Verde pretérito

Verde pretérito
Alcy Araújo

O sapo era verde
no lago verde.
O lodo era verde
no mar tão verde.
Eu era verde
ao poema verde.
A amada era verde
de olhos verdes.
O amor era verde
nos anos verdes.
A fonte era verde
a esperança era verde
e logo secou.
O sinal era verde
o carro era verde
a infância era verde
e se apagou.
(Do livro Autogeografia – 1965)

Um poema pra começar bem o dia

Beijo Divino
Graça Penafort

Manhã chuvosa
Lágrimas do céu caem sobre nós.
O coração desconhece a dor e a alegria.
Só os sentidos falam.
Entre o verde repousante,
bela, glamurosa, delicada,
abre-se à Luz a perfeição do Universo.
Limito-me a contemplá-la.
O impulso é devastador: arrasta-me!
Meus lábios tímidos procuram as pétalas molhadas.
Isso basta.
Um quase imperceptível perfume desperta-me à poesia.
É o beijo divino na minha boca profana.

Chuva-matina

CHUVA-MATINA
Alcy Araújo

(1924-1989)

De repente o azul do céu ficou cinzento e o sol que bailava em luz na manhã tomou a inesperada resolução de se esconder por trás do silêncio que se fez.
Um relâmpago fotografou o momento de espanto e um trovão rasurou a manhã que ficou pesada como chumbo. Então a chuva começou a cair sobre a cidade, comprimindo os pássaros contra as árvores molhadas e as crianças nas vidraças das janelas.
Depois a chuva começou a entrar no meu quarto, gotejar no meu poema, molhar o meu relógio cansado de marcar as horas lúcidas do meu imenso amor, refletido em lágrimas no espelho defronte e insone.
Poderia contar aos que ouvem meu poema nascendo, que muitas dores embarcaram inutilmente nos barquinhos de papel para naufragarem sem remissão logo adiante, na primeira curva do rio que a chuva inaugurou diante de minha janela. Mas não conto porque todas as tristezas voltaram a habitar o meu dia e a minha noite e o meu poema.
Estou visivelmente crucificado à minha dor. Mesmo porque não tenho uma rosa vermelha para mandar à Bem-Amada que chora a minha ausência e a infelicidade de haver me amado numa noite em que a música vinha do interior dos saxofones e nos tornou comovidos e solitários. Lembro que não conhecemos ninguém fora de nós mesmos, quando promovíamos a gestação da saudade.
Sei agora que ando de pés nus, pisando lágrimas cristalizadas que ferem como cactos. Mas longe, onde a esperança se esconde, a felicidade prometida sorri nos olhos daquela que tem as mãos cheias de afeto.
E a chuva continua lavando desencantos…
Não tenho, porém, nenhuma rosa e nenhum pássaro pousado nos meus ombros nesta manhã cinzenta. Quem estiver ouvindo o meu poema nascendo sabe que é assim e que me falta um gesto de amor que ficou na saudade e que pode voltar a qualquer momento, para minha eternidade absoluta. Digo isto porque o céu está ficando azul novamente, neste instante em que enxugo uma lágrima no lenço que guarda a lembrança das lágrimas que a Bem-Amada chorou, numa desesperada hora de amor.

Chove lá fora…

“e a minha alma se enche de tristezas ao ver as crianças olhando a rua através das vidraças molhadas, loucas por soltarem um barquinho de papel. Sofro com a prisão que a chuva cria para as crianças e para os pássaros que ficam sem voar. A chuva me enche de saudades das coisas que nunca possuí na minha infância, me enche de ausências das coisas que não nasceram, me faz pensar em sóis que não me aquecem”. (Alcy Araújo)

Macapá 259 anos – Velha Praça

Praça da Matriz em 1935  (hoje Veiga Cabral)

No coreto se apresentavam as bandas de música da Guarda Territorial e do Mestre Oscar. Foi ouvindo estas bandas que interpretavam de forma magistral clássicos da música que muitos casais começaram a namorar e casaram, aí pertinho do coreto mesmo, na bicentenária igreja de São José.

O poeta Arthur Nery Marinho – que veio para o Amapá em 1946 – chegou a tocar  no coreto e relembra a velha praça nesta poesia publicada no livro “Sermão de Mágoa”, em 1993.

Praça Antiga
Arthur Nery Marinho

Velha praça, velha praça,
tenho saudade de ti.
Não da bonita que estás
mas da que eu conheci.

A praça do tio Joãozinho
e do seu Naftali:
o primeiro era Picanço
e o segundo Bemerguy.

A praça do João Arthur
também a praça do Abraão,
a praça que outrora foi
da cidade o coração.
A praça em que se jogava
todo dia o futebol,
esporte que só parava
quando já dormia o Sol.

Parece que isto foi ontem,
mas tanto tempo passou,
o que deixou de existir
minha saudade gravou.
Vejo a barraca da Santa,
vejo ali o ABC.
Há muito tempo não existem
mas a minha saudade os vê.

Da igreja o velho coreto
eu avisto, neste ensejo.
Do mestre Oscar vejo a banda
e lá na banda eu me vejo.

Eu considero um castigo
não apagar da lembrança
o que me foi alegria
e agora é desesperança.

Velha praça, velha praça,
renovaste e linda estás.
Não tens, porém, a poesia
do que ficou para trás.

Tributo a Macapá – Andreza Gil

Tributo a Macapá
Andreza Gil

É com grande satisfação e alegria
A mil, que vou homenagear minha
Terra varonil.

Se você quer conhecer uma cidade
A prosperar, venha então visitar
Macapá, capital do Amapá.

Venha conhecer os pontos
Turísticos do lugar como a
Famosa Beira-Rio, Fazendinha e
Araxá e a Fortaleza de São José de Macapá.

Macapá é como uma mãe que a
Todos os filhos quer agradar.
Ela acolhe aqueles que aqui chegam
Com o propósito de ficar.

Minha cidade é bonita, possui
Riquezas sem par, cortada pela
Linha do Equador, banhada pelo
Rio-Mar, minha cidade é Macapá.

De todas as riquezas que minha
Cidade possui, uma está em primeiro lugar.
É o povo macapaense que engrandece esse lugar!

Parabéns Macapá!