Artigo dominical

A cama do monge
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Um terrível bandido assaltava as caravanas que viajavam da Pérsia para a Palestina. Em poucos anos, havia juntado uma enorme fortuna, mas nunca ficava satisfeito. Certo dia, em suas andanças, encontrou um vilarejo de míseras choupanas que não conhecia. O lugar era habitado por monges que, ao perceber sua chegada, tinham fugido. O bandido entrou naquelas pobres moradas e roubou o que podia: um livro, uma ânfora, um crucifixo, uma veste. Numa das cabanas, porém, não encontrou absolutamente nada, tinha somente uma tábua que devia servir de cama para o morador. Ficou tão comovido com tamanha pobreza que decidiu premiar, de alguma forma, o desconhecido morador. Mandou colocar suntuosas cortinas, deixou um vasilhame precioso e enfeitou o lugar com adornos de ouro e prata. Depois, prometeu a si mesmo que voltaria para ver o que o sortudo morador faria com aqueles tesouros. Voltou depois de alguns meses disfarçado de viandante. Ao entrar, o homem falou:

– Ouvi dizer que um generoso bandido te encheu de riquezas, mas não estou vendo nada em tua casa?

– É verdade, estrangeiro, metade dos bens os doei aos pobres e metade à igreja. Contudo ficarei agradecido para sempre àquele bandido, porque me deixou um presente muito mais valioso: ajudou-me a entender que podia renunciar também à cama. Naquele momento, o bandido reparou que o monge estava mesmo deitado no chão. O seu coração de pedra estremeceu, caiu de joelhos e começou a chorar no colo do pobre velho. Este compreendeu tudo e ouvindo dele que estava disposto a renunciar a todos os seus bens, disse-lhe:

– Não a todos, mas à metade. Estás demais acostumado a eles, assim como eu estava agarrado à minha cama. Chegará o dia no qual te libertarás da coisa à qual mais estás ligado: a ti mesmo. Naquele dia, se quiseres, poderás vir aqui comigo. Vou te acolher como a um filho.

As primeiras duas parábolas do evangelho deste domingo são semelhantes. Em ambos os casos, o homem que encontra o tesouro no campo e o mercador de pérolas vendem tudo o que têm para comprar aquele campo e aquela pérola. Como sempre, Jesus não faz a teoria do Reino e, também, não afirma simplesmente que este Reino vale mais de que tudo o resto. O compara com a história dos dois homens que não têm receio de trocar tudo o que possuem com aquele bem que eles acreditam valer muito mais do que deixaram. Este bem tão precioso – o tesouro e a pérola – é o próprio Reino de Deus. Afinal, é Deus mesmo.

Mas, por que Jesus fala em vender e comprar? Será que o Reino é uma das tantas mercadorias que circulam pelo mundo e a elas pode ser assemelhado? Com certeza, não, mas a parábola ajuda a entender a dinâmica do Reino que acompanha a nossa própria vida. Vivemos de trocas e sempre esperamos ganhar alguma coisa. Ao menos, um pouco de satisfação, de prazer, de gratidão. Os pais criam os filhos e esperam que um dia serão recompensados pelos sacrifícios e a generosidade. Os jovens estudam, buscam um trabalho, porque sonham uma vida melhor, almejam a felicidade. Ninguém inicia um empreendimento já sabendo que irá à falência; se investe, é para ganhar, nunca para perder. Nada de mais comum: somos todos, mais ou menos, interesseiros. No entanto, para ganhar o Reino, que sempre será um dom de Deus, como a sorte de ter encontrado o tesouro ou a pérola na parábola, precisa deixar muito, talvez, tudo. Somente quem consegue se libertar de tantas outras “coisas”, menos preciosas, consegue desfrutar do Reino.

Jesus nos ensina a procurar o que vale mais. Em qualquer negócio, precisa escolher e arriscar. Não é coisa para fracos e indecisos, para medrosos e acomodados. Participar do Reino significa reencontrar o sentido da vida. O que hoje parece uma perda, acreditemos, amanhã será um ganho. Poderemos usar dos bens matérias sem nos tornar escravos deles. Poderemos gastar os nossos dons para fazer o bem, para amar e defender os valores que dignificam a nossa humanidade, senhores dos nossos sentimentos e decisões. A busca do Reino liberta, nunca aprisiona. Torna-nos grandes porque amigos de Deus, nunca homens mesquinhos.

