O Sonho – Osmar Junior

O Sonho
Osmar Junior
Talvez eu erre no meu jeito de fazer o sonho girar como um redemoinho de folhas ao meu redor.
São meus planos, é meu alimento, e gosto de dividi-los, dependo disso, do sonho.
Vou encontrando as pessoas para me ajudar a sonhar.
E com uma delas aprendi sobre as gavetinhas…
Tem planos de amores e sonhos que vamos guardando nessas gavetinhas.
O problema é que não sabemos o que fazer no final com tantas coisas guardadas.
Será que um dia voltaremos a abrir ou pelo menos teremos tempo pra isso ?
Eu mesmo disse algo no espelho que desmontou-me a filosofia e os olhos.
Jamais eu criaria gavetas no meu coração.
Eu tenho é uma mesa para sentar com você e debater o ódio, o calor, o amor e o desamor, a loucura e o sexo, a guerra e a paz… pode levantar e partir e pode voltar quando quiser, traga junto seus sonhos pra você nunca, nunca sumir de mim.
Eu posso ficar sentado sentindo o vento no meu rosto novamente…
Esperando que em outra primavera você venha me encontrar para tentar outro sonho.

Remendando palavras – Luiz Jorge Ferreira

Remendando palavras
Luiz Jorge Ferreira

Filho não se prometa limpar as coisas que espalhei pela casa
Nem amarre as noites lá fora… para que percam a hora de lustrar as estrelas que enferrujam sobre as gaiolas
Não derrube as gavetas no chão, pode misturar as palavras, e palavras misturadas não soam bem.
Há de se atentar com a cicatriz de passos quando correr a vassoura sobre o chão
Deixei muitas caminhadas desenhadas rumo ao horizonte e nunca fui…
São gestos inúteis desenhados sobre as costas do gato de pelúcia
São apostas de um jogo de astúcia com o olhar penetrante dos cães.

Filho respeite os vasos, as flores e as folhas secas, essas são as que mais representam a efusão da vida e se abrigam da vida na morte.

Leia os cadernos, sim os cadernos de folhas soltas partidas, de reconstrução de proparoxítonas, da inclusão suave do til, do desespero do não, e da perplexidade do sim.
Quando for rasgá-lo se for canhoto, troque de mão, as letras choram sob uma pressão muito forte, as suavidades são muito desejadas por elas.

E essa velha casa, a respeite sob suas pisadas… há de lembrar…
Que ela me acolheu com um ventre, que um dia acolherá você.
Escancare as janelas, acenda todas as lâmpadas, molhe todas as plantas, ponha minha fotografia a porta da rua, e espalhe boas novas mesmo que a solidão seja a única expectadora…
Pode ser que a saudade apareça vestida como uma colegial…
Pode ser… pode não ser…
De fato os dias estranhos estão ficando banais.

Hoje teve poesia na Justiça Federal

Hoje a manhã foi repleta de lirismo e poesia na Justiça Federal no Amapá.
O Movimento Poesia na Boca da Noite estendeu lá o Pano da Poesia e encantou estudantes, autoridades e servidores com belíssimas declamações de autoria de poetas amapaenses.

Poeta Arilson, bibliotecária Gilvana, poetas Raquel Braga, Adélia Figueiredo, Ricardo Pontes e Wilson

Foi um momento mágico.Além das declamações, teve varal de poesias, sorteio de livros de autores amapaenses e distribuição de chocolates com trechos de poemas.O Movimento Poesia na Boca da Noite agradece o convite feito pela Justiça Federal, a forma como foi tratado e como tudo foi muito bem organizado e se coloca à disposição sempre que a Justiça Federal quiser e puder repetir estes momentos.

Tiago Quingosta lança seu primeiro livro solo sábado no Mercado Central

O primeiro livro solo do escritor Tiago Quingosta, Aluvional é a segunda obra da Trilogia das Águas, em que são abordadas temáticas relacionadas às experiências de vida do autor na Amazônia, cuja voz é a manifestação identitária de um homem do norte.

Durante seis capítulos e 60 poemas – entre os quais está Imersio, seu trabalho audiovisual, disponível no Youtube – ele percorre seu amadurecimento enquanto escritor e artista, apresentando versos de um homem forte e condizentes com suas dores e realidades.

