Converse comigo

Converse comigo
Luciano R.R. Souza

Converse comigo.
Qualquer coisa sem sentido,
sobre o tempo, sobre a bolsa,
política, religião.

Pode falar palavrão,
mentir, inventar um caso.
Mas por favor, meu amigo,
converse um pouco comigo.

Ligue para mim qualquer noite
em meio da madrugada,
quando eu estiver no banho,
me arranque de reuniões,
do meu livro predileto,
no seu momento mais triste
guarde para mim uma hora.

Converse comigo, agora.

Reclame do trânsito, preços,
repita as frases três vezes.
Fale mal do seu patrão,
arrase o time que eu torço,
interrompa as minhas frases,
grite como se eu fosse mouco.

Mas, por favor,
converse comigo um pouco.

(Poema extraído do livro “Converse Comigo”, de Luciano Ricardo Souza – Um livro excelente que releio sempre e recomendo, desde que ganhei do próprio autor em 1996)

Mazagão – a cidade que atravessou o atlântico

Mazagão – a cidade que atravessou o atlântico
Ivan Carlo*

Mazagão é, provavelmente, a única cidade do mundo transplantada de um continente para o outro: de Marrocos, na África, para o Amapá, no Brasil. É a história dessa cidade sui generis que Laurent Vidal conta no livro Mazagão – a cidade que atravessou o Atlântico.

Mazagão surgiu em 1514 no processo de expansão portuguesa na África – o objetivo era estabelecer entrepostos para os navios portugueses que pretendiam contornar o continente para chegar à Ásia.

A fortaleza de Mazagão é instalada num ponto privilegiado, exatamente no meio dos dois extremos do Marrocos lusitana. Também é o porto mais seguro para ancoragem em toda a costa do norte da áfrica.

Mas a reação dos marroquinos não demora e uma a uma, todas as praças portuguesas vão sendo derrotadas e abandonadas, até que sobra apenas Mazagão. Durante mais de um século, Mazagão irá resistir aos mulçumanos, tornando-se o bastião cristão na África. Em um dos cercos morrem 25 mil mouros, enquanto que no lado português apens 98 soldados e 19 civis. Mazagão torna-se o orgulho de Portugual.

Mas a situação vai mudar com a chegada de Marquês de Pombal ao poder. Ele percebe que seria impossível para um pequeno país manter-se em Marrocos e no Brasil ao mesmo tempo e decide-se pelo Brasil.

Um dos melhores capítulos do livro é justamente o que trata da saída dos portugueses da fortaleza, desde a tensão anterior, como muitos dos habitantes decididos a desobedecer a ordem do rei – e continuar defendendo a cidade – até a fuga planejada, com soldados explodindo a fortaleza para não deixar nada para os mouros. Prédios, igrejas, tudo é depredado.

Ao mazaganeses sentem-se duplamente traídos. Por um lado, queriam continuar na África, local em que eram considerados heróis. Por outro lado, é difícil aceitar serem enviados para a Amazônia, local para onde só eram enviados os degregados. Laurent Vidal explora bem esses sentimentos ao resgatar e analisar documentos, como um poema escrito por um mazaganês e guardado numa biblioteca em Portugal.

O transalado dura meses. Os mazaganeses são enviados primeiro para Portugal, depois para Belém, onde aguardam as construções das casas.

Como demonstra o livro de Vidal, a burocracia portuguesa é desastrosa. Para começar, escolhem um local insalubre, pantanoso, que apodrece a comida e as paredes das casas (algumas desmoronam com menos de um ano). O local, inclusive, é de difícil acesso – só é possível chegar através de canoas.

Além disso, não contam com as mudanças nas famílias no período de mais de um ano de translado (casamentos, mortes, nascimentos), de modo que a divisão das casas é feita rigorosamente a partir de uma lista feita em Portugual. Novas famílias surgem, outras perdem seu patriarca (que deveria ser quem assumiria a casa na nova cidade). Para fechar com chave de ouro, a burocracia portuguesa decide que a nova Mazagão deve plantar arroz, produto que Portugal precisava àquela altura. Mas os mazaganeses eram guerreiros e não entendiam nada de agricultura. Os escravos doados a eles vêm da África, e não sabem como plantar na Amazônia. Os únicos que poderiam ensinar seriam os índios, mas esses são proibidos por Portugal de participar de qualquer plantio (eles são usados exclusivamente na construção de casas).

O resultado não poderia ser outro: a experiência é um desastre. Tirando um outro mazaganês que consegue se adaptar e ganhar dinheiro com a plantação de arroz, a maioria vive em situação de miséria – mais uma humilhação para aqueles que se consideram heróis da cristandade.