O bandido da história entendeu que o paupérrimo monge era mais rico do que ele. Claro, não pelo dinheiro, mas pela liberdade. Podemos desconfiar disso, mas a busca deve continuar. O verdadeiro tesouro está escondido, mas sempre podemos encontrá-lo. Coragem!

Artigo dominical

A semeadura
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

– O que devo fazer? – perguntou o discípulo ao mestre.
-Vai, semeia um ato de bondade, colherás um costume.

Depois de algum tempo o aluno voltou.

– E agora o que devo fazer?
-Vai, semeia um costume, colherás um caráter.

Mais uma vez, depois de mais um tempo, o jovem voltou:

– O que resta ainda para fazer? – perguntou.
– Semeia o caráter – respondeu o mestre – colherás um destino!

A imagem da semente e dos frutos que dela nascem é, com certeza, uma das mais belas e compreensíveis comparações que podemos utilizar para entender, muito além dos processos da natureza, a própria realidade da vida humana. É fácil dizer que somos “eternos aprendizes”, no entanto, nem sempre sabemos aproveitar das lições da vida. O que fica mesmo dos conselhos, dos exemplos, bons e maus, que recebemos desde a nossa infância? Muito? Pouco? Nada? Quando, porém, temos a sabedoria de aprender com erros e caídas, como também com conquistas e descobertas, tudo isso entra a fazer parte da nossa vida, se torna um “patrimônio”, a nossa identidade de homens e mulheres em constante construção. Se a nossa vida não fosse esta sucessão de acertos e desacertos, avanços e recuos, seria, provavelmente, uma grande chatice; assim ensinam os mestres do pensamento humano. Em razão de tudo isso, é importante, vez por outra, parar para ver se o que foi semeado de conhecimento, convivência, encontros e desencontros, produziu frutos cada vez melhores. Crescemos, humanamente falando, ou não? Construímos saber, convicções, caráter? Ou vivemos à mercê das modas, dos aplausos, do brilho de outros?

Com o evangelho deste domingo, começamos a leitura do capítulo 13 do evangelho de Mateus, conhecido como o “discurso em parábolas”. O início é, ele mesmo, uma parábola que abre o horizonte das sucessivas. Simplesmente porque explica a missão de Jesus, semeador da palavra, enviado para revelar os “mistérios” e a dinâmica do Reino. Com efeito, as parábolas sucessivas começam com as palavras: o Reino do céu é semelhante a… Assim podemos dizer que o Reino de Deus, representado ao vivo pelo próprio Jesus, é ao mesmo tempo o anúncio, porque ele, o Senhor, deve ser acolhido como a novidade transformadora, mas é, também, a semente que, se encontrar um terreno generoso e fecundo, produz, aos poucos, os seus frutos. Por isso, declara Jesus, são felizes aqueles que têm olhos para perceber a presença do Reino e ouvidos para escutar a palavra semeada. Muitos profetas e justos desejaram ver e ouvir o que os discípulos estão vendo e ouvindo, mas não foi possível. Um convite claro a não desperdiçar a semente agora semeada com tamanha visibilidade e fartura.

Aquelas palavras ecoam também hoje para nós cristãos e para todas as pessoas de boa vontade. Qualquer ser humano pode ser o bom terreno para produzir frutos de amor, de justiça e de paz em abundância, na condição de não se deixar distrair, nesta obra, por outras propostas aparentemente mais atrativas, mas, afinal, sufocantes e capazes de ressecar qualquer coração. As parábolas sucessivas, neste mesmo capítulo, irão explicar que, na construção do Reino, precisará ter paciência, perseverança e muita coragem para escolher o que vale mais e deixar o que vale menos. No entanto o objetivo continua aquele de produzir frutos bons, porque este é o sinal evidente que a semente também foi de primeira qualidade. Vejam a responsabilidade e a missão que temos como cristãos: não somente devemos ser o bom terreno onde a semente produz cem, sessenta, trinta por um, mas também, provar, com isso, a força e o valor da Palavra semeada.

