Lembranças da Velha Boa

Lembranças da Velha Boa
João Silva*

Como esquecer a RDM do meu tempo, a Velha Boa?!

Logo, a emissora oficial era o som da notícia capaz de buscar um caboclo, um ribeirinho onde ele estivesse na imensidão da floresta amazônica.
Idealizada por Janary Nunes, a RDM foi mais que mera emissora oficial, foi a pioneira, a escola do rádio, o marco da comunicação no Amapá!
Em som cristalino, a Velha Boa dava seu recado para diminuir a distância e o isolamento, para levar a notícia, a música, e o entretenimento ao povo da cidade e aos nossos irmãos insulados pela floresta e o grande rio!
No interior, todo caboclo se ligava nas ondas da RDM, toda caboclo tinha um rádio, e reunia a família na frente do rádio como se estivesse assistindo televisão só pra ouvir as notícias, as mensagens transmitidas pela emissora oficial, seu velho e infalível correio de voz!
Em Macapá, duvido que uma casa não tivesse um rádio ligado na RDM quando não havia televisão, emissoras FM e redes sociais; o macapaense viajava nas emoções da Velha Boa, ficava colado na rádio novela, no Grande Jornal Falado E-2, nos programas de auditório, no Carnet Social, nas transmissões das paradas cívicas e dos jogos de futebol!
Todo aspirante ao rádio sonhava em fazer rádio na Velha Boa, e eu passei pela RDM algumas vezes: a primeira pelas mão de Benedito Andrade e Chico Salles de Lima; cruzei com algumas lendas como Pedro Afonso da Silveira, José Machado, Joaquim Ramos, Eulálio Modesto, João Lazaro, Amazonas Tapajós, Agostinho Sousa, Edvar Mota, Bonifácio Alves, cheguei a ver Edna Luz.
No esporte da RDM por onde entrei na emissora pela primeira vez em 1968, ouvi falar em Guioberto Alves, Carlos Cordeiro Gomes, Julio Salles, Guilherme Jarbas, José Maria de Barros, Rupsilva, Estácio Vidal Picanço. Eu mesmo trabalhei com Francisco Salles de Lima, Arnaldo Araújo, Anacleto Ramos, Humberto Moreira e Ivo Guilherme de Pinho, tempo em que a Velha Boa era dirigida por Sillas Assis, e o Departamento de Esporte um cubículo que funcionava no prédio da Imprensa
Oficial.Numa segunda passagem voltei a trabalhar no esporte da emissora, desta feita sob a direção do companheiro, jornalista Ernani Marinho Ferreira.
Dá um prazer danado lembrar dos bons tempos da RDM num dia festivo a propósito de um tempo em que nossos governantes tratavam com dedicação instituições importantes para a sociedade, como a Rádio Difusora de Macapá e a Guarda Territorial, ambas muito queridas pelo povo amapaense!
Parabéns à RDM pelos 77 anos de existência, abraço à todos os profissionais da emissora que segue respirando, apesar dos pesares!
Viva a Rádio Difusora de Macapá, viva a Velha Boa!

*João Silva é jornalista e cronista

Muitos anos depois…

Muitos anos depois…
Luiz Jorge Ferreira

A Escritora, Jornalista  e Poeta Amapaense, Alcinéa Cavalcante iniciou em seu Blog… a escrever sobre várias pessoas que no Amapá realizaram no tempo que lá moraram dentro de suas atividades desempenhadas em relação a comunidade com as quais se relacionavam, cada uma delas, trabalhos memoráveis, tanto dentro dos Esportes, Eventos Culturais,e Sociais, que mereceu e merece a realização desse registro.

