Artigo dominical

O rosto de Jesus
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Um dia o monge Epifânio descobriu que tinha o dom de pintar belíssimos ícones. Queria pintar um que fosse a sua obra prima; queria pintar o rosto de Jesus. Mas onde encontrar um modelo certo que expressasse ao mesmo tempo, sofrimento e alegria, morte e ressurreição, divindade e humanidade? Epifânio não teve mais sossego, viajou a Europa toda perscrutando cada rosto. Nada. O rosto capaz de representar Jesus simplesmente não existia.

Uma noite, porém, quando estava repetindo as palavras do salmo: “A tua face, Senhor, eu procuro. Não me escondas o teu rosto…” pegou no sono. Teve um sonho. Um anjo o reconduzia junto às pessoas que havia encontrado e lhe mostrava um detalhe que tornava aquele rosto semelhante ao de Jesus: a alegria de uma jovem noiva, a inocência de uma criança, o sofrimento de um doente, o medo de um condenado, a bondade de uma mãe, o desânimo de um órfão, a severidade de um juiz, a hilaridade de um menestrel, a misericórdia de um padre, o rosto desfigurado de um leproso.

Epifânio voltou para o seu convento e começou a trabalhar. Um ano depois, o ícone estava pronto e o apresentou ao abade e aos confrades. Todos ficaram boquiabertos e caíram de joelhos. O rosto de Cristo era, simplesmente, maravilhoso; tocava o coração, questionava e alegrava. Inutilmente perguntaram a Epifânio quem tinha sido o modelo.

Ainda hoje podemos somente imaginar o rosto de Jesus. Artistas, santos e poetas continuam livres para representá-lo por meio de todas as artes antigas e modernas. Cada um de nós pode fazer o mesmo. Todos podemos dizer que possuímos o “nosso rosto” de Jesus.  É aquele que fala ao nosso coração. Mas ninguém poderá dizer ter o único e definitivo retrato do Senhor, porque ele não cabe em nenhuma moldura, também se, ao mesmo tempo, deixa-se encontrar por todos. A busca nunca vai acabar. No entanto não é por isso que o conhecemos menos ao ponto de confundi-lo com outros. Os Magos acertaram e adoraram aquele Menino – e somente aquele – com Maria, sua mãe. No meio de tantos que iam receber o batismo de penitência de João Batista, o céu se abriu sobre Jesus – e somente sobre ele – e a voz do Pai falou: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu benquerer”.

Se for verdade que podemos fazer obras de arte diferentes sobre Jesus, ele, no entanto, continua o único Filho amado pelo Pai, da manjedoura de Belém até a cruz e o túmulo vazio da Páscoa. Nós cristãos acreditamos que o único Deus verdadeiro se fez conhecer, em sua plenitude, em Jesus. João na sua primeira carta escreve: “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Quem confessa o Filho possui também o Pai” (1 Jo 2,23) e na segunda: “Todo aquele que se adianta e não permanece na doutrina de Cristo, não possui a Deus. Aquele que permanece na doutrina, esse possui o Pai e o Filho” (2 Jo 9).

Por que tanta insistência nessas citações? Porque estamos vivendo o Ano da Fé e, desde a sua abertura, os católicos são convidados a decorar e rezar os Símbolos de nossa fé: os “credos”. Afinal eles são a ampliação da fórmula do batismo cristão, obedecendo à ordem de Jesus de batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt 28,19). Lembram-nos o que afirmamos e acreditamos do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, porém, defendem-nos de afirmações erradas, de proclamações que não tem nada a ver com a fé cristã. Uma maneira para nos alertar dos “falsários”, antigos e modernos, daquelas obras de arte que são as “profissões da fé”, os credos, e que nos foram transmitidas de geração em geração. Quem afirmar algo diferente, portanto, está falando de outro Jesus, talvez de outro Deus, é bom sabê-lo.