Infelizmente, a escassez de frutos deixa a suspeita da má qualidade daquilo que foi semeado. Mais uma vez, cabe a nós, em primeiro lugar, estarmos convencidos da bondade da proposta do Reino e acolhê-la com alegria, entusiasmo e disponibilidade. Assim, a pequena semente crescerá viçosa. Tudo começa com um ato de bondade, se tornará um costume, mais tarde será um caráter, enfim construirá um destino, uma meta: o Reino de Deus.

Papa Francisco reconhece virtudes heroicas de Marcello Candia

France Presse

O papa Francisco assinou nesta quarta-feira (9/7) o decreto que reconhece as virtudes heroicas do italiano laico Marcello Candia (1916-1983), fundador do hospital de Macapá, no rio Amazonas.

Conhecido como o “Doutor Schweitzer do Amazonas”, Candia mudou-se nos anos 60 para uma das zonas mais remotas do Brasil, onde ajudou doentes, principalmente, os leprosos, e fundou escolas, seminários e associações de voluntariado.

Proveniente de uma família de ricos industriais do norte da Itália, formado em Química e Biologia, Candia fez parte da resistência contra o fascismo, ajudou judeus e refugiados italianos e, através do arcebispo de Milão, o futuro papa Paulo VI, conheceu o padre Aristide Pirovano, com quem iniciou sua experiência brasileira.

Em 1991, o cardeal Carlo Maria Martini abriu o processo para sua beatificação, o que permitiu ao papa Francisco decretar, 23 anos depois, suas virtudes heroicas, primeiro passo para chegar a ser santificado.

Artigo dominical

Aquele lá de cima
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

No tempo que foi papa, João XXIII, agora santo, morava e trabalhava nos seus aposentos no terceiro andar do Palácio Vaticano. Mais em baixo, no primeiro andar, era alocada a Secretaria de Estado. O secretário de Estado, de então, era o cardeal Tardini, antigo colaborador de papa Pio XII. Esse cardeal levava muito a sério o seu trabalho, sem deixar de brincar, algumas vezes, como bom romano. Por isso, conta uma anedota, quando o papa João XXIII o chamava de repente, ele exclamava:

– Aquele lá de cima me chama de novo… – e corria.

Essa frase se tornou tão corriqueira que chegou aos ouvido do próprio papa João. Assim, um belo dia, o Santo Padre chamou o cardeal Tardini, à parte, e lhe disse:

– Meu caro cardeal, gostaria de precisar uma coisa: “Aquele lá de cima” é o Senhor de todos nós, o Eterno Pai lá no alto dos céus. Eu, entretanto, sou apenas “aquele do terceiro andar”. Depois de uma breve pausa, sorrindo, concluiu: – Por favor, não faça confusão de hierarquias!

Neste ano de 2014, assistimos à canonização de dois papas: João XXIII e João Paulo II. Em outubro, já foi anunciada a beatificação também de papa Paulo VI. Desta forma, a própria Igreja reconhece a inestimável colaboração e dedicação desses pontífices. A eles devemos a decisão e a conclusão do Concílio Vaticano II, assim como a concreta implantação de quanto os Padres do Concílio tinham pensado e decidido. Estamos falando de um evento – o Concílio Vaticano II – acontecido cinquenta anos atrás. Para os mais jovens é muito difícil poder fazer uma comparação entre a situação da Igreja antes do Concílio e o caminho de reformas e de renovação que foi aberto já durante os anos do Concílio e logo em seguida. No entanto, as “portas” e as “janelas” que aquele evento escancarou nunca mais foram fechadas e o “ar novo”, tão desejado, pelo papa João XXIII continua a soprar abrindo novos horizontes e inspirando a constante conversão da Igreja.

A partir daqueles anos, mudou a própria visão de Igreja, ou melhor, voltou a ser bíblica e atual. Mais do que uma estrutura orgânica e hierárquica, a Igreja foi reapresentada como Povo de Deus a caminho na história. Este “povo” de batizados não está à parte, separado do resto da humanidade, pelo contrário, deve colaborar, segundo às comparações evangélicas, como sal da terra, luz do mundo e fermento na massa, para que a história da humanidade inteira se torne a única e grande história do amor de Deus com todos os seres humanos de todos os tempos, condições e lugares. Esta Igreja é, ao mesmo tempo, humana, porque constituída de pessoas concretas e limitadas, e divina porque animada pelo Espírito Santo. Até o fim da história ela é chamada a ser a testemunha e a constante anunciadora do amor do Pai para com todos. Se hoje falamos de “nova evangelização” e de “conversão pastoral” o devemos ao impulso que o Concílio Vaticano II deu à missão de toda a Igreja.