Eu fiquei muito surpreso e orgulhoso de receber seu convite, para que traçasse um pequeno retrato de um grande Educador, homem ligado a fomentar os aspectos Culturais da região no que se refere as manifestações folclóricas como os Pássaros da Época Juninha, reuniões de grupos interpretando um texto já romanceado de muitos tempos, mas que sob a direção desse Educador recebiam uma roupagem mais interessante com musicas compostas para as apresentações do Grupo…
Que tinham nome de Passaros da região, Japiim, Uirapuru…e assim por diante…isso em Junho.
No fim do Ano, o Educador criava Peças sempre voltadas ao cunho educativo, e convocava os Escoteiros do Grupo Escoteiro que dirigia, compunha a trilha sonora da Peça Teatral, cujo o acompanhamento também era realizado por um Grupo Musical montado com componentes pescados entre os mais talentosos.
Nesse caso específico…
Os Joviais…
Afora esse trabalho motivador e educativo…
O Grupo Escoteiro Veiga Cabral mantinha suas atividades para qual fora criado com reuniões, jogos de Ping Pong, futebol de Campo e de Salão, em Campeonatos internos e externos , alugando a Quadra para que Associações usassem-na e estimulassem o serviço da Cantina instalada no local, que só se subtraia de vender Alcool e Cigarros…
Para os que tinham queda pela Radiofonia, e muitos tinham…foi montado um Serviço de Autofalantes e Sonoro que ajudava a animar essas atividades…
Para o apogeu de todas essas multiplas atividades..tinham os Escoteiros, entre os festejos civicos, seus dois grandes Acampamentos, que aconteciam um em Julho e outro em Dezembro…
Tudo isso sob a Égide da realização de jogos, pescarias, provas tipicas do Escotismo …provas de nó…agarrar o rabo da raposa( essa era uma pegadinha) que os veteranos não contavam e os novatos caiam como patinhos…
Esse Universo de momentos divertidos e educativos, aconteceram por muitos anos…
Com resultados positivos que se refletem até hoje nos frutos dessas gerações que por lá passaram…
Começaram a acontecer com a chegada do Chefe Humberto Dias Santos (foto),funcionário da LBA, que também exercia a função de treinador de futebol …foi treinar o São José…antes ele já treinara o Juventus…time ligado a Igreja Matriz, e a ordem religiosa que a gerenciava.
Para comandar o São José, cujo os treinos seriam realizados no campo localizado ao fundos da Sede Escoteira Veiga Cabral.
Uniu-se a figura do Chefe Escoteiro, a do treinador, a do Diretor Teatral…ao organizador de Cordões Pássaros e Peças Teatrais, ao Regente do Coral Escoteiro do Grupo de Escoteiros de Terra…Veiga Cabral , e de muitas outras apresentações educativas que instruiram e doutrinaram futuros bons cidadãos…
Ao Chefe Humberto e assessores,e colaboradores, Chefes Escoteiros também tal qual ele, que foram responsáveis por muitos cidadãos responsaveis que hoje pelos muitos cantos do país, orgulham-se de haver vivido e convivido entre si nesse período.
Eu ofereço palmas, gratidão, e nosso Sempre Alerta!

(Luiz Jorge Ferreira é médico, poeta, escritor, autor de vários livros)

“Espia Só” – Ruben Bemerguy

“Espia Só”
Ruben Bemerguy

A pouquidade imantava os apelidos. Na minha época, pelo menos, era assim. Todos tínhamos um, fosse menino, fosse menina.

Lembro bem de alguns: o “Olho de Poço”, o “Caranguejo de Ganho”, o “Pateta”, o “Di rã”, o “Piquita”, o “Barrasco”, o “Cabeco”, o “Catuné”, o “Judeu”, o “Caimbó”, o “Tourão”, o “Grosso”, o “Mentira em Dia”, o “Abana Peido”, o “Manoel Calça Vesga”, o “Caroço de Bacaba”, o “Espia Só”, a “Mana do Céu”, a “Susi”, entre outros tantos que agora não me socorre a memória.

Era uma espécie de bullying, antes mesmo do bullying ficar famoso. Naquele tempo, famoso era só o apelido. Impiedosos, quanto mais nos incomodávamos, mais apelidados éramos. A criação do apelido era uma interpretação bem nativa e maliciosa do outro. Às vezes, uma forra, uma revanche, uma contrapartida pra aproximar o outro do ridículo espalhafatoso.

Mas a gente cresce. É uma pena, mas não há como custodiar a pouquidade para sempre. As notícias dos da pouquidade também se apequenam. Um, pouco sabe do outro. Isso, essa privação, era inimaginável na pouquidade. É que a arte de sofrer ausências não se adivinha nunca, nem na pouquidade, nem depois dela.

Outro dia, sem vê-lo há muitos anos, soube, por acaso, do “Espia Só”. Soube na dimensão da dor. “Espia” estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva. O nível de glicose do “Espia” seria o culpado pelo cárcere. Sim, as UTIs são isso mesmo. A exceção da voluntariedade, aquelas voluntariedades no modelo “não tem outro jeito”, de resto é, em tudo, um calabouço.

Lá – nas UTIs – reinam as posições corporais. Os verticais mandam. Identificam o curso dos corpos horizontais e os gerem. Além, em extraordinária arte divinatória, preveem e organizam a notícia do luto. Os horizontais são mandados e, o mais grave, sem nenhuma energia para sublevação.

Os verticais se vestem de branco assusta(dor). Os horizontais entregam à própria nudez um sentido falso e, ainda que famélicos de trajes, revestem o corpo em fronhas frequentemente desenganadas.