Mas os mazaganeses encontram um jeito de reviver as glórias da Mazagão africana. Em 1777, quando o rei Dom José morre, Lisboa ordena que cada região do império organize uma festa para comemorar a coroação de D. Maria I.

Os mazaganeses fazem mais de uma semana de festa, e, entre as várias atrações, encenam um combate naval entre mouros e cristãos, algo completamente imaginário, já que os mouros nunca tiveram uma frota que pudesse contrapor os navios portugueses, razão pela qual as batalhas sempre eram terrestres. É uma batalha imaginada, para uma cidade imaginada, uma cidade de memória, como diz Vidal.

  1. Maria, compadecida da situação dos mazaganeses, permitiu que eles deixassem a vila, razão pela qual muitos se espalharam por outras localidades do Amapá, muitos deles para Vila Nova de Anauerapucu, que passa a se chamar Mazaganópolis e depois Mazagão Novo, e a vila antiga passou passou a ser conhecida como Mazagão Velho, nome pela qual é conhecida até hoje. É uma trajetória impressionante de uma cidade que se desdobrou em três.

Mazagão Velha passou a ser habitada, majoritariamente, pelos negros, descendentes dos escravos dos mazaganeses, ou vindos de um quilombo das proximidades. E, surpreendemente, são esses mesmos descendentes de escravos que vão manter a lembraça das glórias dos portugueses na África, resgatando aquela festa em honra a Dona Maria, que em algum momento da história se torna festa de São Tiago e hoje é uma das principais atrações turísticas do amapá. A batalha naval da festa original se torna uma intricada trama de batalha entre mouros e cristãos.  E, da mesma forma que a batalha naval encenada pelos primeiros mazaganeses, é uma encenação de uma cidade de memória, muito mais fruto da imaginação do que dos fatos.

Laurent Vidal conta essa história incrível em 294 páginas. Trata-se de um livro acadêmico, repleto de notas, mas a escrita é agradável, de modo que mesmo que aqueles não acostumados a textos acadêmicos podem se interessar. O ponto mais difícil talvez seja a transcrição de textos portugueses da época, de difícil leitura nos dias atuais. Exemplo: “Com estas famílias ordena El Rey Nosso Senhor que se estabeleça huma nova povoação na costa septentrional do Amazonas para se darem as maons com Macapá e Vila Vistoza”.

*Ivan Carlo é escritor, jornalista, professor universitário e membro da Academia Amapaense de Letras. A presente resenha está publicada em seu excelente blog – o  Ideias de Jeca-tatu.

Os melhores frutos

Essa árvore dá os melhores frutos do mundo: livros. Quem gosta de ler ao passar por ela pode apanhar os frutos que quiser.
É uma maneira de fazer os livros circularem em vez de deixá-los presos numa estante.

Ex-governador Gilton Garcia toma posse na Academia Sergipana de Educação

Ex-governador do Amapá, Gilton Garcia, passará a ocupar a cadeira 24 da Academia Sergipana de Educação.
Solenidade de posse será nesta terça-feira, 7, as 19h. Gilton é advogado, professor e escritor.

Gilton Garcia foi o último governador nomeado do Amapá. Ele assumiu o governo em maio de 1990 e ficou até a posse do primeiro governador eleito (Anníbal Barcellos) em 1° de janeiro de 1991.
Em sete meses de governo deixou sua marca: fundou o Banap, construiu o estádio Zerão, asfaltou os municípios, fez investimento maciço em saúde, educação e segurança, o que lhe garantiu um índice de aprovação de 92%, segundo pesquisa do Ibope na época.

É autor de vários livros, entre os quais  “O AI-5 em Sergipe (40 anos depois) – A História Passada a Limpo”, considerado por Ivan Valença “um documento importante para se entender aqueles dias tristes da ditadura militar.”

Recebi e agradeço o convite.

