Um poema de Álvaro da Cunha

ANÚNCIO
Álvaro da Cunha

Eu estou sonhando com um regaço de virgem,
onde eu ponha a cabeça
e adormeça
quando este mundo se despedaçar.
Será que este quebranto no meu corpo
não é cansaço,
mas um pretexto para repousar?

– A vida é triste, o mundo é triste,
o amor é triste.
Quem me censura o ato de sonhar?

(Ainda posso encontrar o meu desejo
sem arredar um pé deste lugar)

E vou escrever anúncios no jornal:

“Poeta, em Macapá,
está precisando de um regaço de virgem
onde ponha a cabeça
e adormeça
quando este mundo se despedaçar”.
(Extraído da Antologia Modernos Poetas do Amapá – Macapá-AP, 1960)

Um poema de Leonardo Braga

leonardo2aTARDE
Leonardo Braga

Sinto-me triste por ter perdido
Aquele poema que te fiz apaixonado
Nele descrevi tudo o que senti entristecido
E um pouco mais por estar sufocado

Feriu a dor aberta que tu me deixastes
De repente assim por ter ido embora
Pois a mim você foi tudo e foi parte
De minha alma que hoje sangra e chora

Propaganda velha que não convence
São teus dizeres desapaixonados
Ainda decifro a tua cálida mente
O teu sorriso ao pensar “te quero, amado!”

Aceite, por favor, essas flores
Antes plantadas em mim
E colha de ti essas dores
Deixe-as em qualquer jardim

Preserve-me em nossas idealizações Confidencias
Há tanto de você naquela avenida, canções
Em busca de ti, em busca de paz.

Natal – Uma crônica de Alcy Araújo

ESTRELA NO CÉU
Alcy Araújo Cavalcante (1924-1989)

Olho para o Oriente e vejo, além da minha compreensão, uma estrela no céu. Não é a minha estrela da guarda. É uma estrela diferente, no brilho e na cor. Querem me convencer que é um cometa. Não acredito. Descubro que tem vida e transporta uma mensagem de fé, de esperança e de concórdia.

Posso ouvir sua voz no silêncio da noite e sinto seu perfume e a sua música. Apesar de ser assim não fico assombrado. Não tenho nenhum medo dos meus medos cotidianos. Sinto que a estrela fala comigo e diz: “Segue a minha luz”  e estendo os braços em direção à cidade de Belém. Continue lendo

Poemas de Joãozinho Gomes na Revista da ABL

Poeta Joãozinho Gomes é publicado na Revista Brasileira da Academia Brasileira de Letras

Por Yurgel Caldas*

A grande novidade nas Letras amapaenses é a publicação de cinco poemas de Joãozinho Gomes, na Revista Brasileira – publicação trimestral da Academia Brasileira de Letras – editada por Marco Luchesi, quem faz diretamente o convite a que Joãozinho revele naquela revista seus textos. Publicação importante para a confirmação de talentos literários, mas, sobretudo pelo caráter de lançamento de novos escritores, em gêneros como ensaio, narrativa (ficção) e poesia, esta edição da Revista Brasileira, por exemplo – fundada em 14 de julho de 1855 e ainda na ativa, coisa raríssima entre revistas literárias –, apresenta ao leitor nomes consagrados como os de Celso Lafer, Ana Maria Machado, Alfredo Bosi e Evaldo Cabral de Mello. Na seção de poesia, Joãozinho Gomes aparece editado ao lado de Age de Carvalho, Antonio Fabiano e Marcelo Benini. No caso de Joãozinho Gomes, trata-se de sua primeira publicação em revista de circulação nacional, e logo uma secular e aristocrática, que potencializa a arte do poeta de A Flecha Passa (seu primeiro livro de poemas, que saiu em 2014) e o apresenta solenemente para o grande público.  Continue lendo

Chá da tarde

Perguntas a Papai Noel
Arthur Nery Marinho

Quando em criança o sapato
que tinha pus à janela
lhe esperando. Noutro dia
nem sapato e nem chinela.

Quando em rapaz lhe pedi
para me dar meu amor.
Aqui estou sozinho e triste
fazendo versos de dor.

Que lhe fiz, que não me olha?
que lhe fiz, que não me escuta?
Responda, Papai Noel!
Papai Noel filho da puta!
(Do livro “Sermão de Mágoas”, 1993 – Jornalista, poeta e músico, Arthur Nery Marinho nasceu em 27/09/1923 em Chaves-PA. Veio para o Amapá em 1946 e aqui faleceu em 24/03/2003)

O novo livro de Leão Moyses Zagury

8018_ggA poesia amapaense carrega uma singularidade: seus artífices têm mais que lápis e papel para escrevê-la, eles escrevem-na com os raios do Sol equatorial e com a chuva de prata que a Lua provoca no barro seco dos lagos e no leito do Rio Amazonas, que portentoso mata a sede e banha os poetas. E assim, eles, os poetas, marcam seus poemas com ações políticas, desconforto com o preestabelecido, sem perder a ternura, a sensibilidade e o arrojo da pororoca. Leão Moyses Zagury, um coração amapaense radicado no Rio de Janeiro, é um desses poetas que, ao perceber a força transformadora de um poema e vagando nas nuvens que se unem ao rio-mar, fez uso dos instrumentos que lhe ocupavam as mãos para exprimir a força de sua alma sonhadora com um mundo justo, alegre e agregador. O poeta busca novidade para um despertar contra a impunidade que “faz vítimas” e “derrama lágrimas inocentes”. É aí que se pode ver seu descontentamento com a política dos homens que se esquece dos menos aquinhoados. E lembra que os empréstimos ao homem concedidos hão de ser saldados, pois que somos “criaturas em crescimento espiritual”. Ao receber o convite de Leão para escrever o texto da contracapa de seu livro, senti um orgulho desmesurado varrer-me o coração, mas, ao mesmo tempo, senti o peso da responsabilidade. De qualquer sorte, o importante é a poesia de Leão, que posso afirmar ter em sua verve a compaixão dos espíritos iluminados e dignos da atenção de seus semelhantes. O livro de Leão vai além de um conjunto de poesias – é a dor, a alegria, a homenagem e a alma descritas em rimas construídas com sensibilidade e amor.
Ernâni Motta de Oliveira – Jornalista e amapaense

O livro está a venda na Livraria Asabeça aqui