O lançamento da coletânea Poesia na Boca da Noite

 

A poesia amapaense foi o destaque desta terça-feira no estande da Editora Perse na Bienal Internacional do Livro com o lançamento da coletânea Poesia na Boca da Noite.
Em lugar de destaque na vitrine e mesas e nas telas de Ipad, o livro chamava a atenção. Poetas e escritores de vários estados estiveram no estande para conhecer o grupo de poetas do “tão distante Amapá”. E tanta gente parabenizou o grupo, tanto pela qualidade da poesia produzida no Amapá como pela alegria.

As crianças eram uma atração à parte. Professores, escritores, poetas e amantes da literatura demonstraram surpresa com “tanta criança no Amapá se dedicando à poesia”. Mais: poesia de qualidade indicando que se continuarem nesse caminho dentro de algum tempo passarão a ser reconhecidos em todo o país.

O Movimento Poesia na Boca da Noite ganhou a simpatia de todos também pela alegria. E, além de declamar, cantou e dançou marabaixo e falou da cultura e culinária amapaenses. Os pergaminhos enfeitados com caroços de açaí era a deixa para se falar como é o nosso açaí, como é tomado e como desenvolve a economia local.

A cantora Oneide Bastos tirava o ladrão e todos cantavam e dançavam marabaixo

Poetas de outros estados manifestaram o desejo de visitar o Amapá para viver a experiência de declamar sobre o Pano da Poesia à beira do mais belo rio do mundo na cidade onde “a lua minguante brilha mais que a lua cheia de qualquer outro lugar”. Há também propostas de se fazer intercâmbio e todos receberam convite do escritor, poeta e jornalista Valdeck Almeida de Jesus para participar de antologias e concursos organizados por ele. Valdeck é baiano, tem vários livros publicados e é membro da Academia de Cultura da Bahia.

A Editora Perse já convidou o Movimento Poesia na Boca da Noite para a próxima Bienal. E claro que aceitamos o convite, afinal a Perse cuidou do livro e do lançamento não só com profissionalismo mas com imenso carinho. E aproveitamos para registrar no blog nossos agradecimentos ao diretor Antonio Hércules Junior e toda equipe da Perse por todo apoio que nos foi dado. Agradecemos também publicamente à empresária Cléia Mesquita que bancou a edição do livro e doou algumas passagens, ao governo do Estado, em especial a primeira-dama Cláudia Capiberibe, e ao presidente da Assembléia Legislativa Junior Favacho que contribuíram com passagens e ajuda de custo para hospedagem e alimentação.

Declamando

Veja mais fotos na página da Editora Perse clicando aqui

Com Ziraldo na Bienal

Apresentei ao Ziraldo os poetinhas do Boca da Noite e ele fez questão de levar a garotada para uma sala vip. Lá conversou com nossos poetinhas, abraçou cada um, deu valiosas dicas e ao final do bate-papo disse que quer conhecer mais poesias deles e pediu que fossem enviadas a ele por e-mail.
Ziraldo foi super carinhoso com nossos poetinhas. Para essas crianças este foi um dos momentos mais importantes, um momento mágico, um sonho se realizando ali. Alguns ficaram tão emocionados que num primeiro momento mal conseguiam falar, mas depois foram se soltando e passaram a contar o que fazem além de poesia e o que gostam de ler. Entre os livros preferidos deles está “O Menino Maluquinho”.


Coletânea “Poesia na Boca da Noite” será lançada nesta terça-feira na Bienal

Será lançada nesta terça-feira, 14, a coletânea “Poesia na Boca da Noite” na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. O livro reúne poemas de 23 poetas amapaenses e textos contando a história do Movimento que nasceu em janeiro do ano passado e ganhou as ruas, praças e calçadas em Macapá se tornando a grande referência da poesia amapaense.

O lançamento ocorrerá a partir das 11h, no estande da Editora Perse, onde 19 integrantes do Movimento estarão autografando a obra.

