Bibelô
Já viu, meu amigo,
uma bailarina que não baile?
Essa aí
fica o tempo todo
na minha estante
brincando de estátua.
(Alcinéa)
Bibelô
Já viu, meu amigo,
uma bailarina que não baile?
Essa aí
fica o tempo todo
na minha estante
brincando de estátua.
(Alcinéa)
Carta
Alcinéa Cavalcante
Se eu tivesse o teu endereço
eu te escreveria uma carta
numa folha de papel almaço.
Minha caneta verde
deslizaria no papel
te colocando a par das novidades daqui
e te contando que quando chove
sinto uma saudade danada de ti.
Não sei se sabes
mas aqui
continua chovendo todos os dias.
Ele
Alcinéa Cavalcante
Ele veio sem pressa
Caminhando entre estrelas
parando aqui e acolá
para orvalhar uma ou outra roseira.
Quando chegou
tinha os cabelos molhados de luar
e no bolso esquerdo
um raio de sol
que depositou nas minhas mãos
com tanta ternura
como quem deposita um beijo.
Por isso
acordei
com este brilho no olhar.
Varal
Com as cordas do teu violão
fiz um varal de poesias
e pendurei nas estrelas.
E a noite
encheu-se de música e versos.
(Alcinéa Cavalcante)
Caneta dourada
Alcinéa Cavalcante
A caneta dourada
que tu me deste
naquela tarde
feita de esperanças
guardei-a no baú
onde coleciono
tuas lembranças.
É com ela que escreverei
o poema do teu regresso.
Não sei quando
não sei onde
nem sei se
Poema do Retorno
Alcinéa Cavalcante
Voltaste
driblando nuvens e pássaros
e trazendo nas mãos
estrelas azuis que me encantam.
Durante a tua ausência
tentei plantar a paz,
clamei pelo direito de ser livre
e colhi dores e desenganos
que abriram feridas profundas
e machucaram o meu verso,
inaugurando revoltas e frustrações.
Voltaste
trazendo no olhar marrom
esperanças que arranham
as minhas desesperanças.
Mais uma vez,
talvez inutilmente,
uniremos nossos gritos
pedindo liberdade para viver
amar
cantar
e sorrir.
Serão protestos aos crimes
cometidos contra a liberdade
os nossos gritos
(ainda que não encontrem eco).
Mas, se te faz bem,
posso dizer
que não é proibido
sonhar que todos os caminhos se abrirão
e a liberdade será uma realidade palpável.
Tirando o disfarce
De madrugada
eu tiro o meu disfarce
de jornalista
e brinco
de escrever versos.
(Alcinéa Cavalcante)
Prazer, sou Maria
Alcinéa Cavalcante
Dá licença, seu moço,
que eu agora vou me apresentar:
Sou Maria,
mulher guerreira,
não puxo briga
mas não corro de bicho-papão
nem tenho medo de coroné metido em fardão.
Sou Maria,
mulher simples e humilde
mas tenho alguns tesouros.
Não sou dona do mar
mas conheço os segredos da floresta
e marimbondo de fogo não vai me ferrar.
Sou Maria,
mulher poeta e jornalista.
De noite escrevo versos,
de dia escrevo notícia.
Minha caneta é liberdade
a consciência o meu guia.
Sou doce, mas valente,
nem tente me calar
pois não tenho medo da sua gente.
Me ajoelho só pra Deus.
Santo e poeta eu olho com o coração
e político da tua laia
eu olho de cima pro chão.
Pra quem é do bem
eu digo: “Vem comigo, amor”
Pra quem é do mal
eu só sei dizer “Xô”.
Encerro minha apresentação
te fazendo um pedido:
Fica lá no teu quadrado
deixa em paz o povo tucuju
ou eu viro Maria mal-educada
e te mando…
Paisagem Antiga
Alcinéa Cavalcante
Quero de volta
a paisagem antiga da minha rua
com suas casinhas brancas
cobertas de palha
gamela no jirau
fogão de barro na cozinha
e passarinhos no quintal.
Quero de volta aquela paisagem antiga
com a casa avarandada do Mané Pedro
e a casa sem pátio da Maria Banha.
Os meninos de pés descalços
jogando bola na rua sem asfalto
e as meninas de sapatinho branco
brincando de roda.
Quero de volta
a paisagem antiga da minha rua
com minha casa de venezianas cor-de-rosa,
minha mãe no alpendre
bordando flores nos lençóis
e minha avó rezando o terço.
Quero de volta
a paisagem antiga da minha rua
para sonhar de novo
os sonhos que sonhei na infância
quando parecia que o mundo
era feito só de alegrias e amor
e todos sabiam viver como irmãos.