Categoria: Poesia
Bom dia,amigos!
Poema para o amigo
É possível que eu te conte
uma história de príncipes e fadas
que escutarás com o olhar perdido na infância.
Ou que te conte uma piada tão engraçada
que rolaremos de tanto rir.
Nossas gargalhadas contagiarão os passantes
e de repente todo mundo estará rindo
sem nem saber por que.
É possível
que eu faça um café com tapioca e te chame
pois café, tapioca e amigo tem tudo a ver.
É possível que eu chegue na tua casa sem avisar
só pra te ofertar uma rosa que acabara de nascer
e te oferecer um Johrei.
É possível que eu te ofereça uma música no rádio
ou te mande, pelo Correio,
uma carta numa folha de papel almaço.
É possível que eu te ligue
no meio da noite
no meio do dia
a qualquer hora
– mesmo na mais imprópria –
só pra dizer:
Amigo, eu amo você.
(Alcinéa Cavalcante)
Tempo perdido
Havia um tempo de cadeiras na calçada.
Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as criançasbrincavam sob a clarabóia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo.
(Mario Quintana)
Colar de poesia
Nós do Movimento Poesia na Boca da Noite vivemos inventando coisa para incentivar a leitura e despertar o gosto pela poesia.
Agora na Semana da Lusofonia comemoramos distribuindo poesias dos mais famosos poetas portugueses.
Fizemos centenas de passarinhos de origami, imprimimos trechos de poesias, compramos linhas e contas coloridas e fizemos colares que distribuímos por aí para que mais e mais pessoas tenham acesso à poesia de Bocage, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Antero de Quental, Camões, entre outros.
Ficaram lindos e todo mundo gostou e usou.
Bom dia!
O pão de cada dia
Thiago de Mello
Que o pão encontre na boca
o abraço de uma cançãoconstruída no trabalho
Não a fome fatigada
de um suor que corre em vão.
Que o pão do dia não chegue
sabendo a travo de luta
e a troféu de humilhação.
Que seja a bênção da flor
festivamente colhida
por quem deu ajuda ao chão.
Mais do que flor, seja fruto
que maduro se oferece
sempre ao alcance da mão.
Da minha e da tua mão.
Chá da tarde
Uma lembrança de Verão
Val-André Mutran
Se um dia pudesse voltar no tempo…
Ouviria que seja por encanto o sussurrar do vento.
Leria muito mais Pablo e Spinoza à fórmulas de Kent.
Se um dia me fosse permitido olhar o tempo…
Repararia o corpo perfeito dos bem acabados ateus
que não reparam santos, pois, movem-se como Deuses.
Se um dia me fosse concedido ouvir o tempo…
Calaria, circunspecto, ouvir Callas após o Ato final.
Assobiaria besteiras para espantar a sina.
Se alguma vez conhecesse o encanto…
Confraria um trato: o de adiar a fome, aviltar a vontade,
esquecer a dor, levitar no agora;
encantar-me com a noite: perder-me de amor pelo dia.
Se apesar de tudo e só peço haja não me for permitido…
Que a morte venha tântrica, semântica, pois é tempo de trabalho
Muitos me esperam
Poucos me verão…
…No Inverno.
(Val-André Mutran, poeta e jornalista paraense, há vários anos residindo em Brasília)
Boa tarde!
Boa tarde!
Chá da tarde
Explicação
Vivo do ato de escrever
sobre tragédias
e espetáculos
sobre o candidato vitorioso
e o derrotado
sobre o deputado corrupto
e o governante que finge ser honesto
sobre a exportação da mandioca
e a importação da farinha
sobre a fome e a riqueza
sobre o real e o dólar.
Perdoa-me, Anjo,
não sobrou tempo
para escrever
um poema de amor.
(Alcinéa)