Podemos continuar a busca por um modelo do rosto de Jesus, mas que bom se ao rezarmos o Credo, ao professarmos sinceramente a nossa fé, caímos de joelho e ficamos admirados e atraídos pelo nosso Deus, agradecidos por ter enviado o seu Filho amado, que, ainda hoje, podemos encontrar, conhecer, amar e seguir.

Artigo

Torna-te quem és
Wagner Gomes

Certas pessoas dão mais importância à moldura que ao conteúdo do quadro; mais ao veículo que os transporta do que à paisagem que as rodeia; mais a forma que à essência das coisas e das gentes.

Não quero perder mais tempo com a discussão do “sexo dos anjos”, nas teorias sem praticidade, das práticas sem teor concreto e significativo. Enfim…, não suporto perder meu tempo.

Aprendi com Quintana que, “existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia suficiente para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos. Uma só idade  para nos encontrarmos com a vida para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que podemos criar e recriar à vida nossa própria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a disposição de tentar algo de novo e de novo  quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do instante que passa”.

Por outro lado aprendi também a lição do escritor argentino Jorge Luis Borges que no fim da vida encarou “se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito. Relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido. Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério… Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais os entardeceres, subiria mais nas montanhas, nadaria mais nos rios. Iria a lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos sopa. Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma destas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida. Claro que tive momentos de alegria mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Não percam o agora… Se pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente…”.

Para encerrar e homenagear os amigos e amigas (Ronaldo Serra, Eduardo Correa, Márcia Correa e Vitória Machado) que me acompanharam num recente amanhecer em frente ao Rio Amazonas, e sentindo que o “tempo foge”, compartilho texto de Ricardo Gondim, que me parece bastante elucidativo para quem “precisa viver”, pois a felicidade só acontece em raros momentos de distração:

Tempo que foge!

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo. – Texto extraído do livro “Eu creio, mas tenho dúvidas – a graça de Deus em nossas frágeis certezas”. Editora Ultimato, Viçosa – MG, 2007, p. 102 – 103. (WAGNER GOMES)

Receita para desvotar

RECEITA PARA DESVOTAR
Ruben Bemerguy , advogado

“quando se me impõe a solução de um caso jurídico ou moral, não me detenho em sondar a direção das correntes que me cercam: volto-me para dentro de mim mesmo, e dou livremente a minha opinião, agrade, ou desagrade a minorias, ou maiorias”. (cfr. Rui Barbosa “O dever do Advogado” Fundação Casa de Rui Barbosa, Ed. AIDE, 1994, pág. 43).

O exercício liberal da advocacia, especialmente aos que se dedicam um pouco ao direito administrativo e constitucional, proporciona uma leitura relativamente real da conjuntura política vivida no Estado. É que, muitas vezes, a coincidência de fatos postos a defesa, de tão repetitivos, proporcionam interpretar o ambiente político a que todos estamos sujeitos.

Me refiro, em curtas palavras, ao que observo, a partir de minha profissão, na gestão da saúde pública. O diálogo do Estado com o conjunto dos agentes que atuam na área, sejam pessoas físicas ou jurídicas, servidores públicos ou não, parece ver-se substituído pela desnecessária – essa palavra merece ser sublinhada – e grave violência política – essa também merece – que instrumentaliza um perverso maniqueísmo que, por sua vez, em minha opinião, oculta, ou pelo menos disfarça, o adequado enfrentamento as demandas da saúde pública.

É uma pena que essas demandas, com as quais me deparo e enfrento dia a dia, se limitem a nosso escritório de advocacia e se comprimam em escaninhos forenses sem que se oportunize, por falta de instâncias sociais públicas, um sério debate sobre o comportamento do Estado e seus reflexos em direitos individuais, quando menos.