Desde sexta-feira o livro já está à venda na Bienal (foto) e também pode ser adquirido pela internet no portal da Perse. Nos próximas dias será disponibilizado em várias livrarias

Poesia na Boca da Noite em Sampa

O Movimento Poesia na Boca da Noite está em São Paulo desde  sexta-feira para o lançamento da coletânea “Poesia na Boca da Noite” e do meu livro de poemas e crônicas “Paisagem Antiga”.
Nestes quatro dias, os poetas amapaense já agitaram bastante na terra da garoa, espalhando e declamando poesias em praças, estações do metrô, dentro de ônibus e metrôs, panificadoras.
Na correria, o tempo tem sido para escrever. Mas eis algumas fotos:

Na Bienal, Andrezza, Julinha e Aiury receberam o carinho de Maurício de Souza

Deu a louca nos livros… e nos poetas do Amapá também

Nossos poetinhas fazem pose com suas credenciais de autores. “Agora sou uma autora de verdade”, disse Alice ao receber sua credencial

Depois de uma rodada de poesia, ums rodada de pastel na Feira da Aclimação

No domingo os poetas visitaram o Solo Sagrado de Guarapiranga e à beira da represa estenderam o pano da poesia e recitaram

Daqui a pouco postarei mais fotos, informações sobre o lançamento e o encontro dos nossos poetinhas com Ziraldo

Meu livro na Bienal

No dia 17, sexta-feira, estarei lançando na Bienal Internacional do Livro, das 14h às 16h, o livro “Paisagem Antiga” .

Editado pelo Grupo Editorial Scortecci, com prefácio de Paulo Tarso Barros (presidente da Associação Amapaense de Escritores), o livro tem cem páginas  e é dividido em duas partes: poemas e crônicas.
A ilustração da capa, que retrata a minha rua nos anos 70,  foi feita pela desenhista amapaense Ana Maria Vidal Barbosa.

O lançamento será no estande da Editora Scortecci e Rede Brasileira de Escritoras (Rebra).

A partir da semana que vem Paisagem Antiga” estará à venda nas principais livrarias do país, entre as quais a Livraria Cultura, Asabeça e Martins Fontes.

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Você é meu convidado/a especial

Além dos poetas do Movimento Poesia na Boca da Noite e dos meus familiares, vários amigos estão indo de Macapá para o lançamento do meu livro, como o senador Randolfe Rodrigues, Wagner Pantoja, sub-prefeita Ediane Borges, Eduardo Tavares, poetisa Carla Nobre (membro titular do Conselho Estadual de Cultura), entre outros. A presença dos amigos me deixará imensamente feliz e desde já fico muito agradecida a todos vocês.

O prefácio de Paisagem Antiga

O que dizer dos textos de Alcinéa – os poéticos e os que, não sendo necessariamente poesias, mas crônicas, ou “cronipoemas”, estão recheados de cores (a primazia do azul infinito), sabores, ternuras, estrelas, flores, pássaros, borboletas, amores e até camaleão – ou seria iguana?

Leio tudo, como se dizia antigamente, de um fôlego, e percebo que os poemas e os “cronipoemas” estão com as palavras exatas, sem aqueles esquadrões de adjetivos.
Parece que sua mão de poeta e mente treinada nos textos claros, objetivos e sintéticos do jornalismo, ao juntar a alquimia verbal que o seu estilo poético inato tão bem o demonstra, surgem imagens plenas de ternura, sensibilidade e aquela saudade e nostalgia dos tempos da infância que ficou cristalizada na memória poética – que tem o dom de captar o sentido do belo como se plantasse em um jardim flores multicoloridas que desabrochariam ao nascer do sol e continuariam a embelezar a noite, o orvalho e as estrelas – principalmente as azuis da sua Via Láctea setentrional.

Alcinéa Cavalcante teve o privilégio de desenvolver seu próprio estilo, de uma leveza admirável, cheio de nuances, de frases sintéticas que atingem a essência da poesia lírica. São versos que fluem no texto como a leve e cálida brisa equatorial que nos afaga nas noites de poesia, a impulsionar suavemente os seres angelicais tão presentes na sua vida e obra.