Entre os caminhos abertos vale a pena lembrar a grande reforma litúrgica, o maior incentivo ao conhecimento e familiaridade com a Palavra de Deus, o diálogo ecumênico e o reconhecimento do papel dos leigos dentro, mas também e, sobretudo, fora das estruturas eclesiais. Todos os documentos das Conferências do Episcopado Latino-americano e Caribenho que se seguiram àquele Concílio revelam, também, o grande esforço das Igrejas deste continente para aplicar as reformas e as novidades daquele evento singular. O Vaticano II foi um dom de Deus que ainda está produzindo os seus frutos.

Na solenidade dos santos apóstolos São Pedro e São Paulo, renovamos o nosso afeto com a nossa Igreja, dela não só fazemos parte: nós somos hoje o rosto desta Igreja que peregrina na história. Diziam São Cipriano e Santo Agostinho: “Não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como mãe”. Os filhos devem apresentar, ao menos um pouco, a beleza da própria mãe. Sem esquecer que todos, também se importantes e santos, passamos, mas “Aquele lá de cima” permanece para sempre. Palavra de São João XXIII

Artigo dominical

O piloto do barco
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Certo dia Yen Huei apresentou ao mestre Tchong-ni a seguinte pergunta:

– Tempo atrás passei pelas correntezas do rio Chang-chen. O piloto do barco dirigia o bote com grande maestria. Então, perguntei para ele: É fácil aprender a dirigir o teu barco? Ele respondeu: “É muito fácil para quem sabe nadar. Aliás, um bom nadador consegue guiá-lo por instinto. Mas, tem mais: um excelente mergulhador saberia pilotá-lo sem nunca o ter visto”. Na realidade, o piloto do barco não respondeu a minha pergunta. O senhor saberia me dizer o sentido daquelas palavras?

Tchog-ni respondeu:

– Aqueles que sabem nadar podem aprender a dirigir o barco porque não têm medo das águas. O mergulhador, por sua vez, apesar de nunca ter visto o barco, sabe logo conduzi-lo porque para ele as águas profundas são como a terra firme. Assim, meu amigo, é fácil dirigir a tua alma se conheces o que é o céu. Por isso, em lugar de ficar discutindo sobre as coisas espirituais, procura conhecer e adorar a Deus.

Mais uma história da sabedoria chinesa. Não sei se os barqueiros dos imensos rios da Amazônia estariam todos de acordo com a opinião do sábio chinês, contudo é verdade que o medo tanto pode colaborar com o agir humano como paralisá-lo. Um pouco de medo serve, por exemplo, quando somos prudentes e evitamos arriscar inutilmente a nossa vida ou a dos outros. Ao contrário, em certas circunstâncias, os novatos morrem de medo, ao passo que os mais experientes agem com a maior tranquilidade e segurança. Não é por acaso que, em certas profissões, a prática vale mais do que os conhecimentos teóricos, ou, no mínimo, é decisiva para um bom desempenho. Sem dúvida, em certas ocasiões, a coragem, mais do que ausência do medo, é o resultado da experiência aliada às habilidades pessoais.

No evangelho deste domingo, Jesus nos exorta, por três vezes, a “não ter medo”. Os seus discípulos não devem temer aqueles “homens” que distorcem, manipulam e escondem a verdade. Um dia, tudo será revelado. Também os cristãos não devem ter medo “daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”. Como não pensar nos tantos mártires da fé, mas também da justiça e da paz? Quantos pagaram com a própria vida a fidelidade àquilo que acreditavam ser o bem mais precioso para si e para os outros. Perderam o corpo, mas salvaram o sentido de suas vidas. Com o seu sacrifício, exaltaram aqueles princípios que dão valor à própria existência humana. Por isso, Jesus nos diz para ter medo, sim, daquele que pode matar, além do corpo, a alma, porque pode acabar com tudo aquilo que alimenta e motiva o nosso amar, sofrer, lutar: a nossa fé, as nossas esperanças e ideais. Para o Pai, conclui Jesus, toda criatura tem valor, portanto, porque ter medo? A confiança em Deus, pai amoroso, deve nos sustentar sempre nos momentos felizes, mas sobretudo nas provações, na hora da perseguição, da calúnia e da solidão. Quem tiver a coragem de testemunhar a sua fé, de declarar-se a favor de Jesus diante dos homens, será também defendido por ele diante do Pai.