Ilustro meu sentimento a partir de apenas dois casos concretos:
O Estado do Amapá firmou contrato com empresa (por razões éticas, vez que não tenho autorização para fazê-lo, deixo de registrar o nome que a distingue) para prestação de serviços de tomografia em um hospital público, cedendo, inclusive, além de equipamento, área no interior de hospital público para viabilizar o serviço. A empresa, por sua vez, conduziu também, além de profissionais, outros equipamentos ao local para permitir o desempenho. Entre os equipamentos constavam cadeiras, geladeira, lixeiro, maca, bebedouro, entre o mais. Ocorre que a inadimplência contratual do Estado obrigou a paralização dos serviços e, após intervenção do Ministério Público, nova licitação, para os mesmos serviços, foi feita, sagrando-se vencedora a mesma empresa.

O Estado do Amapá, ao invés de adjudicar a licitação, ou anulá-la se assim motivasse, preferiu a solução mais inapropriada, mais impetuosa, irascível mesmo, e confiscou todos os bens da empresa privada sob o álibi curioso da existência de um “estado de emergência”. Não desconheço que a situação da saúde no Estado é crítica, mas essa debilidade não se eterniza por acaso e não é com a prática truculenta que será superada. O certo que a falta de ternura administrativa levou consigo, manu militare, às cadeiras, geladeira, lixeiro, maca, bebedouro e tudo mais, para atender a urdida emergência. Não teria o Estado do Amapá capacidade de adquirir esses bens por meios próprios e lícitos a qualquer tempo respeitando o patrimônio alheio? Estaria o Estado do Amapá tão fortemente embebecido em gesso a ponto de expor-se ao escárnio administrativo confiscando bens tão vulgares até no comércio local? Se o Estado houvesse optado, o que já seria absurdo, pelo confisco de bens exclusivamente indispensáveis ao início de serviços de saúde urgentes, penso que seria menos cômico. Se o Estado, respeitando a propriedade privada e a livre iniciativa, julgasse absolutamente necessários os bens particulares e, assim, os desapropriasse, pagando previamente a respectiva indenização, seria, do ponto de vista jurídico e político, admissível. Mas confiscar, apreender, tomar a força é um traço repugnante e põe em dúvida biografias. Esse fato foi solucionado por atuação judicial e os bens devolvidos a empresa dona.

A mesma sorte das cadeiras, geladeira, lixeiro, maca, bebedouro, se assentou em outro cliente – também não me é permitido nominar. Este foi citado em uma operação policial e a ordem judicial originária da atuação determinava que fossem afastados os servidores públicos que ocupassem cargos ou funções comissionadas ou que manuseassem recursos públicos. O cliente, muito embora não se enquadrasse em nenhuma das condições, foi sumariamente afastado do exercício da medicina em hospital público pela Secretaria de Saúde do Estado. Comunicado o fato ao juízo, este determinou o retorno do cliente ao serviço público na medida em que não ocupante de cargo ou função comissionada. Ao contrário de cumprir a ordem, em demonstração de pura e desnecessária insolência, o Estado do Amapá justificou a existência de processo administrativo contra o cliente e que o havia afastado para que respondesse ao inquérito fora do serviço público. Notificada a Secretaria de Saúde para que apontasse a que processo administrativo se referia, na medida em que nenhuma notificação havia o cliente recebido, a manifesta truculência sequer acudiu singela resposta ao cidadão. Uma resposta comum, que dissesses estar ele respondendo a uma sindicância, revelasse pelo menos o número do processo. Não. Nem isso. É verdade que essa intransparência administrativa pode parecer simples para as autoridades do Estado do Amapá e um reforço ao discurso que divide o bem do mau, desde que o governo seja o bem. Mas para quem está sendo acusado, o mínimo que pode esperar, independente de sua posição ideológica ou da gravidade ou não da acusação, é que, pelo menos, seja notificado da acusação que sofre para permitir a mais singela defesa. O contrário é o caos.

