O velho trapiche de muitas histórias, causos e lendas

O VELHO TRAPICHE

Ainda lembro do velho Trapiche Eliezer Levy, de muitas histórias, causos e lendas.

Nele atracavam embarcações de bandeiras de vários países e os gringos aproveitavam para tomar um sorvete, servido em taça de inox pelo famoso garçom Inácio, no Macapá Hotel.

Era desse trapiche que saíam os navios com destino a Belém. No final das férias iam lotados de universitários que voltavam para as faculdades (não havia ensino superior no Amapá). Nas tardes de domingo o velho trapiche era a passarela da juventude. Depois da sessão da tarde nos cines João XXIII e Macapá os jovens iam como em procissão passear ali. Um passeio obrigatório.

À noite era comum ver na ponta do trapiche um pescador solitário. Um pescador de peixes, ou de estrelas, ou de poesia ou de raios da lua.

Lembro da tão cantada em verso e prosa “Pedra do Guindaste” de muitas lendas. Uns diziam que meia noite a pedra transformava-se num navio de ouro maciço enfeitado com diamantes e esmeraldas. Outros contavam que era uma princesa encantada. E tinha gente que jurava ter visto “com esses olhos que a terra há de comer” a pedra se transformar em princesa quando o relógio marcava meia-noite em ponto.

Um dia colocaram uma imagem de São José, padroeiro de Macapá, em cima da pedra. Pouco tempo depois um navio chocou-se com ela e praticamente nada restou. No lugar foi construído um pedestal de concreto para São José, colocado de costas para a cidade, mas abençoando todos que aqui chegam pelo majestoso rio Amazonas.

As velhinhas e vovôs de mãos santas e mágicas

Há algum tempo em suas andanças atrás de notícias, o meu amigo jornalista Sílvio Souza  foi bater no bairro Novo Horizonte e lá viu este anúncio na frente de uma casa. Fotografou e mandou pra mim.
Revendo hoje a foto, lembrei de uma vizinha chamada Otília que curava rasgadura nas costas. Com uma linha branca enfiada numa agulha, ela fingia que estava costurando enquanto fazia uma oração. Terminada a reza, colava um emplastro Sabiá (lembram?)  na costa rasgada e mandava que só fosse tirado quando começasse a coçar. E dava certo, viu?
No meu bairro da Favela (hoje chamado de Centro) moravam, além de Otília, outras pessoas de mãos santas, das quais lembro agora Zeca Caiana, “Tio” Congó, Antônia Mangabeira, Seu Zuza, Dona Maria Sabiá, Antônia Duarte, Antonio Lopes e  “Tia” Maria Grande.

(Falar em seu Zuza, lembrei que minha irmã Alcilene quando era criancinha queria ter como bichinho de estimação um filhotinho de onça. Seu Zuza prometeu e… Outro dia eu conto essa história)

Quem nunca conheceu uma velhinha ou teve um avô ou vizinho de “mãos mágicas” que rezava em cima da rasgadura, “puxava” barriga de grávida e dava jeito em pé desmentido? Se você teve, conte aqui no blog na caixa de comentários ou mande para o email [email protected]
Vamos contar a história dessas pessoas de mãos santas.

