RUMO – A revista que projetou o Amapá

Há exatos 55 anos era lançada em Macapá a revista Rumo , a realização de um sonho de poetas, intelectuais e jornalistas amapaenses. Totalmente produzida no Amapá, a Rumo circulou em todo o Brasil e contava com correspondentes em vários estados. Era uma revista mensal e foi fundada por Ivo Torres, Alcy Araújo, Arthur Nery Marinho,Vilma Torres, Aluízio da Cunha, entre outros.

Considerada uma publicação de alta qualidade, foi identificada por críticos literários e renomados autores como um veículo de difusão cultural dos mais importantes do país. O primeiro número, que circulou em novembro de 1957, mostrava a participação do Amapá pela primeira vez em um Congresso Nacional de Jornalistas. Foi o VII Congresso, realizado em setembro daquele ano marcando o cinqüentenário da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). E o Amapá foi representado por Alcy Araújo.

O jornalista aproveitou a viagem para conhecer Brasília “e os trabalhos que se realizam no Planalto goiano para a instalação da futura capital do país“. Isto rendeu a matéria “Brasília – obra de saneadores, artistas e poetas”, tendo como subtítulo “Pioneirismo e técnica moderna erguem a cidade do futuro – Uma visita aos verdes altiplanos de Goiás”.

Uma matéria assinada por John H. Newman abordava a cultura da seringueira no Amapá, enquanto Paul Ledoux escrevia sobre agricultura, silvicultura e pecuária, e Amaury Farias sobre latifúndio; “A música no Território Federal do Amapá” era também destaque na primeira edição da Rumo, com matéria assinada por Mavil Serret, o pseudônimo de Vilma Torres.

Esta edição trazia também poemas de Fernando Pessoa, uma página de ciências, uma de economia e finanças, contos de Guy de Maupassant e de Almeida Fischer. Noticiava a morte do escritor José Lins do Rêgo, falava de teatro, de educação e traçava um perfil histórico de Macapá.

A revista – que trazia artigos e reportagens enfocando os mais importantes movimentos artísticos e culturais do Amapá, do Brasil e do exterior – inseriu a cultura amapaense no contexto nacional. Suas páginas recheadas de teatro, música, folclore, sabedoria popular, eram freqüentadas por ícones da época.
Por sua envergadura, a Rumo chegou a ter projeção internacional. “A Rumo conduz e explica o Amapá“, escreveu o ensaísta Osório Nunes. Uma crítica publicada no suplemento literário do jornal Diário de Minas, em outubro de 1958, assim se expressou sobre a revista: “Encontramos suas raízes na Semana de Arte Moderna. A sua vida constitui um resultado de descentralização cultural que houve a partir daquela data e que cada vez se acentua. Se fôssemos um Carlos Drummond, Mário de Andrade, um Vinícius de Morais ou Aníbal Machado, nada nos alegraria mais do que nos saber lido lá pelos confins do Brasil, no Amapá.”

Num tempo em que livros eram praticamente instrumentos de uma pequena elite, o jornalismo passou a ser utilizado como uma forma de intervenção social. Naquele momento o jornalismo tinha mais importância do que a literatura, porque ajudou a criar o impacto para despertar a sociedade mexendo com as pessoas. Para haver literatura era preciso um conjunto de coisas funcionando a um só tempo: crítica literária, leitores, debate, produção de livros, escolas… como um conjunto de elementos articulados. Daí a necessidade e a pertinência da revista Rumo, responsável pela articulação de todo um movimento que se consolidou com a projeção da obra intelectual do grupo de escritores amapaenses para além das fronteiras do Amapá.

A promoção do debate levou a revista a criar outros mecanismos de apoio à produção literária. E assim nasceu a Editora Rumo, que viria a publicar em 1960 a antologia Modernos Poetas do Amapá, o livro Quem explorou quem no contrato do manganês do Amapá, de Álvaro da Cunha (1962), e Autogeografia, livro de poesias e crônicas de Alcy Araújo (1965). A revista Rumo também deu origem ao Clube de Arte Rumo, que reunia poetas, pintores, músicos e artistas de teatro para discutir o que se fazia no Amapá e no Brasil no campo da literatura, da música e das artes cênicas e plásticas. Ao mesmo tempo em que promovia concursos de crônicas e poesias na busca de novos talentos.

 

Editorial do nº 1 da Rumo

“Uma revista de arte e cultura sempre evidencia um salto para o futuro. Uma nova publicação nascida de gente moça, naturalmente, pela seiva entusiasta que lateja, deixa no clima um nervosismo saudável. A revelação revolucionária de coisas inéditas. A quebra do silêncio. A casa limpa, com sol, sem teias de aranha.

Uma coletividade só representa alguma importância, sua voz é notada, seus filhos autenticados e o nome guardado e reconhecido – pela sua cultura.