Não estou aqui a fixar que a empresa, seja ela qual for, está imune a incursão do Estado. Muito menos digo que servidor público não possa ser cautelarmente afastado de suas funções. Não é isso. Se os atos encontram proteção constitucional ou legal, tudo é possível. O que causa indignação, o que se repele, o que veste de luto a democracia mais tenra, é a forma inapta, incivil, de buscar objetivos a custa da razão e do direito que desqualificam a cidadania em proteção a um discurso sazonal, não verdadeiro e muito chato.

Essa experiência, porém, como tudo na vida, tem um lado positivo. A cidade de Macapá espera um novo governo. Os olhos da cidade estão ávidos, não só por uma gestão competente mas, também, que a solução dos pleitos sociais e eventuais conflitos se avie pelo caminho do diálogo, institucional e constitucional. O exemplo do Estado do Amapá, pelo menos ao que agora se vê, não é modelo a ser seguido e merece ser desvotado, se quisermos, em meu sentir, vencer os desafios da saúde pública municipal.

Artigo dominical

O monge rico e o monge pobre
Dom Pedro José Conti, Bipo de Macapá

Numa cidade tinha dois mosteiros. Um era muito rico ao passo que o outro era paupérrimo. Certo dia, um dos monges pobres se apresentou ao mosteiro dos ricos para se despedir de um amigo monge que morava por lá.

 – Por algum tempo não vamos nos ver, amigo – disse o monge pobre – decidi partir para uma longa peregrinação e visitar os cem grandes santuários: rogo-lhe que me acompanhe com a sua oração porque terei que subir e descer montanhas perigosas e atravessar rios impetuosos.

 – O que você leva consigo para enfrentar uma viagem tão longa e arriscada? – perguntou o monge rico.

– Somente uma cuia para a água e um saquinho de arroz – sorriu o monge pobre.

 O outro estranhou a resposta e olhou para ele com severidade:

 – Meu querido, você simplifica demais as coisas. Não pode ser tão incauto e desavisado. Eu também estou de partida para a peregrinação aos cem santuários, mas não viajarei antes de ter arrumado tudo o que poderá servir-me na viagem.

 Um ano depois, o monge pobre voltou para casa e correu de pressa para visitar o amigo e lhe contar a grande e rica experiência espiritual, que tinha conseguido viver com a peregrinação. O monge rico escutou o amigo e, baixando os olhos, teve que confessar:

 – Infelizmente, eu ainda não terminei a minha preparação para a viagem.

A historinha fala por si. Tem “preparações” que nunca terminam. Tem pessoas que se preparam a vida toda, mas esta fase preparatória demora tanto que dificilmente chega a uma conclusão e elas mesmas acabam esquecendo o que queriam ser, não sabem mais para quê se prepararam tanto.  A preparação – é o que diz a própria palavra – é o que vem antes do evento: uma ação anterior. Contudo o momento mais importante é o evento, não a preparação. Um bom preparo fará de um jovem um bom profissional, mas se a preparação nunca acaba, talvez aquele jovem não chegue a ser o profissional que queria ser. Possuirá, provavelmente, muita teoria, mas nenhuma experiência prática.

O tempo do Advento é uma preparação que se encerra com o evento do Natal. Devemos nos preparar para viver plena e conscientemente a alegria do nascimento de Jesus. De outra forma, arriscamos continuar na expectativa; o Natal virá, passará e… Nos deixará indiferentes. Todo o ano, temos esta possibilidade: preparar-nos bem para que o Natal do Senhor não se apague junto com os pisca-piscas e as demais luminárias chamativas que enfeitam casas e ruas. Nada mais fácil. Não foi suficiente todo o Antigo Testamento e a pregação vigorosa de João Batista para garantir, diríamos hoje, o “sucesso” de Jesus. Verdade que Ele não buscava nada disso, mas a sua morte na cruz revela uma rejeição quase total. Digo quase porque alguns, poucos, resolveram, também naquele tempo, deixar tudo e segui-lo. Fugiram na hora da paixão, mas depois, com a força do Espírito Santo, venceram todo medo e covardia.

