Lembras?

1966 019 Cinema Joao XXIIINas tardes de domingo um programa imperdível era assistir filmes do circuito nacional no Cine João XXIII. Era lá que os jovens marcavam o primeiro encontro com a namorada ou namorado. Quem chegava primeiro guardava a cadeira do outro (a) e quando as luzes se apagavam, aí sim, todas as cadeiras eram ocupadas e os novos casaizinhos assistiam o filme de mãos dadas. Nada de beijo na boca no primeiro encontro. Lembram?
Era lá também que a molecada trocava revistas e figurinhas. Muitos meninos iam ao cinema só para trocar revistas. Chegavam lá com aquele monte de  Zorro, Tarzan, Superman, Roy Rogers, dentre outras,  embaixo do braço (não se usava mochila nessa época). Às vezes a fila parava por causa das trocas. Era um tal de “já leu? Já leu? Não. Bora trocar essa por essa” e assim todos voltavam para casa felizes com “novas” revistas para ler que, claro, seriam trocadas no domingo seguinte.
Ah, depois do cinema os jovens  iam dar uma voltinha no trapiche Eliezes Levy (que era também um passeio obrigatório nas tardes de domingo) e se os pais tivessem dado um dinheirinho extra era como um “vale-sorvete”. Sim, quem com um dinheirinho no bolso deixaria de tomar um sorvete servido em taças de inox pelo garçon Inácio no Macapá Hotel? Lembro de colegas que passavam a semana toda juntando uns trocadinhos  (inclusive o dinheiro dado pelos pais para a merenda) só pra tomar no domingo o sorvete do Macapá Hotel.

Quem pulou desse trampolim?

1968 033 Macapá Piscina125Piscina Territorial – 1968

Naquele tempo as manhãs de domingo eram super animadas na Piscina Territorial com os chamados “banhos livres”. Os rapazes considerados “bambambãs” aproveitavam para fazer piruetas no ar pulando do trampolim mais alto. E com essas piruetas conquistavam corações. O salto mortal acabava virando um salto direto no coração das gatinhas. E muitos namoros – alguns evoluíram para casamento – começaram ali nas manhãs ensolaradas de domingo.
Ah, poucas mulheres se atreviam a pular do trampolim. Bom mesmo era ficar lá embaixo de olhos pregados nos meninos.
Você frequentava a piscina? Conta pra nós o que você viu, o que você lembra, o que você sabe daqueles domingos.

Eu ganhei

Em 1975, ano do jubileu de prata do estádio Glycério de Souza Marques, o Glycerão, eu ganhei da Federação Amapaense de Desportos-FAD (hoje Federação Amapaense de Futebol) esta linda medalha de Honra ao Mérito. Foi o reconhecimento do meu trabalho como repórter esportiva, numa época em que  os homens dominavam o jornalismo esportivo.
Guardo até hoje, com todo cuidado e carinho, essa medalha.
Era comemorado também os 30 anos de fundação da Federação.
1975 foi um dos anos em que o Amapá exportou mais jogadores para outros estados e a imprensa paraense referia-se ao então Território Federal assim: Amapá, um celeiro de craques. O presidente da Federação era Manuel Antônio Dias e o vice era Pedro Assis de Azevedo.
Hoje, o Glycerão – que também era chamado de Gigante da Favela – completa 63 anos. E vai ter comemoração a partir das 12h. E eu irei lá.

Outros carnavais

Em 1992 a escola de samba Unidos do Buritizal estreou no carnaval amapaense.

Homenageando o meu pai – poeta, jornalista e compositor de samba-enredo – com o enredo “Alcy Araújo Cavalcante, o poeta do cais”, a escola sagrou-se vice-campeã do grupo de acesso e eu estava lá, na Comissão de Frente.
Mata, eu e Ranolfo Gato

Vamos passear de bicicleta?

Lembras quando Macapá era a cidade das bicicletas? A gente saía por aí pedalando nas ruas bonitas, largas e tranquilas da cidade. De bicicleta se ia ao cinema, trabalhar, festas, escola, estádio… em todos os lugares inclusive havia estacionamento para elas. Os meninos adoravam batizar suas “magrelas” com nomes esquisitos, como Sacatrapa, Maria Pretinha, Gruébia… Quem podia trocava de bicicleta todo ano.
Mas, conta aí na caixinha de comentários, suas lembranças dessa época e as estripulias que você aprontava sempre pedalando uma magrela.

Obra do artista plástico Limeira

Retrato do poeta Alcy Araújo feito pelo grande artista plástico Limeira, que morreu hoje.  Este quadro pertencia ao Governo do Amapá, foi feito por Limeira para a Galeria Alcy Araújo, da Biblioteca Pública, por encomenda da Fundação Estadual de Cultura do Amapa (Fundecap), hoje Secretaria Estadual da Cultura. O quadro foi roubado da Biblioteca Pública no primeiro governo de Waldez Góes e até hoje nada foi feito para tentar recuperá-lo.