“O peso das borboletas”, novo livro de Pat Andrade, será lançado sexta-feira

Em meio ao cotidiano conturbado da cidade, a escritora Pat Andrade abre uma lacuna para a leveza e a poesia, no evento de lançamento do seu mais novo livro de poemas: O peso das borboletas.
Segundo a própria autora, o livro é feito de memórias, lembranças e recordações e traz poemas que são um mergulho em sua história, em seus sentimentos. Nele, o leitor encontrará “versos tolos e elaborados; estrofes ácidas e irônicas; desilusões, medos, desejos e agonias”, diz Pat Andrade.
São 80 poemas reunidos e, embora seja uma obra com registro na Biblioteca Nacional e ficha catalográfica, a autora fez questão de manter o aspecto artesanal, incluindo elementos que remetem a essa característica marcante de seu trabalho.
A capa do livro é do Artur Andrigues – a quem o livro é dedicado. Artur é seu filho e um iniciante na arte do design gráfico; as ilustrações são da própria autora, que se arrisca mais uma vez nos traços.
A obra é fruto de projeto contemplado pelo edital de chamada pública Circula Amapá, da Secult, através do convênio nº 887106/2019.
No lançamento, muita poesia, roda de conversa, música e exposições; Aog Rocha exibe “Asas” e Ronaldo Rony apresenta a exposição “Liberado para uso recreativo”.

Sobre a autora
Pat Andrade é poeta/artista plástica/produtora cultural. Em seu trabalho literário já produziu pelo menos 27 publicações artesanais, seis livros virtuais (publicados no período de isolamento da pandemia). Também tem participação em cinco coletâneas virtuais e em cinco livros físicos.
Em 2021 publicou seu primeiro livro impresso: O avesso do verso, através de edital da Lei Aldir Blanc.
Colaboradora do Site De Rocha! e membro do coletivo Urucum e do grupo Sarau do Recomeço, Pat se considera uma militante da Literatura: leva poesia para as ruas, praças e cafés; visita comunidades, escolas e universidades, participando de eventos literários e culturais, os mais diversos.

Sobre Aog Rocha
Fotógrafo profissional, biomédico, professor de Práticas Fotográficas, artista visual, com premiações nacionais na área de fotografia, com publicações (fotográficas) em livros e revistas nacionais; editor de imagens, leitor assíduo, amante de animais e da natureza.

Sobre Ronaldo Rony
Ronaldo Rodrigues é redator publicitário, poeta, cronista, contista, cartunista, ilustrador e artista plástico. Como cartunista, assinando Ronaldo Rony, participa de salões de humor nacionais e internacionais, tem três livros publicados e edita, com periodicidade esporádica, em formato de fanzine, a revista do Capitão Açaí, seu personagem de maior sucesso. Em mais de 35 anos de produção artística, participou de vários movimentos de fomento e difusão artística, envolvendo música, performances e artes visuais.

Serviço:
Data: 20/01/2023 (sexta-feira)
Hora: 18h
Local: Oca Produções (Av. Ivaldo Veras,822-Altos – Marco Zero – em frente à Cidade do Samba)
Informações: (91) 99968-3341 – Pat Andrade (whatsapp)
Entrada Franca

Livro resgata pensamentos de políticos e de artistas do Brasil nos anos da redemocratização

Um novo livro chega à praça e certamente vai dar o que falar e muito o que pensar e refletir. É o que sugere o conteúdo de A Um Passo da Liberdade – 1985-1986, organizado pelos jornalistas Césio Oliveira, Vander Prata, José Barreto e pelo produtor cultural Sérgio Guerra.  Com fotos de Sonia Carmo, a obra tem o selo da Editora Maianga e apoio cultural da Objectiva Comunicação. O prefácio é do romancista e antropólogo Antonio Risério e o texto de orelha é do cientista político Paulo Fábio Dantas Neto.
O lançamento está marcado para o dia 24 de janeiro, às 18 horas, na Casa Rosa (Praça Colombo, 106, Rio Vermelho, em Salvador/BA).  Posteriormente, a obra será apresentada a outras capitais, em datas a serem definidas.

O livro resgata reportagens e entrevistas exclusivas e antológicas, publicadas pelo tabloide Jornal da Pituba (Salvador, Bahia) nos anos de 1985/1986. As entrevistas refletem o que pensavam e o que diziam importantes personagens da cena política, social e cultural do Brasil, à véspera da redemocratização e da primeira eleição direta pós-ditadura, a um passo da liberdade: Caetano Veloso, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Waldir Pires, Dorival Caymmi, Dom Avelar Brandão Vilela, general Juracy Magalhães, Cid Teixeira, José Carlos Capinan, Mário Kertész, Zélia Gattai, Bemvindo Sequeira, Fernando Gabeira, Grande Otelo, Moraes Moreira, Pierre Verger, Glauber Rocha, Waly Salomão e Theodomiro Romeiro dos Santos.