Apesar de todas as promessas e de todas as profecias, muitos ainda estavam equivocados sobre o Messias que devia chegar. Esperavam alguém rico e poderoso, que resolvesse na hora todos os seus problemas. Jesus veio pobre, humilde e sofredor; no entanto com as suas palavras e ações, mostrou o caminho para que nós aprendêssemos por nossa livre vontade a solucionar, fraternalmente, as questões que afligem a humanidade. Ele ensinou o caminho do amor. Com a sua ressurreição venceu a morte, para nos garantir que a vitória final será dele.

O menino deitado na manjedoura do Presépio é o mesmo Jesus das Bem-aventuranças e dos Ais, que perdoa à pecadora e expulsa os vendilhões do templo; que chama a Deus de Pai e nos convoca para a comunhão da partilha e da unidade. Os pobres foram os primeiros a encontrá-lo e a adorá-lo. A longa espera tinha chegado ao fim.

“Preparai os caminhos do Senhor” grita João Batista. Preparemo-nos para acolher Jesus, desfazendo pré-conceitos e medos. Para a grande peregrinação da fé, não precisam muitas coisas: bastam a coragem da decisão e a leveza da liberdade. Para quem busca o Reino de Deus e a sua justiça, o resto lhe será dado por acréscimo (cf. Mt 6,33), como o monge pobre. O monge rico, pelo jeito, está ainda arrumando as malas.

Artigo – Transpetro nas águas do Amapá

TRANSPETRO NAS ÁGUAS DO AMAPÁ

Fernando Chaves Pinto – Empresário

Petrobras deve fortalecer setor energético, com transporte e armazenamento de combustíveis. Uma questão de logística.

É oportuna a intensificação de uma luta para sanar, e não apenas minimizar, a distribuição de combustíveis no Amapá e baixo Amazonas, a par de seu armazenamento.

Que o terminal específico de combustíveis – o Petroporto – da Transpetro é a infra-estrutura mais valiosa de que conhecemos não restam duvidas.  Conscientes disto devemos, multiplicar formulas para atrair e manter, em nossas águas, navios da Transpetro.

A falta de uma decisão somos levados a crer que a morosidade e a dificuldade em implantar este terminal sejam os vícios das soluções emergenciais.

Não temos, no Amapá, lastro para um desembolso financeiro de tão grande porte. Não há alternativa: a Transpetro precisa intervir, com urgência, nessa questão do protótipo do terminal.

O preço do atraso

Muito preocupante, na visão de todos, é o fato de as Urbes de Macapá e Santana ( em que se concentram, segundo o IBGE 76%  da população total do Amapá, com cerca de 364.000 habitantes) sofrerem com a  falta constantemente de combustíveis, notadamente “OPGE”, óleo para geração de energia.

O sistema radial da Eletronorte nem sequer permite contingências simples, o que aumenta o tempo e a freqüência das interrupções, na rede de distribuição no sistema da CEA.

As causas já são por demais conhecidas: falta combustível, pois o Amapá não deslanchou no avanço de ações estruturais contra os gargalos da infra-estrutura de implantação do terminal fluvio- marítimo de combustíveis.

Todavia, o momento não é de olhar somente para o passado. É importante que empresariado local e regional, em termos de Norte e Nordeste apresente uma saída.

Dois movimentos simultâneos, a meu ver, para o momento, se impõem para a Transpetro: um, a aquisição do terreno, conforme já aprovado pela DTNEST (Dutos e Terminais do Norte e Nordeste, especificamente em área sita na confluência do Igarapé da Fortaleza com a margem esquerda do Rio Amazonas, que, conforme a portaria nº 71/2000, do Ministério dos Transportes, em Brasília, DF, é área portuária…) o outro, o projeto técnico, cuja conceituação tramita na ANTAQ (Agência Nacional de Transporte Aquaviário), em Brasília, DF, no contexto do protocolo nº 1084/2000, com visão de futuro.