Não é só um jogo de palavras quando ela confessa: “Vivo do ato de escrever”. E escrevendo registra seus sentimentos de forma a nos seduzir, a nos convidar a percorrer, de mãos dadas, pelos poemas que escolheu para consolidar seu lugar de destaque na poesia brasileira contemporânea.

A bela e comovente crônica que revisita a memória sagrada da professora Delzuite Cavalcante, sua mãe, a traz de volta, a coloca mais uma vez no plano existencial e familiar como se ela estivesse em viagem, ou mesmo dando aulas ou fazendo um café na cozinha para servir à família numa manhã morna e calma da Macapá territorial. É um texto construído com sentimento, da sua história de vida, mas que atinge a dimensão universal do amor filial, do infinito amor que tece os sustentáculos da nossa existência e nos torna mais fraternos.

Paulo Tarso Barros
Presidente da Associação Amapaense de Escritores

A capa e contracapa do livro mostram como era a Avenida Almirante Barroso na década de 1970. Pouco restou dessa paisagem.

Poesia na Boca da Noite na Bienal

No dia 14, às 11h, será lançada a coletânea “Poesia na Boca da Noite”, do Movimento Poesia na Boca da Noite.
A coletânea, de 144 páginas, reúne poemas de 23 poetas amapaenses com idade entre 7 anos e 72 anos e traz textos contando a história do Movimento que começou em janeiro do ano passado com apenas quatro poetas (Rostan Martins, Alcinéa Cavalcante, Osvaldo Simões e Glória Araújo) na calçada da casa de Alcinéa Cavalcante e tomou as ruas, escolas, hospitais, praças e tantos logradouros públicos, chegando a reunir em várias ocasiões até mais de uma centena de poetas e amantes da poesia, como nas escolas Azevedo Costa e Santina Rioli.

O lançamento da coletânea será das 11h às 14h, no estande da Editora Perse (estande 44) na Rua N do Pavilhão de Exposições do Anhembi.
Vinte e um integrantes do Movimento estarão autografando a obra.
Além do lançamento na Bienal, o Movimento Poesia na Boca da Noite estará nas praças de São Paulo estendendo o Pano da Poesia, montando varais e recitando poemas, a exemplo do que faz em Macapá todas as sextas-feiras.

A coletânea Poesia na Boca da Noite foi patrocinada pela empresária Cléia Mesquita. Quanto as despesas  com passagens aéreas, diárias de hotel, alimentação e transporte uma parte ficou por conta dos próprios integrantes  do Movimento e outra parte por conta do apoio financeiro recebido do Governo do Estado, via Confraria Tucuju (R$ 11 mil) e Assembléia Legislativa (R$ 7 mil). A empresária Cléia Mesquita doou ainda cinco passagens aéreas.
O Movimento viaja para São Paulo na madrugada do dia 10 e retorna dia 20. São dez dias divulgando a poesia e a cultura do  Amapá em São Paulo.

O livro Poesia na Boca da Noite já está à venda no Portal da Editora Perse. Veja aqui

O Amapá na Bienal Internacional do Livro

Começa nesta quinta-feira,9, e vai até o dia 19 a 22ª Bienal Internacional do Livro. Este ano a Bienal  homenageia o centenário de nascimento de Jorge Amado e Nélson Rodrigues e os 90 anos da Semana de Arte Moderna.

Durante 10 dias o Anhembi será palco de uma rica programação cultural e é lá que escritores, leitores, livreiros, editores, intelectuais do mundo inteiro se encontram. (Veja aqui a programação)

E o Amapá estará presente.
No dia 14 será lançada a coletânea “Poesia na Boca da Noite“, do Movimento Poesia na Boca da Noite, e no dia 17 o livro de poemas e crônicas “Paisagem Antiga” de Alcinéa Cavalcante.

Uma entrevista do poeta, jornalista e escritor Alcy Araújo

Nesta semana em que a Biblioteca Pública Elcy Lacerda reinaugura a Galeria Alcy Araújo, retirei do fundo do baú  esta entrevista que o poeta, jornalista e escritor Alcy Araújo Cavalcante concedeu no dia 6 de novembro de 1981, na Rádio Equatorial, aos repórteres e radialistas Pedro Silveira e Edivar Mota.