O Território do Amapá orgulha-se de ser uma terra alfabetizada. Onde o índice de gente analfabeta é ínfimo.Com seus inúmeros estabelecimentos de ensino derramando, todos os anos, jovens instruídos, capazes de fortalecer e solidificar o seu corpo intelectual. Autêntico exemplo num Brasil triste que tateia, com a maioria do seu povo, sem saber ler.

Era necessário, portanto, um elemento coordenador para recensear e arar esse imenso e futuroso campo de inteligências. Duas tentativas já haviam sido feitas, com as publicações Latitude Zero e Mensagem. Mas estas tiveram, unicamente, o mérito de serem pioneiras de uma missão, que as suas forças, ainda verdes, não souberam agüentar.

Rumo, aproveitando essas experiências, através de um grupo de moços idealistas, estudiosos e cônscios do trabalho e responsabilidade da empresa, propõe-se a resolver e semear a terra intelectual amapaense.

Por certo, muitas noites se tornarão brancas. Mas a colheita não há de tardar.

Ivo Torres, Diretor-responsável”

Do meu velho álbum de retrato

Essa menina aí sou eu com 16 anos, em março de 1972. Minha rua não tinha asfalto, as casas não tinham muros, no máximo uma cerquinha de madeira pintada de branco. A maioria das casas era de madeira, cobertas de palhas ou telhas de barro e as janelas eram venezianas. A casa que aparece nesta foto era do professor de educação física e campeão de natação Anselmo Guedes, o “Tio”, que ainda mora no mesmo endereço, mas a casa mudou

Retrato em preto-e-branco

A foto é de 1974. São alunos do professor Tatsuo Nakanishi fazendo pose logo após um treino ou teste para mudança de faixa.
Esses meninos davam show no tatame e faziam o maior sucesso com as gatinhas. Sabe quem são e o que fazem agora? Conta aí na caixinha de comentário.
(Clique na foto para ampliá-la)

Lembras?

Este prédio era na avenida Procópio Rola esquina com a rua Jovino Dinoá. Era do Aero Clube de Macapá e depois Assembléia Amapaense.
Na Assembléia eram realizados os melhores e mais badalados bailes de Macapá ao som de conjuntos como Os Cometas e Embalo-7. Naquele tempo, as festas começavam às 22h e terminavam no máximo às 3h da madrugada.
E foi na Assembléia que muitas amizades iniciaram, muitos namoros começaram e que muita gente conheceu sua alma gêmea dançando de rostinho colado.
Lembra desse tempo?  Você frequentou o Aero Clube ou a Assembléia? Conta aí na caixinha de comentários.

Há 23 anos o poeta e jornalista Alcy Araújo partia para o cais definitivo

“Eu sou Alcy Araújo, poeta do cais. Proprietário de canções e esperanças
quando são mais nítidas as horas de sofrer.”

Alcy Araújo Cavalcante nasceu na Vila de Peixe Boi, no interior do Pará, a 7 de janeiro de 1924.

Criança ainda transferiu-se com a família para Belém, vivendo depois em pequenas cidades às margens do Amazonas, Madeira, Juruá e outros rios da região.

De retorno a Belém  cursou a Escola Industrial, tornando-se mestre marceneiro e de outras especialidades relacionadas com o ofício, que chegou a exercer por algum tempo.

No entanto, a vocação e um precoce desenvolvimento intelectual levaram Alcy Araújo a trocar a bancada da oficina pela mesa do jornal aos 17 anos. De  1941 até 1953 trabalhou nos jornais paraenses Folha do Norte, Folha Vespertina, Imparcial, O Estado do Pará e O Liberal.

Em meados de 1953 ingressou no funcionalismo do Território Federal do Amapá, onde exerceu cargos de relevo. Trabalhou em quase todos os jornais e emissoras de rádio amapaenses e fundou, com outros poetas e jornalistas, vários jornais e  revistas, como a Rumo e a Latitude Zero. Contudo a mais importante contribuição de Alcy Araújo ao Amapá deve ser aferida pela sua intensa e constante participação na vida intelectual e artística – tanto através da imprensa, como nos demais instrumentos e instâncias da cultura amapaense.

Alcy Araújo está na Antologia Modernos Poetas do Amapá, na Enciclopédia Brasil e Brasileiros de Hoje, na Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira, na Grande Enciclopédia da Amazônia, entre outras  antologias nacionais e internacionais.

Em 1965 lançou em Macapá o livro Autogeografia e em 1983 lançou no Rio de Janeiro “Poemas do Homem do Cais” e em 1996  foi lançado pela APES “Jardim Clonal”.

Alcy Araújo Cavalcante, meu pai, tinha a alma pura,  de criança que acredita no Natal e na Esperança e assim cheio de esperança colocou sua poesia a favor da luta por um sociedade melhor, livre das desigualdades e das injustiças.

Alcy Araújo partiu para o cais definitivo em 22 de abril de 1989. Deixou vários livros de poesia, crônicas, contos e romances inéditos. (Leia mais sobre Alcy  aqui )

Alcy Araújo, o jornalista, no jornal O Liberal no comecinho dos anos 50