Aos cem anos, faleceu hoje a doce e sábia Diva Façanha

Diva, ladeada pelos filhos Celso, José, Maria e Luís

Aos cem anos de idade, Dona Diva Façanha faleceu na tarde de hoje. A triste notícia me chegou pelo whatApp. Como? Como a doce Diva partiu assim e eu nem pude ir abraçá-la? Veio um choro silencioso. Não. Não devo chorar. Devo é agradecer a Deus pelo privilégio que tive de tantas vezes receber seu carinho, seu abraço, sua ternura e ouvir suas histórias. Enxuguei as lágrimas e abri um sorriso, lembrando da sua doçura. Dona Diva era linda, carinhosa, sábia e tinha um sorriso que transmitia ternura, segurança e amor.
Nossas famílias se conheceram ainda na juventude em Belém. Ela nasceu em Belém, exatamente no dia do aniversário de Macapá. Veio para o Amapá em 1939, acompanhando o marido Lourenço Borges Façanha, que era cabo do Exército e veio servir em Clevelândia, no Oiapoque.
Em 1941 transferiu-se para Macapá, onde o marido veio trabalhar no comércio. Alguns anos depois, meu pai, o poeta Alcy Araújo, veio para Macapá para integrar a equipe do governo do então Território Federal do Amapá. E adivinhem onde ele morou logo que aqui chegou? Exatamente na casa dos seus amigos de juventude – o casal Diva e Lourenço. Era um casarão perto da rua da praia. Diva chamava para o meu pai de Nenê, pois era assim que minha avó e alguns amigos do Telégrafo e da Pedreira o chamavam. Não sei se meu pai mudou-se da casa de Diva só quando casou ou antes.
Mas sei que ele e Lourenço gostavam demais de acari, um peixe delicioso. Então, de vez em quando, para se divertirem e alegrá-los, Diva e minha mãe, a professora Delzuite Cavalcante, iam pegar o tal peixe na beira do rio (lembre-se, a casa de Diva era pertinho do rio) e faziam aquele delicioso almoço animado com muita conversa e risos. Eu falei “pegar” o peixe? Sim. Não era pescar, me explicou um dia o Zé. “A fartura era tanta que os acaris ficavam presos na beira do rio após a enchente”.
Nós, filhos de Alcy/Delzuite e Lourenço/Diva, somos amigos e costumamos dizer, com orgulho, que essa amizade vem de longe, vem de nossos pais.

Eu adorava conversar com Dona Diva, principalmente depois que perdi meus pais. Gostava de ouvir suas histórias sobre Macapá, sobre o antigos moradores. Uma vez ela me contou que Mãe Luzia – que fazia os seus partos – não gostava de usar sabonete nos recém-nascidos. Não lembro agora se foi quando o Zé ou o Luís nasceu, aparado por Mãe Luzia, Diva disse a ela: “Comadre, o sabonete para dar banho no menino está aí em cima da penteadeira”. Ao que ela respondeu: “Pra que isso, Diva? O menino não tá sujo, não veio do mato”. E parturiente e parteira caíram na gargalhada.

Dona Diva foi uma das primeiras mulheres – ou talvez a primeira – a exercer altos cargos na administração pública do Território do Amapá, dentre os quais o de Assessora e Chefe do Gabinete do Governador e Tesoureira da Senava.

Ela está eternizada em nossos corações, na história do Amapá e na paisagem da cidade.

Quando ela fez cem anos fui abraçá-la em nome da família Cavalcante

Meu último encontro com Diva foi dia 4 de fevereiro deste ano quando ela completou cem anos. Foi uma festa bonita feita pela família em sua casa.
Diva estava feliz, deslumbrante, cercada de muito afeto pela família e amigos. Eu sei da finitude da vida, mas não sei por que nunca me passou pela cabeça que Diva morreria um dia. Daí o impacto que senti quando recebi a triste notícia.
E neste momento – que cumprimos isolamento social por causa da pandemia – não posso abraçar meus amigos, filhos da Diva. Mas meu coração, queridos Zé, Luís, Celso e Maria, abraça o coração de vocês.

E já imagino, lá no céu, Lourenço, Diva, Alcy e Delzuite se reencontrando e lembrando dos acaris, hein.

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Na página do Memorial Amapá tem uma biografia de dona Diva Façanha escrita pelo historiador Wanke do Carmo. Para ler clique aqui

 

Semana começa menos musical com a partida de Moraes Moreira

A semana começou menos musical com a triste notícia da morte do compositor, poeta e cantor Moraes Moreira – um dos principais nomes da música popular brasileira.
Ele faleceu hoje aos 72 anos, em seu apartamento no Rio de Janeiro, no bairro da Gávea, onde morava sozinho. Seu corpo foi encontrado por volta das 7h por sua diarista.
A família não divulgou o local do velório para evitar aglomeração.
Nos últimos dias, cumprindo quarentena, Moraes Moreira produziu bastante, tanto músicas como poemas. “Nesta quarentena estou tocando e escrevendo sem parar”, disse ele nas redes sociais. “Uma poesia sempre traz um alento nesses momentos”, disse referindo-se aos momentos difíceis pelos quais a humanidade vem passando por conta do coronavírus.