Pedro – Você está disposto a conceder a entrevista e responder perguntas mesmo indiscretas?
Alcy
– Em primeiro lugar não gosto de dar entrevistas nem de entrevistar. Mas a seqüência tem que ir ao ar e eu subo ao patíbulo.

 Pedro – Qual é a sua, poeta? Você é profissional de imprensa. Com mais de 40 anos de tarimba…
Alcy
– Certo. Mas não gosto de conceder entrevistas porque nem sempre as perguntas são inteligentes. Agora mesmo não sei se vocês vão fazer perguntas inteligentes.

Pedro –  Não se preocupe que eu e o Edivar bolamos algumas perguntas inteligentes. Afinal de contas a gente integra o que você já chamou de “trio de ouro” da radiofonia amapaense. Lá vai a primeira pergunta: Você parece ter idade indefinível e possui traços fisionômicos caboclos, amazônicos. Por que?
Alcy – Tenho a idade que aparento. Nem um ano a mais, nem um ano a menos. Vim do espaço sideral e aterrissei em Peixe-Boi, na extinta Estrada de Ferro de Bragança, Pará, Brasil, município de Igarapé-Açu.

Pedro – Quer dizer que sua terra natal é Peixe-Boi?
Alcy – Exato. Por isso não sou carne nem peixe. Mas sou estradeiro como o doutor Alberto Lima, o doutor Pedrosa e meu compadre José Epifânio de Souza.

Pedro – Seu nascimento em Peixe-Boi justifica os traços caboclos. Mas, em que ano você chegou ao planeta Terra?
Alcy – No conturbado ano de 1924. Em janeiro, dia 7.

Pedro – Você aterrissou em Peixe-Boi. Edepois?
Alcy
– Fui crescendo. Aprendi a profissão de marceneiro, de polidor de móveis e de fazedor de versos e mais alguma coisa.

Pedro – Nesta alguma coisa está o jornalismo. Quando foi que começou?
Alcy – O jornalismo foi uma questão de salário e não de vocação. Eu ganhava salário mínimo, na marcenaria São Pedro, na Rua Sete de Setembro, em Belém, perto da Praça da Bandeira. Eram seis mil réis por oito horas de batente pesado. O jornal “A Folha do Norte”, do Paulo Maranhão, pagava oito mil réis por um plantão de revisão. Troquei a bancada da oficina por uma mesa de jornal. Daí a coisa foi indo naturalmente. Repórter de polícia, de esporte, de política, noticiarista, redator, secretário de redação, diretor, editor …. passei pelas redações do “O Estado do Pará”, “Pará Ilustrado”, “Diário Associados” e “O Liberal”.

No jornal O Liberal

Pedro – Como foi que você veio para o Amapá?
Alcy – Coisa de política. O Magalhães Barata, meu saudoso amigo, foi derrotado eleitoralmente para o governo do estado, depois de uma campanha terrível onde foi assassinado Paulo Euletério Filho, moço de grande inteligência, intelectual, que foi o primeiro chefe de polícia aqui do Território do Amapá integrando a equipe de Janary Nunes. Aí a coisa ficou difícil em Belém, não dava mais pra ficar lá. Então eu escrevi uma carta para o poeta Álvaro da Cunha, oficial de gabinete do governador Janary Nunes, dizendo que aceitava um convite que me havia sido feito para trabalhar no Amapá, em 1947. Vim, fiquei, estou aqui.

Alcy com o poeta, amigo e compadre Álvaro da Cunha

Edivar – Como funcionário público você venceu aqui no Amapá?
Alcy – Funcionário não vence. Tem vencimentos. Eu hoje em dia nem isto tenho. Tenho proventos de aposentado.