Verticais e horizontais só guardam em comum seus sofismas. E os guardam em segredos quase sagrados. Descobri-los –  o sofisma um do outro – é o maior desejo entre eles. Assim, dedicam-se a interpretar indícios para alcançar o paralogismo do outro. Tudo, claro, ao contrário do cárcere, de modo absolutamente involuntário, ainda que facilmente certificados a olhos de nus de uns – verticais – e de outros – horizontais. Na esfera dessa adivinhação não há hierarquia. Essa, eu diria, é a única igualdade em uma UTI entre verticais e a população carcerária a que me refiro.

Talvez por isso, não sabem os verticais, p.ex., que o açúcar no sangue do “Espia” é contemporâneo a própria existência dele. “Espia” sempre foi um delicioso doce de mamão verde feito pela vó Esther. Desde a pouquidade “Espia” assustava por ser assim.

Obediente aos padrões das ruas de Macapá, tez preta, forte, pequena altura, cabelo pixaim, nariz fino e arrebitado e dentes como esculpidos em marfim.

Espia era também nosso goleiro no time da praça. Dada a posição em campo, já se prevê, com razão, que Espia não executava as tarefas do futebol com habilidade e, por isso, goleiro, sempre goleiro. A fragilidade acrobata do Espia, entretanto, não desmaiava a sua alegria quando fazíamos um gol. Era o primeiro a nos abraçar, embora o mais distante dos atacantes, se assim se pode dizer. O abraço do Espia me abraça a vida toda, especialmente agora, bem longe da pouquidade.

Ao contrário do futebol, Espia era imbatível na peteca e no celotex, esse, chamado hoje, parece, futebol de mesa. Espia colecionava os troféus que nós mesmos fabricávamos. Em regra, troféus de lata e cera de vela usada. Valia muito. Nossa mãe do céu!

Tenho muitas lembranças do Espia. Muitas mesmo. Não esqueço que os da pouquidade costumavam dizer “não levar desaforo pra casa”. Espia dizia, sua mãe havia cavado um poço no quintal da casa só pra ele desaguar as falas de atrevimento. Do poço, segundo o Espia, não brotava água, mas luz de lua. Para ele e sua mãe, água só amazonava. Luz de lua curava. Um santo remédio de vida. Hoje entendo bem a filosofia da mãe do Espia e do Espia.

Soube na dimensão da mais intensa dor do último suspiro do Espia no mundo dos verticais. Pra mim, Espia voltou ao poço que sua mãe cavou no quintal da casa. Se a água só Amazona, a luz de lua cura.

Bendita a sua memória – Z’L.

(Ruben Bemerguy é advogado e membro da Academia Amapaense de Letras)

Amapá 80 anos – Difusora, uma voz do Amapá a serviço do Brasil

Olha aí o antigo prédio da ZYE-2 Rádio Difusora de Macapá, uma voz do Amapá a serviço do Brasil (como anunciava o locutor Pedro Silveira) na época do Grande Jornal Falado E-2, da rádio-novela, dos cantores de rádio, programas de auditório, gincanas e muita informação.
Lá trabalharam Assis(o veloz), Penafort e seu filho Cícero, Damião Jucá de Lima, Seu Chico, Edvar Motta, Professora Creuza Bordalo, Ernani Marinho, Alcy Araújo, Zeca e Walter Banhos, Guilherme Jarbas, Ubiratan Picanço, João Silva, Nilson Montoril, José Barros Machado, João Lázaro, Nozo, Jamil Valente, Joaquim Ramos, Eraldo Trindade, Bonifácio Alves, Seu Diquinho, Francisco Sales de Lima, Juarez Maués, Mário Miranda,  Pedro Silveira, Argemiro Imbiriba, Benedito Andrade, Júlio Salles, Amazonas Tapajós, Edna Luz, Carlos Lins Cortes, Edir Peres, Luciano Amaral, Agostinho Souza, Terezinha Fernandes e tantos outros.
O Humberto Moreira conta que quando começou a cantar  no Clube do Guri o prédio era exatamente esse da foto. E lembra nome de alguns programas da RDM: O Clube do Guri, Escadinha de Valores, A juventude está com a palavra, Showneilândia, O momento esportivo, Jornal Falado E-2, Música adulta para gente adulta, Show da tarde, Patrulha da Cidade, Radio teatro E-2.

A Difusora foi a primeira emissora de rádio do Amapá. Fundada em 11 de setembro de 1946 pelo Governo do então Território Federal do Amapá. Em 1978, foi desativada e cedida para a Radiobrás. Seu nome foi mudado para  Rádio Nacional de Macapá.
Em 1988, retomada pelo governo do Amapá, voltou a se chamar Rádio Difusora de Macapá.