A propósito, permito-me sugerir que a DTNEST/TRANSPETRO, convalide o relatório do Engº Ricardo Henrique da Silva, da DTNEST, em Belém, PA, enviado, desde janeiro de 1999, à Transpetro, no Rio de Janeiro (apud: revista Petrobras, Ano VII, nº 64, novembro de 1999, matéria de capa e pags. 8,9,10 e 11).

Não é possível, portanto, qualificar senão como inserção das mais oportunas, marcada com o sinete do patriotismo, a decisão de atrelar ao Amapá a distribuição de combustíveis – o “Bunker”, óleo marítimo, e o “OPGE”, óleo para geração de energia-, além da distribuição de gás.

“A partir do Amapá, fica mais econômico e mais rápido o acesso a esses pontos do Rio Amazonas e seus afluentes. O trajeto é bem menor do que saindo de Belém” – diz Ricardo Henrique da DTNEST, Belém, PA.

Gargalos e escassez de talentos

O programa de aceleração do crescimento (PAC) tem R$ 132 bilhões reservados para a área de logística.

Uma infra-estrutura logística é fundamental para acomodar o crescimento da produção e manter a produtividade, no escoamento de combustíveis, no Amapá.

Convivemos com gargalo na distribuição, com um maior tempo entre a origem e o destino, além do alto índice de insegurança, principalmente no transporte com balsas.

A tecnologia tem ajudado as operações de logística a dar passos mais largos. O geoposicionamento, em tempo real, no controle e rastreamento de carga deve ser implantado.

Ademais, o diferencial competitivo está no desafio de conseguirmos encontrar e manter o melhor, em capital humano – o bem mais valioso de uma empresa.

Cada vez mais, as empresas tentam transformar as pessoas no “segredo do sucesso”, mas é preciso desenvolvê-las e propiciar-lhes desafios…

Cabe-nos e á Transpetro, portanto, como colaboradores e futuros grandes aliados, planejarmos o caminho a seguir, nas águas do Amapá.

Artigo

A Grave Situação do Saneamento em Macapá – Água
Por Alcione Cavalcante,  Engenheiro Florestal

                               Infelizmente, a nota dada a CAESA, numa escala que vai de 0 a 10 é 0,79. É o que diz o recente estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil que publicou o “Ranking do Saneamento – As 100 maiores cidades do Brasil”. O estudo tomou por base dados oriundos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, para o ano de 2010, elaborado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades.

A metodologia utilizada pelo Instituto Trata Brasil para definir o ranking, foi elaborada com base em três diretrizes: eficácia no atendimento adequado em saneamento básico, o esforço para alcançar a universalização e a produtividade na operação. Essas três diretrizes, por sua vez estão associadas a três grupos de indicadores, no caso, nível de cobertura, melhoria na cobertura e eficiência.

Sob todos esses aspectos a situação do Amapá é lastimável e a herança recebida pelo Governador Camilo, como diria o Ex-presidente Lula, é maldita. O quadro geral indica que necessariamente vamos requerer significativos e continuados esforços, não apenas de parte do executivo do estado, mas principalmente dos representantes no Congresso Nacional, através de emendas parlamentares de um lado e gestões junto o Governo Federal com relação a outros fundos. Aos deputados estaduais cabe a não menos importante missão de desenhar um orçamento mais conectado com as necessidades da população, que priorize ações voltadas ao saneamento, coisa que não logramos experimentar ao longo dos últimos anos. Vale aqui lembrar o chavão que se impõe no caso “cada real investido em saneamento representa alguns reais economizados na saúde”.