Edivar – Mas você ocupou cargos de relevo em algumas administrações. Eu lembro que você ocupou os cargos de diretor da Imprensa, oficial de gabinete, chefe do gabinete do governador, secretário geral. Falta alguma coisa?
Alcy – Falta. Fui chefe de expediente da Secretaria Geral, chefe da Assessoria Técnica do governador, assessor técnico da Câmara, diretor da Difusora, assessor de imprensa e assessor de ralações públicas.

Edivar – Isto compensou sua vinda para o Amapá?
Alcy – Compensou. Valeu pelo que foi possível realizar numa terra em estágio pioneiro de desenvolvimento. Eu sou testemunha e participante de um período da  história do Amapá.

Pedro – Dizem que você é um técnico em idéias gerais. O que você realizou nessa estranha profissão?
Alcy – Muitos trabalhos. Alguns bem gratificantes moralmente. Tutu mesmo não deu. Atuei na elaboração do primeiro plano qüinqüenal da SPVEA e no plano de emergência para o mesmo organismo após o golpe de 1964. Esses trabalhos carrearam grandes recursos para a região.

Pedro – Um aparte. A SPVEA foi transformada no que é hoje a Sudam.
Alcy – Exatamente. Sou autor do quadro de pessoal da Câmara de Macapá e do plano de classificação do legislativo macapaense. Integrei a equipe que elaborou os projetos de desenvolvimento do Amapá, para o governo Jânio Quadros. Foi uma experiência frustrante. Nos dia em que a equipe concluiu os trabalhos o homem da vassoura renunciou. Mas existem outros trabalhos, como conferências, projetos, monografias e o mais ….

Pedro – E na literatura, o que você fez?
Alcy – Escrevi. Poemas, contos, crônicas que andam por aí em livros, antologias, suplementos literários e esta coisa toda.

Pedro – Há informações de que você vai lançar mais um livro
Alcy – Os originais do livro “Poemas do Homem do Cais” já se encontram no Rio de Janeiro e o lançamento está previsto para dezembro, quando completarei 40 anos de profissão como jornalista.

Pedro – Por falar nisto, como jornalista quais são os destaques de sua vida profissional?
Alcy – Não há destaques. Como jornalista a gente escreve para o dia e pronto. É o fato passando. É a ocorrência diária.

Pedro – Mas você foi contemplado com “menção honrosa” em concursos de reportagem e tem seu nome incluído em antologias e enciclopédias até no estrangeiro. Não considera isto como destaque?
Alcy –  Quando eu escrevi a reportagem “Amapá – verde Território da esperança” eu não visava prêmio, mas mostrar o Amapá para o leitor dominical. Aí deu “menção honrosa” e isso foi bom. Quanto as antologias e enciclopédias estão por aí. Modernos Poetas do Amapá, Brasil e Brasileiros de Hoje, Grande Enciclopédia da Amazônia, Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira e outras.

Edivar – Você disse que não gosta de entrevistar. Qual é o motivo?
Alcy – É que o entrevistado sempre veste roupa limpa por cima da roupa de baixo, nem sempre imaculada. Diz meias verdades, meias mentiras e, quando percebo isto, fico chateado.

Edivar – Quem você já entrevistou?
Alcy – Muita gente. Assassinos, dignatários da Igreja, ladrões, políticos, presidentes e ministros da República, governadores, atletas, artistas, intelectuais. Todo mundo. Inclusive a Rachel de Queiroz, a pessoa mais difícil de entrevistar que eu já encontrei. Nesta época em que a realeza está em baixo astral, quando se diz que vão restar apenas cinco cabeças coroadas – que são as quatro do baralho e a da Inglaterra – eu já entrevistei um rei. (aqui Alcy ri)

Pedro – Peraí, Alcy, que rei foi este?
Alcy – Foi o Sacaca, rei momo do nosso carnaval.

Edivar – De que é que você gosta?
Alcy
– Gosto de flores, de juventude, de gente bonita passando, de mar, de noite, de anjos, de crianças sorrindo, de pato, pato vivo, pato assado, pato no tucupi e de outras coisas que Deus deve gostar também.