Eu trabalhei em dois momentos na Difusora:  no inicio da década de 1970 fazendo reportagem de rua e apresentando programa com Amazonas Tapajós e depois  em 1995 e 1996 fazendo reportagens de rua e apresentando os programas Debate Popular e O Assunto do Dia.

Amapá 80 anos – A Favela no futebol amapaense

Sim, no tempo do amadorismo de priscas eras, o bairro  da Favela  tinha  dois  clubes  disputando os campeonatos organizados pela Federação Amapaense de Desportos(FAD).

Um era o São José, do seu Messias, onde jogavam, entre outros, Bulhosa, Pantera, Jurandino (Carudo), Justo, Raminho e Mosquito, cuja sede ficava na esquina da Leopoldo Machado com a Presidente Vargas, mas um acordo entre Messias e Humberto Santos, levou o São José  para o bairro do Laguinho.

O outro era o Araguary Esporte Clube, sendo que este não tinha sede, a turma se reunia na casa de um dos atletas, escolhida aleatoriamente. Nesse tempo, Araguary e Fazendinha era o grande clássico da segunda divisão (Santa Cruz, Primavera, Guarany, depois Ypiranga e Santana, sem esquecer o Atlético Latitude Zero, também  integraram a segundona da FAD).

Sempre que Araguary e Fazendinha se encontravam o Glicerão ficava apinhado de gente. Mauro, Abiezer, Beto, Barata, Bento, Carneiro, Dioneto, Elionay, Ferramenta, Peteca e Palito (um carvoeiro bom de bola, que chegava sempre em cima da hora para jogar, pois antes precisava desmanchar suas caieiras)   e  Nolasco, eram alguns  dos integrantes do Araguary Futebol Clube. Pelo Fazendinha, destacamos Zezé (um goleiraço), Marinheiro, Flávio Góes, Valdir  e seu irmão Papaarroz (um cracaço, que batia penalty de letra) e Estrela.

Eu  gostava de estar entre a rapaziada do Araguary para ouvir as  histórias  das viagens que o time fazia pelo interland amapaense. Nolasco,  meu vizinho, era um jogador razoável, mas muito bom para contar histórias e rápido  para  fazer uma paródia, fosse qual fosse a situação, senão vejamos: certa vez, numa excursão a Mazagão, no tempo  em só se chegava ao município por via marítima, Nolasco não  foi  escalado de saída no time que iria  enfrentar a seleção mazaganense. Terminado o primeiro tempo, começa o segundo e o Nolasco no banco de reservas. Jogo já no final do segundo tempo, eis que ele  é chamado  para substituir um companheiro,  ele se negou e saiu-se  com essa : “eu fui  em Mazagão/ fiquei encabulado/ pois só comi feijão e ainda fui barrado./ quando jogo estava pra terminar / técnico veio me chamar pra entrar lá no gramado/ eu não sou doido e também não sou maluco/ pra entrar lá no gramado e jogar  cinco minutos.”

Doutra feita, eles  se reuniram e metidos na roupa de domingo, foram  a  uma  festa    no bairro do Laguinho (aquela época, já rivalizando com o bairro da Favela, por causa do Marabaixo e do boi bumbá). Todo mundo alinhado, festa animada, muita cocota no salão e eles de fora olhando, pois  o porteiro não deixou eles entrarem. Aí o Nolasco criou uma musiquinha, que tinha um trecho que dizia assim: “Fui numa festa lá no Mestre Julião/ deu meia noite o baile vai começar/  se  é  do Laguinho o porteiro manda entrar/ se é da Favela ele faz voltar”.

O  Araguary  é do tempo que se dava chagão (jogar a bola por um lado do adversário e correr pelo outro e contiuar a jogada – hoje drible da vaca), do avião ( hoje chapéu, lençol), por baixo da saia ( hoje entre as canetas), do xilique (joelhada forte na coxa do oponente e doía uma barbaridade (hoje chamam tostão). O Araguary e seus  integrantes, suas histórias e paródias são lembranças de minha infância feliz viviva no meu querido bairro da Favela.

(Esse texto foi publicado originalmente aqui no blog em 28 de agosto de 2009)

Amapá 80 anos – O coreto da praça da matriz

1935 – Coreto da Praça da Matriz (hoje Veiga Cabral). No coreto se apresentavam as bandas de música da Guarda Territorial e do Mestre Oscar. Foi ouvindo estas bandas que interpretavam de forma magistral clássicos da música que muitos casais começaram a namorar e casaram, aí pertinho do coreto mesmo, na bicentenária igreja de São José.