Mas vamos ao que interessa. Inicialmente vale destacar a situação relativa ao abastecimento de água em Macapá. Os dados levantados indicam que apenas 43 % da população efetivamente conta serviços de abastecimento de água da empresa. O número em si já não é bom. Quando comparados com os municípios sede da Região, a situação exposta é mais grave. Estamos bem aquém da média registrada para a Amazônia legal, que é de 76% e muito abaixo de Cuiabá-MT (98 %), Boa Vista-RR (97%) e Manaus-AM com (96 %) que praticamente já universalizam o serviço, além de Belém-PA e Rio Branco – AC com mais de 75 % da população atendida. Neste quesito somente logramos vencer de Porto Velho-RO (33 %)

 

Outro ponto importante está relacionado ao esforço empregado para avançar na universalização do abastecimento. Neste quesito a situação também não é confortável. Para se ter ideia da distância que nos separa citamos, por exemplo, Manaus -AM que chegou a quase 42.000 ligações para uma demanda de 57.000 ligações aproximadamente.  Boa Vista – RR, por sua vez instalou mais de 2000 unidades para apenas 4151 ligações faltantes. Macapá registrou, em 2010, apenas 1508 ligações para um universo de 71.000 ligações faltantes.

 

Ainda sob a mesma ótica é interessante expor a relação entre o indicador de novas ligações realizadas em 2010 e o número de ligações faltantes para a universalização. Esta relação está vinculada ao ritmo empreendido no sentido de universalizar o abastecimento de água. Neste caso nossa relação, excluindo-se Belém e Porto Velho é das mais desfavoráveis, está situada no patamar de 2%. Ou seja, para cada 100 unidades faltantes, estamos atendendo, com base em 2010, apenas duas unidades por ano. Comparativamente, Manaus chegou a 78 e Boa Vista a 48 unidades para a mesma necessidade.

Essas situações nos levam a refletir: quantos anos os municípios citados levariam para universalizar o abastecimento, mantido o ritmo de 2010? Na Amazônia, em média, algo em torno de 9 anos; Manaus, pouco mais de um ano, São Luiz 20 anos e Macapá 50 anos. Seguramente não merecemos isso nem para esta nem para as futuras gerações.

Artigo

A juventude e o nosso trânsito
João Gomes*

No Brasil vivemos um momento em que as facilidades para se obter um veículo são muitas, dessa forma a frota principalmente de carros e motos tem aumentado muito rapidamente ao longo dos anos, além é claro de termos no bojo da sociedade moderna  uma liberdade, ou uma postura libertária de nossa juventude que ultrapassa todos limites impostos por normas e regras estabelecidas em nossos códigos e em nossos valores morais.

O fácil acesso a carros e motos aliados a forma irresponsável que alguns adolescentes e jovens dirigem esses veículos, tem provocado nos últimos anos um crescimento no número de mortes da juventude brasileira em nosso trânsito, de 1998 a 2008 houve um acréscimo de mais de 32% nessa triste estatística. O DENATRAN em 2009 apresentou um estudo sobre o comportamento dos jovens como condutores e caronas, 65% são caronas de outros amigos em festas, que dos entrevistados 35% não utilizam o cinto de segurança em hipótese alguma, creio que esse número pode ser bem maior, além disso, para incrementar tal relação equivocada, 55% retornam de carona com amigos que ingeriram bebidas alcoólicas antes de dirigir.

O jovem dirige mais depressa segundo estudos do IBOPE, e comprovou que esse comportamento está atrelado a adrenalina e ao álcool, sendo que isso se intensifica quando eles estão em grupos, ou seja, percebemos que há uma forte influência do circulo social aos quais os mesmo frequentam e pertencem. Isso é lamentável, mas não devemos aceitar passivamente que nossa juventude perca a vida e tenham os sonhos interrompidos por não compreenderem o limite entre o certo e o errado, levando-os a morte tão precocemente.

Atualmente estamos observando uma verdadeira guerra civil em nosso trânsito, são mais de 35 mil mortes por ano, esse número só tende a aumentar caso a nossa ação de inércia não mude, nossos jovens estão inseridos infelizmente nesse contexto, devemos nos preocupar com o trânsito desde a tenra idade de nossos pequeninos, a educação deve ser o fator preponderante nessa relação com adolescentes e jovens e o trânsito brasileiro. A que se impor limites e usar o não mais frequentemente para essa atual geração, valores morais devem ser resgatados, o jeitinho brasileiro de sempre querer se dar bem deve ser eliminado das relações sociais vigentes. O trânsito deve ser uma preocupação de todos e todas e tratado como uma questão de saúde pública, pois não devemos perder de forma precoce o que deve ser o futuro do Brasil, nossa juventude. Devemos ter ousadia para mudar.