Edivar – E do que você não gosta?
Alcy – De gente burra, música tocando alto, gritos de dor, guerras, violência, bebida ordinária. E peço perdão por não gostar de alguma coisa que deve ser amada.

Pedro – Fale um pouco da sua vida particular
Alcy – Sou jornalista. Não tenho vida particular. Só tenho a pública. Acontece que há a vida íntima e desta eu não falo. A vida íntima pertence a cada homem, seja ele o Papa João Paulo II ou um gari da Prefeitura. De minha intimidade eu não falo.

Pedro – E das mulheres? Quantos amores em sua vida?
Alcy
– Ah, as mulheres. Acho que tenho um pouco de Vinicius de Moraes, mas ele ganhou o jogo. Ele deixou o gramado por morte e eu por aposentadoria.

O primeiro casamento com a professora Delzuite Cavalcante

Edivar – E como radialista, como é que tem sido?
Alcy – Tem pouca coisa pra dizer. Comecei lá pelos anos 40, na antiga PRC-5, Rádio Clube do Pará, nos tempos de Roberto Camelier. Depois estive fora dos microfones por uns 15 anos. Só retornei aqui no Amapá, numa emergência para apresentar o programa “Umas e Outras” do Agostinho Souza, na Rádio Difusora. Depois veio a Rádio Equatorial onde fui diretor de jornalismo. Em seguida, trabalhei na projeção e organização da Rádio Educadora. Fiz tudo ou quase tudo em rádio. Locução, produção, animação de auditório e o mais. Agora estou de volta aqui na nova rádio Equatorial.

Pedro – Fale agora do compositor.
Alcy – Na realidade não sou compositor, sou poeta e letrista. Tenho viajado muitas canções com Nonato Leal. Tenho parcerias com Aimoré Batista, Jacy Rodrigues, Nair Miranda e não sei quem mais.

Pedro – Você já venceu festivais e carnavais de rua
Alcy – Fui vencedor do Primeiro Festival da Canção Amapaense, com Nonato Leal. Com o mesmo parceiro consegui um segundo e um quinto lugar e com Jacy Rodrigues um segundo lugar. Nos carnavais de rua, de escola de samba,  consegui três primeiros lugares com Lendas e Mitos da Amazônia, Mãe Luzia e Banco do Brasil.

Pedro – Vamos parar. Uma vida como a do tio Alcy não cabe numa entrevista. Muita coisa deixa de ser perguntada e muita coisa deixa de ser respondida. Resta apenas saber uma coisa: você, Alcy, foi sincero?
Alcy
– Fui sincero comigo mesmo.

Pedro – E comigo, com o Edivar e com os ouvintes?
Alcy – Falei algumas verdades, algumas meias verdades e nenhuma mentira.

(Fotos: Acervo da família)

Galeria Alcy Araújo será reinaugurada na próxima sexta-feira, 3

Será reinaugurada sexta-feira, 3, a Galeria Alcy Araújo, no térreo da Biblioteca Pública Elcy Lacerda.
De acordo com a Secult, a galeria será “um cantinho de memórias, que guarda elementos do acervo pessoal do intelectual, escritor, poeta e jornalista Alcy Araújo, como manuscritos, cinzeiro, livros, fotos, escrivaninha, a primeira máquina datilográfica, sua caneta, entre outros“, e servirá também para exposições de artes plásticas, lançamento de livros e encontros literários.
A reinauguração está marcada para às 19h.

MINHA POESIA
Alcy Araújo

A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;
dos homens que ouviram o rumor do mundo pela primeira vez.
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso.
Ídolos, crenças, tabus, por que?
Se os homens choram suor na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
A minha poesia tem o ritmo gritante da sinfonia dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a lingada que se desprendeu,
do desespero sem nome
da prostituta pobre e mãe, do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios,
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão. – Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia? Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.
Cuidado, senhor, para o seu automóvel
não atropelar a menina!…

Alcy Araújo – o  poeta do cais, dos anjos, das borboletas, do jardim clonal, dos marinheiros e de tudo que merece ser amado – nasceu no distrito de Peixe Boi (PA), no dia 7 de janeiro de 1924.
Criança ainda transferiu-se com a família para Belém, vivendo depois em pequenas cidades da região norte para onde seu pai, Nicolau Cavalcante, era destacado para implantar os serviços de Correios e Telégrafos.
De retorno a Belém, Alcy cursou a Escola Industrial tornando-se mestre marceneiro e de outras especialidades relacionados ao ofício, que exerceu por algum tempo.