Nascido Antônio Carlos Moraes Pires, em 1947, na cidade de Ituaçu (BA) Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos na sua cidade.
Quando mudou-se para Salvador para dar continuidade aos estudos conheceu  Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão e com eles formou o conjunto Novos Baianos, onde ficou de 1969 a 1975. Juntamente com Luiz Galvão, foi compositor de quase todas as canções do Grupo.O álbum Acabou Chorare, lançado pela banda em 1972, foi considerado pela revista Roling Stone o melhor álbum da história da música popular brasileira.

Moraes Moreira é um dos mais versáteis compositores do Brasil, misturando ritmos como frevo, baião, rock, samba, choro e até mesmo música erudita.

Eu, fã de carteirinha dele, fico triste com sua partida. Tive o privilégio de assistir alguns shows dele e da banda Novos Baianos. O primeiro foi no inicio dos anos 1970 no teatro Concha Verde, no morro da Urca, no Rio de Janeiro. E o primeiro show a gente nunca esquece.

Política – Retrato em preto e branco

1982 – Reunião política na casa do professor Lucimar Del Castillo.
Da esquerda pra direita: Engenheiro e ex-deputado federal Charles Clark Platon, professor Reinaldo Maurício Gouber Damasceno, economista Nestlerino dos Santos Valente e professor Lucimar Amoras Del Castillo.
(Foto: Arquivo pessoal de Nestrelino Valente)

Morre no RJ o músico Tunai

O cantor, compositor e violonista Tunai morreu na manhã de hoje (26) no Rio de Janeiro, na casa em que morava no bairro de Santa Teresa. Segundo nota publicada em suas redes sociais, o artista de 69 anos não estava doente e morreu dormindo.
Sua composição mais famosa foi Frisson, lançada em 1984.

Tunai era irmão de João Bosco.

Além da carreira solo, que compreende 12 discos,Tunai foi gravado por artistas como Mílton Nascimento, Ney Matogrosso, Gal Costa, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Fagner, Emílio Santiago, Zizi Possi, Beto Guedes, Joanna, Sandra de Sá, Sérgio Mendes, Belchior, Ivete Sangalo, Roupa Nova, Jane Duboc e Simone.

FRISSON
Meu coração pulou
Você chegou, me deixou assim
Com os pés fora do chão
Pensei: que bom…
Parece, enfim acordei
Pra renovar meu ser
Faltava mesmo chegar você
Assim sem me avisar
Pra acelerar…
Um coração que já bate pouco
De tanto procurar por outro
Anda cansado
Mas quando você está do lado
Fica louco de satisfação
Solidão nunca mais

Você caiu do céu
Um anjo lindo que apareceu
Com olhos de cristal
Me enfeitiçou
Eu nunca vi nada igual
De repente…
Você surgiu na minha frente
Luz cintilante
Estrela em forma de gente
Invasora do planeta amor
Você me conquistou

Me olha, me toca, me faz sentir
Que é hora, agora, da gente ir

Glicerão 70 anos – Guardo com muito carinho

Em 1975, ano do jubileu de prata do estádio Glicério de Souza Marques, o Glicerão, eu ganhei da Federação Amapaense de Desportos-FAD (hoje Federação Amapaense de Futebol) esta linda medalha de Honra ao Mérito. Foi o reconhecimento do meu trabalho como repórter esportiva, numa época em que os homens dominavam o jornalismo esportivo.
Guardo até hoje, com todo cuidado e carinho, essa medalha.
Era comemorado também os 30 anos de fundação da Federação.
1975 foi um dos anos em que o Amapá exportou mais jogadores para outros estados e a imprensa paraense referia-se ao então Território Federal assim: Amapá, um celeiro de craques. O presidente da Federação era Manuel Antônio Dias e o vice era Pedro Assis de Azevedo.

E olha aí minha credencial de 1976 (a de 1975 não tenho mais):
Cobri muitos jogos no Glicerão, que amanhã completa 70 anos. Entrevistei os maiores craques do futebol amapaense.
Como repórter esportiva cobri também jogos do campeonato nacional, em outros estados, e entrevistei vários jogadores da seleção brasileira tricampeã do mundo.