Tirei do baú esse recorte pra mostrar pra vocês parte da coluna “Microfone Aberto” que o J. Ney escrevia na revista Latitude Zero em 1969
Categoria: Memória
Retrato em preto-e-branco
Crônica do Sapiranga
BOM DE LAÇO
Milton Sapiranga Barbosa
Em seu comentário sobre a crônica “ Briga Boa”, o meu bom amigo Ruy Miranda Maia, indagou se eu já havia postado crônica falando dos papagaieiros famosos da bela época de Macapá de antigamente, do tempo que se podia dormir com as janelas abertas sem medo de ser roubado. Finalizando o seu comentário, o Rubilac (um de seus apelidos entre os moleques da Favela), teve a ousadia de dizer, que se o fizesse, contando quem era bom de “laço”, não citasse meu nome, pois eu não era bom para estar entre eles.
Creio que deu um branco na memória de meu amigo. Ele esqueceu de quem

cortava as “curicas” e as “cangulas” dele e de seus irmãos, rente o chão, pois eles eram “penosos”, que não empinavam acima da fiação elétrica. Mesmo assim, empinando bem baixinho, não tinha jeito, eu e o Dudú da Lindoca, meu parceiro, dávamos rasantes formidáveis com nosso papagaio (cada um dava um laço) e cortávamos os moleques pindurando na mão, termo usado quando se cortava o opoente com muita linha. No meu tempo de moleque, era raro se avistar uma “rabiola” no ar, exceção feita pelo seu Jorge, que não tinha paciência para empinar um papagaio normal, que dirá um guinador. A rabiola, ele dizia, subia com mais facilidade e com pouco vento. E era verdade. Nos dias de hoje, o céu fica colorido com dezenas e dezenas de rabiolas e suas enormes caudas “rabos”. O moleque de hoje não sabe o que é um papagaio “Vezinho, um Tê, Borboleta, Careta, Caveira, Três Bolas, Xis, Japão” . Guinador então nem pensar. Alguns filhos de bacanas empinavam papagaio Caixa e Arraia, que a gente tinha maior facilidade para cortar. Hoje existem dezenas e dezenas de fabriquetas de rabiolas, até porque fazer pipas virou uma profissão rendosa, principalmente durante as férias escolares, julho e final de ano, que são os períodos reservados para a referida brincadeira.
Os mini Box, mercearias, botecos e similares, ficam abarrotadas de rabiolas nos mais variados padrões. Antes a maioria da molecada fazia sua cangula, curica ou papagaio, mas o Guinador, só alguns bambas faziam, pois tinha que sair com as talas certinhas na horizontal e vertical, caso contrário ficariam “pensas” (pendendo para um dos lados, obrigando colocar um contra peso pra contrabalançar).
Entre os mais famosos papagaieiros que conheci, o melhor deles, na minha modesta opinião, foi o MINDODÕ, do Bairro Alto, que nos deixou recentemente. Quando ele perdia um laço, coisa rara, não se fazia muita questão do papagaio três bolas que “chinava”, o mais importante era pegar um pedaço da linha encerada pelo Mindodô, para emendar na nossa e colocar no “gargo”. E o moleque só procurava dar laço roçando na linha do adversário com o pedaço da linha do Mindodô.
A linha mais usada era a da marca “espingarda” (não fabricam mais), nos números 30 e 40, as mais resistentes. A de número 50, menos resistente, só era usada para fazer o rabo e o peitoral (em duas voltas). Como nem sempre tinha dinheiro para comprar um tubo de linha 30 ou 40, cansei de levar tabefes da dona Alzira, porque filava de sua máquina de costura umas quatro ou cinco braçadas de linha para fazer minhas curicas, cangulas e papagaios, quando tinha entre 8 e 12 anos.

Além do Mindodô, conheci outros papagaieiros famosos, como: José de Sena Bastos, Zé Oleiro, Ratão, Macaquinho, Wálter Damasceno, Manoel Paixão, Carlito, Bereco, Durval, os irmãos Silas e Belmar Salgado, Pelado, Dedé, Olavo, Pau Preto, Dr. Rocha, Dr. Iacy, Ferramenta, Nossa Amizade, Timbó, Lelé, Izo, Jarbas, Miracy, Érick Lucien e o Vevê. Sim meus amigos, o primeiro prefeito eleito de nossa cidade, o Raimundo Azevedo Costa, era muito bom de laço. Seu cerol era respeitado no bairro alto e adjacências.
No bairro da Favela, o Mário, filho da dona Lili, era o campeão, com seus papagaios guinadores, vermelhos, principalmente quando estava na vantagem e revirava o laço: estar na vantagem, significa estar na Jovino e seu oponente no meio do quarteirão da Mendonça Furtado; revirar a laçada: é levar seu papagaio para a direita e depois retornar pela esquerda, pindurando (puxar a linha fazendo seu papagaio pegar pinura ( ir bem alto) no seio da linha do adversário; Nesse tipo de laço, na maioria das vezes, sempre quem estava na vantagem vencia.
Na brincadeira o grande momento era quando alguém gritava “Lá se Vem” (quando o papagaio era cortado e chinava). Já quem cortava, gritava na hora; “ Lá Se Poula” ou “Lá se Vai”.
Era regra geral: Pegar com vara não vale: se pegar, “Guisa”. Mas tinha uns moleques parrudos que as vezes quebravam essa regra e outros que tomavam o papagaio que um menor pegava. Bem, aí era o jeito apelar pra baladeira. Andei inchando costela de muito moleque na Favela.
Cerol fino era pra discair (soltar a linha por cima da linha do inimigo), já o cerol grosso ou meio bololo (era para pindurar, já explicado em tópico acima). Dos vidros para pilar os melhores eram de magnésia e de garrafão de vinho, mas também se usava de ampolas, lâmpadas e outros. Uns sabidinhos, molhavam papel verde ou papel amarelo e espremiam no cerol e diziam que era aço do pique ou aço do muriate. E a gente temia enfrentar, pois eles diziam que queimava a linha. Na santa ingenuidade de criança, não pensávamos que, se queimasse, a primeira a ser queimada era de quem encerava com aqueles ácidos.
Hoje existe muita polêmica sobre empinar papagaio ( pipa) em Macapá, mas no meu tempo não, se brincava à vontade e éramos tão felizes.
Retrato em preto-e-branco
Num outro verão
Por onde andam?
A foto é do início dos anos 80, no laboratório da Escola Integrada de Macapá (ex-GM), e mostra alguns dos meus queridos alunos do terceiro ano do segundo grau. Neste dia, já pertinho das férias, no final da aula, uma pose para a fotografia.
Não vou dizer quem são. Só digo que foi bom demais ser professora deles, jovens inteligentes, alegres, solidários, educados e de bom caráter. Meninos assim são inesquecíveis para os professores.
Vamos ver quem reconhece estes jovens, sabe por onde andam e o que fazem hoje, trinta anos após concluírem o segundo grau.
Retrato em preto-e-branco
Há 46 anos
A Rádio Equatorial foi desativada pela ditadura no dia 17 de junho de 1964. Segundo o historiador Edgar Rodrigues, para fechá-la o governo federal alegou “irregularidades na formação da sociedade”.
Você lembra dessa rádio? Era ali pertinho de onde é hoje a Praça Nossa Senhora de Fátima. Meu pai, o jornalista Alcy Araújo, era um dos diretores.
Em tempo: Esta rádio fechada pela ditadura não tem nada a ver com a Rádio Equatorial do empresário José de Matos Costa, o Zelito.
- « Anterior
- 1
- …
- 34
- 35
- 36