Na redação do jornal “Folha do Norte”, em Belém

No entanto o talento literário, a vocação pelo jornalismo e um precoce desenvolvimento intelectual levaram Alcy a trocar a bancada da oficina pela escrivaninha do jornal, em 1941, com 17 anos de idade. Por mais de uma década trabalhou nos principais jornais do Pará como repórter,articulista,  redator e chefe de reportagem, entre eles a Folha do Norte, O Estado do Pará e O Liberal.
Veio para o Amapá na década de 50, trazido pelo poeta e amigo Álvaro da Cunha. Aqui exerceu importantes cargos, assessorou vários governadores, dirigiu jornais, lutou pela emancipação política e administrativa desta região, combateu a exploração dos recursos naturais, fez importantes trabalhos de pesquisa sobre rizicultura, erosão dos solos, pesca no litoral, entre outros. Contudo, acredito que a maior contribuição dele ao Amapá deve ser aferida pela sua imensa e constante participação na vida intelectual e artística – tanto através da imprensa, como nos demais instrumentos e instâncias da cultura amapaense.
Amante das artes, foi ele que lutou, ao lado de R.Peixe, pela criação da Escola de Artes Cândido Portinari e do Teatro das Bacabeiras.

“Aqui estão as minhas mãos, falando palavras feitas de pássaros e de ausências e cantando canções sonhadas em segredo.” (Alcy Araújo)

Junto com Álvaro da Cunha, Ivo Torres, Arthur Nery Marinho e Aluízio da Cunha, movimentou o segmento cultural amapaense criando clubes de arte, promovendo noites lítero-musicais, apoiando artistas plásticos,  fundando e dirigindo revistas culturais, difundindo a cultura do Amapá por este Brasilsão, entre mais tantas coisas que deixariam imenso este texto se fossem listadas aqui.

“O Alcy  foi um dos mais macapaenses de todos os paraenses que ajudaram a desenvolver o Amapá” (Hélio Penafort)

Foi editor, noticiarista, diretor, colunista, articulista e editorialista de vários jornais amapaenses. Jornalista emérito, arguto analista  dos problemas sócio-econômicos do Amapá, foi na poesia que Alcy Araújo universalizou mais profundamente seu talento. É o único poeta do Norte a figurar na “Grande Enciclopédia Brasileira Portuguesa”, editada em Lisboa. Está também na enciclopédias  “Brasil e Brasileiros de Hoje” , “Grande Enciclopédia da Amazônia”, e em tantas outras obras como “Introdução à Literatura”, “Poesia do Grão Pará”, Antologia Internacional Del Secchi, Coletânea Amapaense de Poesia e Crônica, Antologia Modernos Poetas do Amapá e coletânea “Contistas do Meio do Mundo”.

Livros – Em 1965, pela Editora Rumo, foi lançado seu primeiro livro: Autogeografia (poemas e crônicas). Em 1983, comemorando os 40 anos de Alcy dedicados à poesia,  a Editora do MEC lançou no Rio de Janeiro seu livro “Poemas do Homem do Cais” e em 1997 foi lançado pela Associação Amapaense de Escritores o livro “Jardim Clonal”.

Numa noite de sábado, 22 de abril de 1989, Alcy Araújo partiu para o cais definitivo levado pelas mãos do seu Anjo da Guarda. Partiu deixando inéditos, prontinhos para publicação, os livros “Ave Ternura”, “Histórias Tranquilas”, “Cartas pro Anjo”, “Mundo Partido”, “Terra Molhada”, “Tempo de Esperança”, “Poemas pro Anjo do Natal”, entre outros, que a família tem esperança de um dia vê-los publicados e sonha com a publicação da “Poesia Completa”, deste que foi o maior poeta do Amapá.
Alcy Araújo Cavalcante, meu pai, tinha a alma pura,  de criança que acredita no Natal e na Esperança e assim cheio de esperança colocou sua poesia a favor da luta por um sociedade melhor, livre das desigualdades e das injustiças.