Limeira contou certa vez que passou quase um mês para fazê-lo. Não há um traço. São pontos. Limeira estimava em algo em torno de oito milhões de pontos e dizia que esta era a obra que mais gostava. Tanto que sempre ia à Biblioteca para vê-la, saber se estava sendo bem cuidado. Foi ele que descobriu que a obra tinha sido roubada quando um dia chegando lá não a viu na galeria, perguntou e ninguém soube informar.
Quando perguntado quanto valia aquele quadro, Limeira respondia que aquela era uma obra que não tinha preço. E dizia que uma das suas grandes tristezas tinha sido o roubo dessa obra e que esperava que um dia ela fosse recuperada.

Morreu hoje o artista plástico Limeira

(Fotos: acervo de Paulo Tarso)

O Amapá perde hoje, 3 de dezembro de 2012, um grande artista plástico, professor e, sobretudo, um expert em restauração. José Limeira da Silveira, que nasceu em 20 de agosto de 1944, desempenhou um papel fundamental como restaurador de centenas e centenas de peças arqueológicas que hoje fazem parte do acervo do Museu Joaquim Caetano e se constituem em um patrimônio de altíssimo valor cultural. Seutalento ficará para sempre preservado através desse trabalho impagável que ele desempenhou com arte e muita dedicação para preservar a riqueza arqueológica do Amapá.
(Texto: Paulo Tarso)

Há 64 anos – Revista do Amapá e República do Cunani

Dia desses enquanto  esperava o sono chegar fiquei folheando minha modesta coleção de revistas antigas. E hoje resolvi reproduzir aqui o editorial da edição número 8 Revista do Amapá, de novembro de 1948.
A revista era uma publicação do governo do então Território Federal do Amapá e nesta edição trazia como matéria de capa a história da vila de Cunani, que chegou a ser, por um curto período , um país independente.
Moedas da República do Cunani ficaram por muitos anos expostas no Museu Histórico-Científico Joaquim Caetano da Silva, em Macapá. De lá foram roubadas. (Sim. Aqui se rouba tudo)
Uma das grandes atrações da vila eram os sinos da capelinha, feitos na França. Uma verdadeira obra de arte.
Cunani, que fica a cerca de 300km de Macapá, está abandonada. Nem em época de campanha política a comunidade é visitada.
Neste editorial a revista diz que a história do Amapá clama por estudiosos. Passados mais de 60 anos podemos dizer que a nossa história ainda clama por eles.
O Amapá é carente de historiadores, é carente de obras sobre sua rica história.
Dito isto, vamos ao editorial:

O sino do Cunani

A história do Amapá clama por estudiosos. Aqui e ali encontram-se referências ligeiras a um passado cheio de aventuras, de lutas e de sonhos. Mas os episódios desenrolados na imaginação dos que caminharam pelos seus rios e estradas interiores, correndo atrás de pepitas, carregando a bateia, descendo nas ravinas das montanhas para, turvando os igarapés, buscar no seu leito a pinta do ouro, ainda não tiveram o seu escritor. É mina que está por explorar.
Nossa capa constitui um exemplo vivo. Ali está o sino do Cunani, da sua capela pequenina, porém rica de tradição. Foi fundido na França, com o melhor bronze, especialmente para a Nossa Senhora do Cunani. Obra de arte perfeita, construída com carinho exemplar.
Cunani tem sua lenda no mundo. No fim do século passado e no princípio do presente serviu de motivo para comentários internacionais. Quando o Amapá atraía milhares de aventureiros à busca de filões auríferos, assistiu lindas festas e alimentou grandes ambições.
Duas vezes tentaram transformar esse lugarzinho em país independente. A primeira foi em 1886, durante a visita do célebre naturalista Henri Coudreau. Os franceses ali residentes elegeram-no Supremo Magistrado da Nação do Cunani. Conta Elisée Reclus que Paris em peso desabou às gargalhadas com esta idéia da eleição do sábio de Vauves para a presidência de um país sem súditos!… O caso é que logo após S. Excia. cercava-se de uma comitiva respeitável e seleta: foi fundada a ordem nacional Étoile de Cunani, mas esta instituição continha mais comendadores, cavaleiros e titulares do que habitantes havia em Cunani… Um belo dia o Ministro das Colônias da França, diante dos protestos do Governo brasileiro, com a penada eficaz de um decreto, fazia riscar do mapa a República de Cunani … (Alfredo Gonçalves).
A segunda ocorreu em 1903. O francês Adolfo Brezet proclamou a República do Cunani, abrangendo todo o território ex-contestado. Mas os seus áulicos tiveram sua ilusão desfeita pela Polícia de Belém.
Cunani teve também a sua moeda, cunhada na França, como possuía cerâmica original.
Hoje apenas a capela guarda a lembrança do passado glorioso. As telhas da cobertura e os tijolos do piso vieram de Marselha. Encontram-se no altar lindos castiçais e crucifixos.
Atrás da povoação acham-se os restos da linha de tiro, onde os soldados franceses faziam exercícios. Existem cafeeiros plantados no século findo que dão frutos.
Fala-se também que debaixo da capela há um subterrâneo. Alguns afirmam que ele é longo de vários quilômetros e vai até à serra do Cunani.
Aí fica um breve roteiro para os faiscadores da história amapaense. Cunani é um filão à espera de quem o descubra de novo.”