O poeta Arthur Nery Marinho – que veio para o Amapá em 1946 – chegou a tocar  neste coreto e relembra a velha praça nesta poesia publicada no livro “Sermão de Mágoa”, em 1993.

Praça Antiga
Arthur Nery Marinho

Velha praça, velha praça,
tenho saudade de ti.
Não da bonita que estás
mas da que eu conheci.
A praça do tio Joãozinho
e do seu Naftali:
o primeiro era Picanço
e o segundo Bemerguy.
A praça do João Arthur
também a praça do Abraão,
a praça que outrora foi
da cidade o coração.
A praça em que se jogava
todo dia o futebol,
esporte que só parava
quando já dormia o Sol.
Parece que isto foi ontem,
mas tanto tempo passou,
o que deixou de existir
minha saudade gravou.
Vejo a barraca da Santa,
vejo ali o ABC.
Há muito tempo não existem
mas a minha saudade os vê.
Da igreja o velho coreto
eu avisto, neste ensejo.
Do mestre Oscar vejo a banda
e lá na banda eu me vejo.
Eu considero um castigo
não apagar da lembrança
o que me foi alegria
e agora é desesperança.
Velha praça, velha praça,
renovaste e linda estás.
Não tens, porém, a poesia
do que ficou para trás.

Amapá 80 anos – Nos tempos do reclame

Propaganda veiculada em novembro de 1957 na revista Rumo

Frequentado pelos intelectuais, poetas e jornalistas, o Elite era o bar mais badalado de Macapá na época.
O Elite Bar, cujo dono era o senhor João Assis, ficava na esquina da Rua São José com a Av Presidente Vargas, onde mais tarde funcionou outro icônico Bar: o Gatto Azul.
E como diz o “reclame”, tinha realmente o melhor sorvete  e a garapa mais gelada de Macapá.
O veterano jornalista Milton Sapiranga Barbosa me contou isso: “Seu Alípio e João Costa eram dois dos atendentes, os outros não lembro os nomes. Rolava na época que a turma da cerveja pedia uma, seu João Costa dizia `já vai começar`; na segunda resmungava humhum e quando chegava na quinta, sexta, ele não se aguentava: passava um pano já bem sujo na mesa, arriava a garrafa batendo na mesa e exclamava: vão beber assim na casa do c………….! Seu João Costa, mesmo com este comportamento, era querido por todos que frequentavam o Elite Bar.”

Amapá 80 anos – Biroba, o maquinista do Trem da Alegria

Chefe escoteiro, desportista, carnavalesco, animador de quadrilha junina. Durante décadas Biroba foi chefe do Grupo de Escoteiros do Mar Marcílio Dias. No esporte foi um abnegado e grande incentivador da pelada  Casados x Solteiros do bairro do Trem e organizador da Copa do Mundo Marcílio Dias. Numa cabine, com microfones e auto-falantes Biroba narrava todos os jogos realizados na Praça da Conceição. E como era divertido! Há causos e causos desta época e quem lembrar pode ir contando aí na caixinha de comentários.

No carnaval foi uma das figuras mais importantes de Piratas da Batucada e a gratidão da escola por ele foi traduzida no enredo “Biroba, o maquinista do Trem da alegria” (não lembro o ano). Funcionário público e amante do belo fez um dos mais lindos jardins que Macapá teve na década de 70. Foi o jardim da Secretaria de Obras, ali na Avenida Fab esquina com a Leopoldo. Ele trabalhava na Sosp e quando o moderno prédio (naquela época era realmente super moderno) foi inaugurado, Biroba entendeu que um prédio tão bonito (sim! para os padrões da época era lindo)  como aquele merecia um belo jardim e o fez.
Biroba faz parte da história do Amapá.

Era assim

Cine Teatro Territorial – Ficava no mesmo terreno da escola Barão do Rio Branco. Foi aí que aconteceu o primeiro Festival Amapaense da Canção (a música vencedora foi Canção Anti-Muro, de Alcy Araújo e Nonato Leal, interpretada por Célia Mont’Alverne).
No palco deste teatro se apresentaram grandes orquestras, famosos cantores e pianistas e excelentes peças teatrais de várias partes do mundo.
Era usado também para os programas de auditório da Rádio Difusora de Macapá. Também era um espaço muito bem aproveitado pelas escolas para realização de programações culturais.
Quando criança integrei o grupo de teatro infantil da professora Aracy Mont’Alverne e tive o privilégio de me apresentar neste palco.
No palco do Cine Teatro Territorial brilharam cantores e músicos como Nonato Leal, Humberto Moreira, Aymorezinho, Sebastião Mont’Alverne, entre outros.