Participação
Alcy Araújo

Estou convosco.
Participo dos vossos anseios coletivos.
Vim unir meu grito de protesto
ao suor dos que suaram
nos campos e nas fábricas.

Aqui estou
para juntar minha boca
às vossas bocas no clamor pelo pão
sancionar com este rumor que vai crescendo
a petição de liberdade.

Estou convosco.
Para unir meu sangue ao sangue
dos que tombaram
na luta contra a fome e a injustiça
foram vilipendiados em sua glória
de mártires
de heróis.

Vim de longe
percorrendo desesperos.
Das docas agitadas de Hamburgo
das plantações de banana da Guatemala
dos seringais quentes do Haiti.
Vim do cais angustiado de Belém
dos poços de petróleo do Kuwait
das minas de salitre do Chile
Passei fome nos arrozais da China
nos canaviais de Cuba
entre as vacas sagradas da Índia
ouvindo música de jazz no Harlem.
Afundei nas geladas estepes russas.
morri ontem no Canal da Mancha
e hoje no de Suez.
Tombei nas margens do Reno
e nas areias do Saara
lutando pela vossa liberdade
pelo vosso direito de dizer
e de amar.

Estou convosco.
Voluntariamente aumento o efetivo
dos que não se conformam
em viver de joelhos
morrendo sufocando lágrimas
nas frentes de batalha
nas prisões
para dar à criança recém-parida
o riso negado aos vossos pais
o pão que falta em vossas mesas.

Meu filho
e o filho do meu filho
saberão que o meu poema não se omitiu
quando vossas vozes fenderem o silêncio
e ecoarem inutilmente nos ouvidos de Deus.

Alcy não se separava da sua máquina de escrever – uma olivetti portátil – nem quando precisava ficar internado para cuidar da saúde. Na foto, o poeta internado no Hospital São Camilo, recebendo a visita do seu amigo e compadre padre Jorge Basile – que também era jornalista

POR ISTO HOUVE SILÊNCIO
Alcy Araújo

O homem havia sido feito assim: bom, humilde, terno para viver dentro de um mundo cheio de revolta. E o mundo foi angustiando o homem, rasurando a sua ternura, arranhando a sua bondade. Por isto que o homem, vítima de muitos desencantos, começou a fazer o que não devia, a andar de cabelos ao vento, telefonar, freqüentar o cais.

A cada sofrimento, o homem fazia mais uma tolice e magoava o seu Anjo. E o Anjo, pobre Anjo aflito, chorava lágrimas imensas, que cresciam em seus olhos como pássaros de luz.

Daí então o Anjo não pôde ter mais um minuto de distração. Mal ele se distraía e lá ia o homem por aí, pés descalços, braços nus em direção ao seu desconhecido, pisando espinhos que nasciam das rosas vermelhas.

Mesmo assim o homem sabia que não estava só, como naquele começo de tarde em que teve vontade de comprar uma bicicleta azul e um cavaquinho. Sabia também que não estava só como naquele poema em que o amor morria por falta de azul e os pássaros brancos deixaram de nascer.

E por ser assim o homem falou ao Anjo que a felicidade existia. Apenas estava além das lágrimas contemporâneas, colocada depois da dor, na continuidade da espera, na renovação de todas as esperanças.

E falou isto quando as estrelas gotejavam silêncio dentro da noite. A música se enovelava no coração e o poema era uma oração nascente.

Então o Anjo pegou o homem pela mão e caminharam em direção ao mar. Foi quando Deus sorriu e achou que o que tinha feito era bom. E descansou, porque era chegado o sétimo dia e na distância Anjo e homem se integravam no azul do mar. Por isto houve um grande silêncio no coração das coisas…