Vem comigo!

Vem comigo
Alcinéa Cavalcante

Vem comigo!
Vamos sair por aí plantando alegrias.
Traz um pincel, eu levo a tinta
e pintaremos de verde- esperança
todas as venezianas daquela ruazinha
por onde tantas vezes
passeamos de corações dados.

Vem comigo!
Vamos plantar dálias, rosas e poesias na velha praça
onde dividíamos o algodão doce no arraial do padroeiro.
Naquele tempo a infância era tão doce
que a gente até tinha medo de pecar.
(lembras?).

Vem comigo!
Vamos plantar papoulas vermelhas e amarelas
nos canteiros da ladeira
para enfeitar a cidade e alegrar os passantes.

Depois
– cansados e felizes –
tomaremos um sorvete.
Eu te darei um beijo sabor tucumã.
Tu retribuirás com um beijo sabor açai.

E o anjo que nos acompanha
ficará cheinho de ciúme
e disfarçando dará de asas
(tu sabes, poeta, que os anjos nunca dão de ombros),
mas Deus sorrirá
e acenderá estrelas na nossa estrada.
Por isso eu insisto: vem comigo vem!

 

Vovozinhas que curam

Quem nunca conheceu uma velhinha ou teve uma avó ou vizinha de “mãos mágicas” que rezava em cima da rasgadura, “puxava” barriga de grávida e dava jeito em pé desmentido?

Na minha rua tinha uma vizinha chamada Otília (foto ao lado). Era um doce de pessoa. Com suas mãos mágicas curava rasgadura nas costas.
Era assim: encostava um pedacinho de pano branco na costa da pessoa e com  uma linha branca enfiada numa agulha fazia uma costura imaginária e ia rezando. Não lembro a oração que ela fazia. Mas que dava certo, ah isso dava!
Deu certo comigo.

Vem comigo

Vem comigo

Vem comigo!
Vamos sair por aí plantando alegrias.
Traz um pincel, eu levo a tinta
e pintaremos de verde-esperança
todas as venezianas daquela ruazinha
por onde tantas vezes
passeamos de corações dados.

Vem comigo!
Vamos plantar dálias, rosas e poesia na velha praça
onde dividíamos o algodão doce no arraial do padroeiro.
Naquele tempo a infância era tão doce
e a gente até tinha medo de pecar. (Lembras?)

Vem comigo!
Vamos plantar papoulas vermelhas e amarelas
nos canteiros da ladeira
para enfeitar a cidade e alegrar os passantes.

Depois
– cansados, mas felizes –
tomaremos um sorvete.
Eu te darei um beijo sabor tucumã
tu retribuirás com um beijo sabor açaí.

E o Anjo que nos acompanha (nem te conto)
ficará cheinho de ciúme
e disfarçando dará de asas
(tu sabes que os anjos nunca dão de ombros),
mas Deus sorrirá
e acenderá estrelas na nossa estrada.
Por isso eu insisto: vem comigo, vem.

(Alcinéa Cavalcante)

Paisagem Antiga

Paisagem Antiga

Quero de volta a paisagem antiga da minha rua
com suas casinhas brancas cobertas de palha
gamela no jirau
fogão de barro na cozinha
e passarinhos no quintal.

Quero de volta aquela paisagem antiga
com a casa avarandada do Mané Pedro
e a casa sem pátio da Maria Banha.
Os meninos de pés descalços
jogando bola na rua sem asfalto
e as meninas de sapatinho branco
brincando de roda.

Quero de volta a paisagem antiga da minha rua
com minha casa de venezianas cor de rosa,
minha mãe no alpendre
bordando flores nos lençóis
e minha avó rezando o terço.

Quero de volta a paisagem antiga da minha rua
só pra sonhar de novo
os sonhos que sonhei na infância
quando o mundo era feito só de amor
e todos sabiam viver como irmãos.

(Alcinéa Cavalcante)

Por ti

Por ti

Gosto de ser assim
: livre.
Sem relógio
sem telefone
sem hora de partir
ou de voltar.

Gosto de ser assim
: livre
De não dizer
estou aqui
vou ali
irei acolá.

Gosto de ser assim
: livre
Sem hora marcada
pra dormir
acordar
comer
passear
cantar
trabalhar.

Mas
se me quiseres
compro um relógio
e um celular
organizo o tempo
e até aprendo a cozinhar.

(Alcinéa Cavalcante)

#TBT dos meus 15 anos

No dia dos meus 15 anos. Naquele tempo a gente colocava os presentes na cama para “bater o retrato” com eles. Lembro bem desse meu vestido, era azul, feito por Idália Lobato. As jóias foram os presentes dos meus pais. Meu pai escreveu uma carta, que guardo até hoje, com orientações, conselhos etc. As jóias ele dizia que eram apenas uma lembrança, o presente era a carta. No cartão, ele escreveu: “Meu presente é a carta que acompanha esta lembrança. Perca o ouro da segunda, mas não perca as palavras da primeira”. Parte do ouro eu perdi faz tempo, mas as palavras, ah, as palavras não perdi nenhuma.

Amanhã completa 50 anos que essa foi feita.

Chuva, barquinho de papel, lembranças

Nesta tarde chuvosa vejo, pela minha janela, um garoto só de calção soltando um barquinho de papel.
Sei que em muitos pontos da cidade, neste momento, outras crianças fazem o mesmo.
E pergunto aos meus botões:
Que sonhos transportam estes barquinhos de papel soltos pela gurizada nos riozinhos formados pela chuva?
Em que porto da vida eles ancoram?
Em que altura da vida-rio eles naufragam?

Na infância – já tão distante – soltei muitos barcos de papel que me levaram aos lugares mais longínquos e mais belos na minha imaginação de criança.
E quando a chuva cessava, de volta à realidade, eu saía quase correndo de casa para resgatar o barquinho que às vezes ficava encalhado em alguma pedra na margem da rua. Outras vezes ele caía na boca de lobo, que ficava na esquina da Almirante Barroso com a Leopoldo Machado, e de lá, por conta própria, seguia viagem por todos os rios e mares do mundo e perdia a rota do retorno.

#TBT

Na foto e o mestre De Rose.
Nessa época eu fazia Yoga. De Rose era presidente da União Nacional de Yoga.
Não lembro o ano da foto. Mas faz tempo!