Serviço:
Editora: Edições Maianga
ISBN: 978-85-88543-52-2
Páginas: 324 páginas
Preço: R$ 69 venda direta. R$ 80 com frete incluso para o território brasileiro
Vendas: e-mail: [email protected]

(Bete Faria Nicastro)

Conto de Ray Cunha é selecionado para a coletânea Prêmio Off Flip 2022

O escritor amapaense Ray Cunha participa da coletânea de minicontos PRÊMIO OFF FLIP 2022 com NUA. Natural de Macapá/AP, autor de vários livros de poesias e romance, ele vive há muitos anos em Brasília, onde exerce as profissões de jornalista e terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa.

Segue-se a íntegra de NUA:

“Ela nasceu para o esplendor, no seu mundo azul. Desde que nasceu, acompanho seu embelezamento, seus banhos de sol, sua nudez cada vez mais esplendorosa, entregue à brisa, às borboletas, aos beija-flores. Namoro-a em todas as oportunidades. Consciente de que não vivem muito procuro apreciá-la em todos os momentos que posso. Ela não me dá importância, é claro, pois só se importam com o sol, mas deixa que cuide dela. Desconfio que saiba dos meus sentimentos, pois, quando a olho, torna-se ainda mais esplendorosa. Comecei a preparar-me para quando ela se for, e procuro me convencer de que elas ainda me proporcionarão um sem número de emoções. Mas esta é tão divina! Era apenas um tímido botão. Agora, madura, desnudou-se completamente. Sempre que a vejo é como se fosse a primeira vez no abismo do coração, e chego mesmo até a sentir o terremoto do primeiro beijo, dependendo do estado de espírito em que me encontro, por isso, ela nunca murchará na minha lembrança, pois os sentimentos verdadeiros não murcham nunca. Só eu sei o quanto as amo, como sou apaixonado por tudo o que é delas. Acredito, com fé, que elas são portais para a dimensão de Deus, misteriosamente inexpugnáveis na sua fragilidade, e eternas na sua fugacidade. Quando penso que essa rosa colombiana vermelha nasceu no meu jardim vibro de alegria, pois, ao namorá-la, sinto a luz pousar ao meu lado, para montá-la, como se monta o azul, tão azul que sangra.”

Leio, releio e recomendo

Quando o livro é muito bom a gente pega e não quer largar até chegar na última página. E quando chega lá a gente volta pro começo pra reler. Foi o q aconteceu comigo essa noite lendo “Crônicas pra ler em qualquer lugar”, do Xico Sá , Gregório Duvivier e Maria Ribeiro.

Como é pra ler em qualquer lugar, li na cama. A madrugada avançando e eu dizendo pra mim mesma: vou ler só mais uma e dormir. Mas não sou uma pessoa de palavra quando se trata disso. E lia mais uma e mais outra e mais outra e mais outra… e voltei e reli mais algumas.

Quando dei por mim estava quase amanhecendo. E se alguém me perguntar agora qual a melhor crônica desse livro, responderei: TODAS!

Textos leves, gostosos, encantadores, divertidos e críticos. E eu que sou muito fã do Xico Sá leio, releio e releio de novo suas crônicas e absorvo seu lirismo que me dá uma sorridente paz.
Obrigada, Xico, Gregório e Maria  por essa maravilhosa madrugada.

“O Velório”, segundo livro de Yagho, traz contos curtos com finais surpreendentes

Lançado sábado passado, O Velório é o segundo livro do escritor e advogado Yagho Bentes e está à venda na cafeteria e livraria Pajé.
O primeiro livro foi “Morte no Araguari” – um romance policial muito bem escrito que retrata um casal, Luiz e Alice, que tem o relacionamento abalado por uma tragédia. Essa tragédia leva a traições, vinganças e mortes, tudo isso tendo o rio Araguari como cenário principal – lançado ano passado.

Este segundo livro, “O Velório”, traz contos curtos com finais sempre surpreendentes.
Um pai irresponsável; um filho arrependido; um casal apaixonado; um jovem perdido na mata; um torcedor do Ypiranga; um marido infiel, esses e muitos outros personagens ganham vida em O Velório.
Em cada conto Yagho Marshel Bentes conduz o leitor por momentos decisivos e chocantes nas vidas de seus personagens que muitas vezes têm suas vidas destruídas por conta de escolhas erradas.

Advogado, pai de uma linda menina de 1 ano, Yagho quando não está trabalhando ou paparicando a filha, vai para o computador escrever contos e dar sequência a outros romances que pretende concluir em breve.
Ele tem 29 anos. Desenvolveu o hábito de ler e escrever ainda na pré-adolescência. Costumava escrever em diários pequenos contos, anotações, observações.