Chá da tarde

Homem nu
Glória Araújo

Eu vi um homem nu
Beijei cada parte do seu corpo e vibrei
Não esqueço o momento feliz que o vi
Chorei e sorri de emoção,
E não deixarei de lembrar
O instante que o amei!

Foi amor à primeira vista!
Este homem que mexeu
Com todas entranhas do meu ser
Era meu filho
Que acabara de nascer.

Meu filho! Meu bebê!

Chá da tarde

Saudade
Francisco Silva Frota Filho

Da janela do meu quarto
vi a lua
Olhei para a rua
a saudade me bateu
Que pena
que a tua felicidade não sou eu.

(Francisco Silva Frota Filho é pescador, presidente da Associação do Mercado do Pescado. Ele não pesca apenas peixes, pesca também lirismo que transforma em encantadores poemas agora reunidos no livro “Amor para Sempre”, que será lançado em agosto. É seu livro de estreia. São mais de 90 poesias que falam de amor, amizade, solidão, natureza, beleza feminina e lembranças de sua infância)

Chá das cinco

ANÚNCIO
Álvaro da Cunha

Eu estou sonhando com um regaço de virgem,
onde eu ponha a cabeça
e adormeça
quando este mundo se despedaçar.
Será que este quebranto no meu corpo
não é cansaço,
mas um pretexto para repousar?

– A vida é triste, o mundo é triste,
o amor é triste.
Quem me censura o ato de sonhar?

(Ainda posso encontrar o meu desejo
sem arredar um pé deste lugar)

E vou escrever anúncios no jornal:

“Poeta, em Macapá,
está precisando de um regaço de virgem
onde ponha a cabeça
e adormeça
quando este mundo se despedaçar”.
(Extraído da Antologia Modernos Poetas do Amapá – Macapá-AP, 1960)

Lirismo

LIRISMO
Alcy Araújo (1924-1989)

Não,
eu não te darei um mal-me-quer.
Eu te darei
uma rosa de todo ano
e uma estrela
e uma lua branca
muito branca
um lírio
– porque os polichinelos
ficaram inanimados no bazar.
Depois
farei o poema do nosso primeiro beijo
recostarás tua cabeça no meu peito
e meus dedos compridos
acariciarão os teus cabelos
e Deus saberá que nós estamos nos amando
porque haverá luz
e um grande silêncio
no pensamento das coisas…

Um poema de Maria Helena Amoras

Minha vida é assim…
Maria Helena Amoras

Manhã ensolarada
Borboletas esvoaçantes entre as flores !
beija – flores retirando nectar…
bentevis cantarolando…..
dentro de casa o CD com Djavan, Gigliola e Jessé completando a manhã quente, mas silenciosa.
Dentro de mim, a alegria de ter tido muitos filhos…
Dentro de mim, o contentamento de ter muitos amigos…
Dentro de mim , o prazer de ter muitos filhos adotivos.
Dentro de mim, as recordações da labuta doméstica e profissional.
Dentro de mim ,a sombra do companheiro que fez o que sabia e podia fazer.
Dentro de mim , as lembrança dos filhos brincando e brigando.
Dentro de mim, as perguntas dos alunos idosos: – professora , papagaio velho a prende a falar?
Dentro de mim a resposta : – Você não é papagaio,você é um ser inteligente., um homem.
Dentro de mim , o grito dos filhos quando nasciam…
Dentro de mim , a vontade de jogar tudo fora e sair correndo quando o vento se transformava em tempestades.
Dentro de mim, a certeza de que faria tudo de novo , do mesmo jeito atualizando a metodologia.
Dentro de mim , o hino de louvor e agradecimento a Deus pelo seu imenso amor e tanta paz..

Poema à fogueira

POEMA À FOGUEIRA
Arthur Nery Marinho

Fogueira de Santo Antônio
que ardes tal como arde
a chama do meu olhar!

Fogueira linda, que tanto
o meu tempo de criança
ora me fazes lembrar!

Não tenho mais estalinhos
pistolas também não tenho,
como não tenho balão.

Tenho somente a saudade
da infância que hoje não passa
de simples recordação.

Mas, psiu! Não digas nada
às crianças que hoje brincam
como em criança brinquei.
É cedo para que saibam
que na fogueira dos sonhos
minha esperança queimei.

Guarda silêncio, se ouves
o que, contrito, te pede
o meu pobre coração,
pela bondade de Antônio,
desconfiança de Pedro,
profecia de João.

Não digas nada, fogueira!
Não digas que tudo arde
neste mundo de ilusão,
que tudo não passa mesmo
das fantasias que acabam
quando incendeia o balão.

O poeta Arthur Nery Marinho faz parte da primeira geração dos modernos poetas do Amapá.
Nascido  em Chaves (PA), em 27 de setembro de 1923,  veio para o Amapá em 1946.
Ao lado de Alcy Araújo, Álvaro da Cunha, Aluízio Cunha e Ivo Torres, Arthur desenvolveu importantes projetos culturais.
Está na Antologia Modernos Poetas do Amapá,na Coletânea Amapaense de Poesia e Crônica, entre outras.
Em 1993 publicou o livro de poesias “Sermão de Mágoa”. Arthur morreu em 24 de março de 2003 e alguns meses após sua morte a Associação Amapaense de Escritores fez o lançamento do seu livro de poemas e trovas “Cantigas do Meu Retiro”.

Um poema de Isnard Lima

Protesto
Isnard Lima (1941-2002)

Hoje não me interessam mais
poetas de araque,
nem me comovem como antes
filósofos de esquerda.

Cansei, depois de lustros,
dos conchavos de bar
e ideólogos de festiva.

Não me preocupam a rima,
nem a mulher,
nem o romance.

O que me aporrinha,
esquenta e aborrece,
é a falta de vergonha
da politicalha brasileira.

Um poema de Bruno Muniz

Boatos
Bruno Muniz

Tão dizendo por aí
que o meu olhar sem ti
amiúda os girassóis,
desalinha as gaivotas,
escangalha as estrelas.
Dizem à boca miúda
que ouço vozes na pintura tua;
que quando passas
eu te demoro até o fim das vistas;
que te colho aos cachos:
da cor que aninha teus olhos
ao doce que mora tua boca;
que me decoro as vestes
a combinar amores;
que me sorriso todo
quando a dizer teu nome.
Tão dizendo por aí que eu gosto de você.