dos poetas que moram na Amazônia é o objetivo do seminário “Vozes da Amazônia no Amor”, projeto da poeta Carla Nobre, selecionado pela Edital de Bolsas Literárias do Ministério da Cultura.

O circuito vai abranger a realização de 12 seminários, nos estados do Pará e Amapá, com a participação de escritores falando sobre suas obras que trazem como temática o amor. “Os seminários ocorrerão com diferentes escritores debatendo o tema com a sociedade. Para cada seminário serão convidados três autores, com experiências diferentes na circulação dos seus textos em diversas mídias”, conta a poeta Carla Nobre.

O projeto inclui ainda a produção de um DVD com depoimentos e trechos das obras dos escritores participantes, a ser distribuído gratuitamente para o locais onde o seminário passar, além de escolas e bibliotecas públicas.

No Amapá serão realizados seminários em Macapá, Santana, Mazagão, Amapá, Calçoene, Tartarugalzinho e Porto Grande. No estado do Pará, será realizado na cidade de Belém, onde a escritora firmou uma parceria do projeto com a XX Feira Pan Amazônica do livro, que este ano traz como tema: TERRA, PAÍS DE TODOS.

Carla explica que participação da Feira Pan-Amazônica possibilita uma diversidade de público, em um evento de grande porte. “Vamos dialogar, com alunos, pais, professores, interessados da área, fazendo uma troca de experiência de grande valor para todos os envolvidos”, destaca.

A programação do seminário na Feira começa nesta quinta-feira, 2, e segue até o sábado, 4, com quatro mesas de debate acerca do amor na literatura, e conta com a participação de escritores, do Amapá e do Pará.

(Texto: Ascom/Carla Nobre)

Por isto houve o silêncio

POR ISTO HOUVE SILÊNCIO
Alcy Araújo

alcy3O homem havia sido feito assim: bom, humilde, terno para viver dentro de um mundo cheio de revolta. E o mundo foi angustiando o homem, rasurando a sua ternura, arranhando a sua bondade. Por isto que o homem, vítima de muitos desencantos, começou a fazer o que não devia, a andar de cabelos ao vento, telefonar, freqüentar o cais.

A cada sofrimento, o homem fazia mais uma tolice e magoava o seu Anjo. E o Anjo, pobre Anjo aflito, chorava lágrimas imensas, que cresciam em seus olhos como pássaros de luz.

Daí então o Anjo não pôde ter mais um minuto de distração. Mal ele se distraía e lá ia o homem por aí, pés descalços, braços nus em direção ao seu desconhecido, pisando espinhos que nasciam das rosas vermelhas.

Mesmo assim o homem sabia que não estava só, como naquele começo de tarde em que teve vontade de comprar uma bicicleta azul e um cavaquinho. Sabia também que não estava só como naquele poema em que o amor morria por falta de azul e os pássaros brancos deixaram de nascer.

E por ser assim o homem falou ao Anjo que a felicidade existia. Apenas estava além das lágrimas contemporâneas, colocada depois da dor, na continuidade da espera, na renovação de todas as esperanças.

E falou isto quando as estrelas gotejavam silêncio dentro da noite. A música se enovelava no coração e o poema era uma oração nascente.

Então o Anjo pegou o homem pela mão e caminharam em direção ao mar. Foi quando Deus sorriu e achou que o que tinha feito era bom. E descansou, porque era chegado o sétimo dia e na distância Anjo e homem se integravam no azul do mar. Por isto houve um grande silêncio no coração das coisas…

(Poeta, jornalista e escritor, Alcy Araújo, meu pai, nasceu em 7 de janeiro de 1924 em Peixe Boi, no Pará, e faleceu em 22 de abril de 1989 em Macapá, no Amapá.)

A poesia de Alcy Araújo

MINHA POESIA
Alcy Araújo

A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;
dos homens que ouviram o rumor do mundo
pela primeira vez.
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso.
Ídolos, crenças, tabus, por que?
Se os homens choram suor
na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
A minha poesia tem o ritmo gritante
da sinfonia dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a lingada que se desprendeu,
do desespero sem nome
da prostituta pobre e mãe,
do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios,
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão.
– Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia?
Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.
Cuidado, senhor, para o seu automóvel
não atropelar a menina!…

Domingo tem poesia na praça em homenagem a Manoel Bispo

bispo

Neste domingo, o Pano da Poesia será estendido no palanque da Praça da Bandeira para homenagear um dos mais completos artistas amapaenses: Manoel Bispo.
Poetas, escritores, artistas plásticos, amigos, ex-alunos, fãs… todos estão convidados. Manoel Bispo merece todo carinho, afeto e homenagens.
Vai ter declamação, varal de poesias e brindes poéticos.

IMPERATIVO
Manoel Bispo Corrêa

Hora de atirar
pedras no rio
e esconder as mãos.
Hora de mergulhar
no vento frio
e driblar a solidão.
Hora de nem pensar
e apenasmente saber
o que vale sonhar.
Hora de retirar
a mordaça das palavras
e deixar que o espelho
reflita a prenhez da poesia.

(Do livro “Intátil” – Macapá, 2002)

Um poema de Patrícia Cattani

patriciacattaniLabirinto de esconde esconde
Patrícia Cattani

Labirinto de esconde esconde
tudo perto e tão distante
Desconstruindo a cerca
na eloquência dos pensamentos
na espera da hora que não chega
e a lenha  e a lenha….que venha
no silêncio da madrugada
na letra, na palavra
na inquietação calada
que transformou o dia em tímidos sorrisos
das lembranças dos instantes sem juízo.