Aluvional traz a poesia amazônica na sua ambientação e utilização das palavras para descrever o que sente, para fazer o leitor mergulhar nas águas do maior rio em volume de água do mundo, o rio Amazonas, aborda uma jornada poética em meio à maior floresta tropical do mundo.

O lançamento será sábado, às 16h no Mercado Central.

(Ascom)

Tela – Aluízio Botelho da Cunha

TELA
Aluízio Botelho da Cunha

O pincel fixou sombras escuras
nas sobrancelhas da moça
e deu um tom de tardes prematuras
nos olhos claros
da clara judia.
(Também já esbocei olhos e sóis,
subjugando curvas
sobre rosto oblíquo)

Dei traços de luz
em cabelos cor de noite,
e auroras nasceram
do sol ardendo,
houvesse, embora,
eclipse solar.
Se eu modelar, um dia,
novas dimensões da tua presença,
atrairá teu corpo
a lei da gravidade dos sentidos.

(Extraído da antologia Modernos Poetas do Amapa – Macapá-AP, 1960)

Um poema de Neth Brazão

Marcas de amor
Neth Brazão

Mergulho no profundo silêncio
Em queda livre me deixo ir
Levemente a brisa sussurra
Versos indecifráveis
Doces, os quero ouvir…
Ouço um anjo cantando para mim
Penso em você
Penso no beijo que ficou por acontecer
Penso e, me deixo ir
Sigo em viagem solo
Com muito de ti aqui
Desejo que sintas
A mesma saudade que me consome
Quem sabe voltas ao teu lugar
Onde sou toda feita de você
Sou para você
Em um universo solitário
Em um querer sem fim
… Ah! Eu sou tão bonita
Para ficar com a solidão

Já que hoje é Dia do Amigo vamos de poema para os amigos

Poema para o amigo
É possível que eu te conte
uma história de príncipes e fadas
que escutarás com o olhar perdido na infância.
Ou que te conte uma piada tão engraçada
que rolaremos de tanto rir.
Nossas gargalhadas contagiarão os passantes
e de repente todo mundo estará rindo
sem nem saber por quê.
É possível
que eu faça um café com tapioca e te chame
pois café, tapioca e amigo tem tudo a ver.
É possível que eu chegue na tua casa sem avisar
só pra te ofertar uma rosa que acabara de nascer
e te oferecer um Johrei.
É possível que eu te ofereça uma música no rádio
ou te mande, pelo Correio,
uma carta numa folha de papel almaço.
É possível que eu te ligue
no meio da noite
no meio do dia
a qualquer hora
– mesmo na mais imprópria –
só pra dizer:
Amigo, eu amo você.
(Alcinéa Cavalcante)

Um poema de Raquel Braga

INFÂNCIA
Raquel Braga

Quando eu era pequenina
No início do entendimento
Sonhava ser bailarina
E dançar sem pensar no tempo.

E o tempo passou tão depressa
Que transformou completamente
A menina dos meus sonhos, tão liberta
Na mulher que hoje vês na tua frente.

Mas, embora este corpo não aparente
Minha alma continua uma criança
Que te vê ao lado meu, eternamente,
Na vontade de esvair-se numa dança.

Tempos do meu tempo

Começo a semana lendo esse maravilhoso livro do sensacional poeta Luiz Jorge Ferreira, lançado em 1982. Menino do Laguinho, Luiz Jorge é médico super conceituado em São Paulo e poeta e escritor festejado por este Brasil a fora.

“Tempos do meu tempo é uma época passada ou é o presente palpitando? Qual é o seu tempo?”, pergunta Carlos Nilson Costa no prefácio. E responde: “Ora, poeta não tem tempo. É perene”. Sim. Concordo.
Sentada no sofá, ouvindo Mozart (bem baixinho), nesta manhã ensolarada de segunda-feira, de mãos dadas com o livro, começo meu passeio pelo Laguinho, Trapiche, Pacoval, Fortaleza e outros lugares onde no encantador silêncio dos versos de Luiz Jorge escuto a alegria da cidade e da nossa bela juventude.
Obrigada, poeta!