* Alex João Costa Gomes é Bacharel e Licenciado em História

Artigo – Aos mestres, com carinho

Aos mestres, com carinho
Lourival Freitas
, Ex-deputado federal PT/AP

Durante toda minha militância política sempre duvidei da eficácia da greve no serviço público, especialmente na área da educação. Greves são deflagradas em situação de conflito, onde os trabalhadores param, com o objetivo de pressionar os patrões a negociar. É lógico que toda greve precisa impor prejuízo aos patrões. É assim nas empresas privadas. Quando os operários de uma fábrica qualquer param, a produção despenca e, cai a capacidade de venda da empresa. Os patrões sentem no bolso o prejuízo e logo sentam à mesa para negociar.

No caso de greves das universidades federais, os professores não impõem nenhum prejuízo ao governo federal. Parar de dar aulas, não reduz a arrecadação de impostos e nem ao menos reduz a popularidade da Dilma. No máximo irrita os alunos que querem se formar no próximo semestre e aumenta a felicidade daqueles que aproveitam para se divertir nas praias ensolaradas deste Brasil. Eis é a principal razão, deste tipo de greve, ser tão prolongada: não incomoda quem deveria incomodar.

Em vários Estados, e no Amapá especialmente, os professores estaduais em greve há muito tempo, a situação é mais grave, pois prejudica crianças e jovens que jamais recuperarão este precioso tempo da sua formação. As aulas perdidas nunca são repostas integralmente e, na maioria das vezes, é substituída por tarefas de utilidade duvidosa para o aprendizado. A greve dos professores que tem uma de suas bandeiras, a melhoria da qualidade do ensino, acaba tendo um efeito contrário ao pretendido.

A defesa da escola pública e de qualidade, outra bandeira histórica dos professores, também fica comprometida devido ao desgaste que a categoria dos professores sofre juntos às famílias que não puderam optar, ainda, pelas escolas particulares, supostamente de melhor qualidade, aumentando, assim, o preconceito e a rejeição à escola pública.

Infelizmente o movimento justo dos professores por melhor remuneração e condições dignas de trabalho acaba prejudicando os mais fracos, pois há muito tempo a escola pública que deveria ser um espaço de convivência entre os diferentes, virou espaço reservados aos mais pobres.

A intransigência e relutância do governo em negociar com os professores, nos traz uma revelação lamentável, mas real: a classe média, e as autoridades, optaram por colocar seus filhos nas escolas privadas, e a melhoria da qualidade da escola pública continua a ser uma promessa de campanha, esquecida rapidamente depois de cada eleição. A luta dos professores não pode se restringir apenas à ação sindical, mas tem que abranger a luta política e de conscientização de toda sociedade.

No serviço público, principalmente na saúde e educação, a greve não pode ter a mesma lógica do setor privado: ela simplesmente prejudica o povo, que neste caso é o patrão. A melhoria da qualidade da educação dificilmente virá dos governos: os políticos preferem construir obras que lhes permite aparecer nas fotos de inaugurações, a investir em algo intangível, cujos frutos serão colidos a médio e longo prazo. Eis um grande desafio aos mestres. Uma lição que deve ser ensinada cotidianamente aos futuros pais, que terão que colocar seus filhos nas mesmas escolas que hoje não lhes garante a qualificação necessária para enfrentar um mundo cada vez mais competitivo.

A luta não é só dos professores, mas infelizmente eles estão combatendo sozinhos com uma arma de eficácia duvidosa. É preciso a união de toda sociedade para a construção de uma cultura da educação que garanta um futuro melhor para nossas crianças e nossa juventude.