Tiago Quingosta lança seu primeiro livro solo sábado no Mercado Central

O primeiro livro solo do escritor Tiago Quingosta, Aluvional é a segunda obra da Trilogia das Águas, em que são abordadas temáticas relacionadas às experiências de vida do autor na Amazônia, cuja voz é a manifestação identitária de um homem do norte.

Durante seis capítulos e 60 poemas – entre os quais está Imersio, seu trabalho audiovisual, disponível no Youtube – ele percorre seu amadurecimento enquanto escritor e artista, apresentando versos de um homem forte e condizentes com suas dores e realidades.

Aluvional traz a poesia amazônica na sua ambientação e utilização das palavras para descrever o que sente, para fazer o leitor mergulhar nas águas do maior rio em volume de água do mundo, o rio Amazonas, aborda uma jornada poética em meio à maior floresta tropical do mundo.

O lançamento será sábado, às 16h no Mercado Central.

(Ascom)

Tela – Aluízio Botelho da Cunha

TELA
Aluízio Botelho da Cunha

O pincel fixou sombras escuras
nas sobrancelhas da moça
e deu um tom de tardes prematuras
nos olhos claros
da clara judia.
(Também já esbocei olhos e sóis,
subjugando curvas
sobre rosto oblíquo)

Dei traços de luz
em cabelos cor de noite,
e auroras nasceram
do sol ardendo,
houvesse, embora,
eclipse solar.
Se eu modelar, um dia,
novas dimensões da tua presença,
atrairá teu corpo
a lei da gravidade dos sentidos.

(Extraído da antologia Modernos Poetas do Amapa – Macapá-AP, 1960)

Um poema de Neth Brazão

Marcas de amor
Neth Brazão

Mergulho no profundo silêncio
Em queda livre me deixo ir
Levemente a brisa sussurra
Versos indecifráveis
Doces, os quero ouvir…
Ouço um anjo cantando para mim
Penso em você
Penso no beijo que ficou por acontecer
Penso e, me deixo ir
Sigo em viagem solo
Com muito de ti aqui
Desejo que sintas
A mesma saudade que me consome
Quem sabe voltas ao teu lugar
Onde sou toda feita de você
Sou para você
Em um universo solitário
Em um querer sem fim
… Ah! Eu sou tão bonita
Para ficar com a solidão

Um poema de Raquel Braga

INFÂNCIA
Raquel Braga

Quando eu era pequenina
No início do entendimento
Sonhava ser bailarina
E dançar sem pensar no tempo.

E o tempo passou tão depressa
Que transformou completamente
A menina dos meus sonhos, tão liberta
Na mulher que hoje vês na tua frente.

Mas, embora este corpo não aparente
Minha alma continua uma criança
Que te vê ao lado meu, eternamente,
Na vontade de esvair-se numa dança.

Tempos do meu tempo

Começo a semana lendo esse maravilhoso livro do sensacional poeta Luiz Jorge Ferreira, lançado em 1982. Menino do Laguinho, Luiz Jorge é médico super conceituado em São Paulo e poeta e escritor festejado por este Brasil a fora.

“Tempos do meu tempo é uma época passada ou é o presente palpitando? Qual é o seu tempo?”, pergunta Carlos Nilson Costa no prefácio. E responde: “Ora, poeta não tem tempo. É perene”. Sim. Concordo.
Sentada no sofá, ouvindo Mozart (bem baixinho), nesta manhã ensolarada de segunda-feira, de mãos dadas com o livro, começo meu passeio pelo Laguinho, Trapiche, Pacoval, Fortaleza e outros lugares onde no encantador silêncio dos versos de Luiz Jorge escuto a alegria da cidade e da nossa bela juventude.
Obrigada, poeta!

Bom dia com poesia

Ele
Alcinéa Cavalcante

Ele veio sem pressa
Caminhando entre estrelas
parando aqui e acolá
para orvalhar uma ou outra roseira.

Quando chegou
tinha os cabelos molhados de luar
e no bolso esquerdo
um raio de sol
que depositou nas minhas mãos
com tanta ternura
como quem deposita um beijo.

Por isso
acordei
com este brilho no olhar.

Bom dia com poesia

Os olhos da menina
Aluízio Cunha

Olho os olhos triste da menina
que perdeu a mãe
que foi ser estrela
que foi ser lua
areia sideral
fragmento de sol.

Olho os olhos da água
querendo sufocar as praias
alagar o mundo
inundar o globo
afogar o universo
querendo deslumbra-se em Deus.

Olho os teus olhos
bem profundamente, menina,
e surpreendo
doce amor
amarga saudade.

(Poema extraído da Antologia Modernos Poetas do Amapá, lançada em 1960)

Bom dia com poesia

Paisagem Amazônica
Arthur Nery Marinho (1923-2003)

Para escrever
meu revoltado verso
jamais dei a volta
ao mundo, meu senhor.

Vim pelas margens dos igarapés
onde o sorriso é doentio e triste
e a ignorância há séculos persiste
e é pálida e mirrada
a própria flor.

Saudação à chuva

Saudação à chuva
César Bernardo de Souza

Gotas de chuva são lágrimas das nuvens.
O azul do céu é espelho do mar –
Imenso espaço prismático de Deus –
Cúmplice eterno do cálido olhar do sol.

As nuvens choram do alto:
chuvisca aqui, chove acolá!
Então chuva e vento fazem o mar.

Um vento que vem de qualquer lugar,
Balança o rio, assobia e sacode imensidões.
E vem pra cá, depois da praia.
Faz poeira, desalinha o firmamento,
Bravo faz redemoinho,
suave se desmancha,
alegre canta e rodopia.
Então, viva a chuva!

O rio e o mar são ânforas desse pranto.
Que despenca das nuvens,
que escorre no vento,
Deita-se com a terra
e a emprenha de tempo.
E em seu útero se esconde do sol…
e ainda é chuva!
semente da flor.