A morte do peixe

A MORTE DO PEIXE
Rui Guilherme

Andrés Segovia, primeiro Marquês de Salobreña, guitarrista espanhol, é considerado o pai do violão erudito moderno. Resgatou o instrumento usado nas tavernas onde se cultua o flamenco, levando-o para o campo da música erudita, onde atingiu culminâncias. Guarde-se este ilustre sobrenome Segovia para o tema destas reflexões.

Se não me trai a memória, foi Abraham Lincoln quem disse:- “Nunca me arrependi pelas coisas que não falei. É sempre melhor manter a boca fechada e deixar que todos em volta pensem que você é um idiota do que começar a falar e desfazer a incerteza.” Se não foi literalmente assim, foi nesse rumo. Si non è vero, è ben’ trovato…Guarde-se, também, este pensamento. É palavra chave para o texto. Continue lendo

Sobre o fim do foro: o jogo Câmara x STF

Sobre o fim do foro: o jogo Câmara x  STF
Por Randolfe Rodrigues
Hoje a CCJ da Câmara deu o pontapé inicial para o longo caminho que a PEC do fim do foro terá que atravessar para ser aprovada naquela Casa. Mesmo sendo só um passo inicial, a proposta recebeu ataques candentes de todos os lados, o que mostra que a proposta sofrerá muita dificuldade para ser aprovada, diante da ampla rejeição dos deputados. Na verdade, a PEC só será aprovada caso o STF limite o foro para os políticos, como uma retaliação: a ideia é “se limitam o foro para políticos, vamos dar o troco, limitando também o foro dos juízes e membros do MP”. O tom do relator, Efraim Filho (DEM-PB), deixou isso cristalino.
Mas o julgamento no STF ainda terá pela frente um enorme obstáculo: Gilmar Mendes, que já sinalizou que pedirá vistas e poderá paralisar por meses ou anos o desfecho da votação.
Se Gilmar “matar no peito”, sentando em cima da proposta com seus folclóricos pedidos de vista, o julgamento, que já formará maioria amanhã mesmo, ficará suspenso indefinidamente.
Aí o processo na Câmara tende ser paralisado ou mantido em banho-maria também. O consórcio das mais diferentes legendas já deixou clara sua antipatia pela medida. Chegaram ao descaramento de dizer que a proposta acaba com a imunidade parlamentar por opiniões, votos e palavras, o que não é verdade. Trata-se de pura cortina de fumaça para desviar do óbvio: o que incomoda a sociedade não são os impropérios desferidos por boa parte do Parlamento nas tribunas, mas sim as organizações criminosas plurais e partido-diversas que se avolumam por lá.
Pelo visto, o desfecho do fim do foro, que supostamente deixaria essas pobres Excelências “vulneráveis” (mesmo podendo ser livradas da cadeia ou de cautelares por seus pares, como no caso Aécio e Picciani) segundo os profetas da impunidade, ainda está longe de se colocar no horizonte das instituições pátrias.

Ainda há muito tempo – Dom Pedro José Conti

‘Ainda há muito tempo’
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Certa vez, um rei organizou esplêndido festim. Para a alegre e feliz reunião convidou muitos dos seus súditos, mas não assinalou a hora em que deviam comparecer. Os mais perspicazes e previdentes vestiram, desde logo, seus trajes finos, adornaram-se com suas joias de maior realce e aguardaram pacientes o momento em que deviam ser recebidos no palácio do príncipe. Os tontos pensavam: – Ainda há muito tempo -, e se entregavam descuidados a seus insensatos caprichos. De improviso, soou a hora do festim e uns e os outros correram para a régia morada. O príncipe avistou os precavidos, que estavam decentemente vestidos e preparados, e os recebeu com alegria. Atentou, irritado, nos tontos, indecorosos e desasseados, e os expulsou de sua presença. Continue lendo

“A Amazônia não é nossa”

A Amazônia está sendo legalmente convertida em propriedade privada de poucos. E esta é a maior perversão. Está acontecendo dentro da lei.

Quem defende a floresta com o seu corpo está morrendo. A tensão é crescente, a violência vai aumentar, os avisos vem de todos os lados.

Leia  o excelente artigo “A Amazônia não é nossa”, de Eliane Brum, publicado ontem no El País.

Joias para se distinguir

Joias para se distinguir
Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

 Lemos, mais uma vez, no Talmude, o livro que comenta e exemplifica a Lei Judaica, que um jovem príncipe, desejando partir e viajar pelo mundo, pediu ao pai que lhe fornecesse dinheiro, vestimentas adequadas e joias preciosas. Dessa maneira, ele se distinguiria dos demais. Respondeu-lhe o pai: “Veste o meu manto de púrpura; coloca no dedo o anel de rubis e a minha coroa de ouro na cabeça. Todos te reconhecerão como meu filho”. Diferente foi o que Deus disse a Israel: “Acolhe a Lei; pratica os meus mandamentos e serás reconhecido como o povo de Deus!”. Continue lendo

Três coisas – Dom José Conti

Três coisas
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Um estudante medíocre, de pouca vivacidade, reclamou com o seu mestre que lhe faltavam belas roupas, uma chácara bem produtiva e uma linda mulher, justamente as três coisas que, segundo o Talmude, o livro que interpreta, comenta e exemplifica a Lei judaica, servem para dilatar a inteligência.

– Veja bem, meu filho – respondeu-lhe o mestre com voz calma e suave – essas três coisas servem só para desenvolver a inteligência do ser humano e não para criá-la. No seu caso… não lhe adiantariam em nada. Continue lendo

O Brasil desassombrado pelas palavras-fantasmas

O Brasil desassombrado pelas palavras-fantasmas
Eliane Brum

Como as palavras podem voltar a dizer no Brasil? A atual crise é também uma crise de palavra, como já escrevi aqui. No sentido de que o movimento das palavras está interditado, como cartas enviadas que não chegam ao seu destinatário. Em parte isso se deve ao fato de que o absurdo tece o cotidiano, como a realidade brasileira não se cansa de provar. E o absurdo se alarga um pouco mais a cada dia. O que se chama de realidade objetiva tornou-se uma vivência do inconcebível. Embora hiperconectados por redes sociais, as palavras são apenas repetições que voltam para si mesmas. (Leia o artigo completo aqui)

Deus e os ídolos – Dom Pedro José Conti

Deus e os ídolos
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Certa vez, em Roma, alguns idólatras astuciosos questionaram o velho Rabi Simeão, que tinha o apelido de “Muito Sábio”. Disseram-lhe:

– Se o vosso Deus não gosta que as pessoas adorem os ídolos, porque ele, o Todo-poderoso, não destrói esses ídolos todos de uma vez?

Respondeu com presteza o sábio Rabi: – Se os homens adorassem coisas inúteis que o mundo não precisa, de certo, Deus os arrasaria. No entanto, eles adoram o sol, a luz, os astros e os planetas. Deveria o Senhor destruir a sua criação por causa dos estultos? Continue lendo

Onde está o meu beijo?

Onde está o meu beijo?
Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá

Regiane era uma criança alegre e inteligente. Lhe faltava algo, mas ela ainda não sabia. O pai e mãe dela trabalhavam muito. Era uma bela família e viviam felizes. Certa vez, quando Regiane tinha dez anos, foi passar uma noite na casa de uma amiga, colega da escola. Antes de dormir, a mãe da colega ajeitou os lençóis delas e Continue lendo