Graças a Deus nunca faltaram, ao longo dos séculos, pessoas capazes de professar com coragem a fé cristã; deles e delas devemos guardar a memória e o exemplo. No entanto, em nossos dias, percebemos o esfriamento do entusiasmo a respeito da defesa corajosa dos próprios princípios e ideais éticos, morais e religiosos. O fanatismo ou a intolerância não devem ser confundidos com a defesa honesta das próprias convicções. Essa defesa deve acontecer no respeito aos direitos de todos, na liberdade de expressão para que não seja prejudicial aos que pensam diferente, mas sempre na firme certeza de estar contribuindo para o bem de todos.

Quando os católicos insistem sobre o valor da vida, da família, da liberdade religiosa e do bem comum, não o fazem para sustentar privilégios, mas porque acreditam que o abandono de certos valores seria gravemente prejudicial para todos. Estamos precisando de corajosos mergulhadores da realidade de Deus e do coração humano, capazes de dirigir o barco da história com mãos seguras e firmes. Sem medo.

Procissão de Corpus Christi sairá da Igreja N.S. da Conceição

A Diocese de Macapá celebra a solenidade de Corpus Christi, dia 19 de junho, quinta-feira, feriado nacional. A programação começa com a Santa Missa, às 16h30, na quadra Padre Antonio Cocco, ao lado da igreja matriz da Paróquia Nossa senhora da Conceição, no bairro do Trem, de onde sairá a Solene Procissão do Corpo de Cristo, após a Missa, percorrendo a avenida Cônego Domingos Maltês, rua General Rondon e a chegada na Catedral de São José.

Este ano a Festa de Corpus Christi em Macapá está sendo coordenada pelo Vicariato quatro, uma área da Diocese que reúne as paróquias Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, São José, Nossa senhora da Conceição e São Pedro. Símbolo de uma das festas mais antigas da Igreja católica, o tapete por onde passa o Santíssimo Sacramento está sendo confeccionado de força diferente este ano.

“Em razão do período chuvoso em Macapá lançamos a campanha das artes em TNT branco, de dez metros, no lugar da moinha, serragem e outros materiais que podem ser levados pela chuva. Qualquer grupo de pessoas interessado, por paróquia, pode fazer um desenho, uma arte religiosa em TNT branco e entregar até as 11 horas da manhã do dia 19 de junho, no escritório da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Durante a Missa um grupo de voluntários (as) fará a montagem do tapete para a passagem da procissão”, explica padre Fábio Pereira, da coordenação da festa.

O Bispo de Macapá, Dom Pedro José Conti, no decorrer da celebração de Corpus Christi, anunciará abertura dos preparativos para a celebração do Congresso Eucarístico Diocesano, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de maio de 2016. “Antes teremos cerca de dois anos de ‘missões eucarísticas’ nas nossas paróquias com uma especial atenção às comunidades do interior e das cidades. A abertura do evento acontece com a Festa do Corpo e Sangue de Cristo, e o lançamento do hino do congresso e o cartaz, além de outros subsídios que nos acompanharão até o final”, escreveu Dom Pedro na carta sobre o Congresso Eucarístico.

O tema do Congresso será: EUCARISTIA: PÃO DA UNIDADE, ALIMENTO DA MISSÃO. “A Eucaristia nos une a Cristo e faz de nós “um só coração e uma só alma” (At 4,32). Ao mesmo tempo nos envia em missão através do testemunho das nossas vidas doadas por amor, como Jesus ofereceu a sua para nos reconduzi, reconciliados, ao Pai”, anuncia o Bispo de Macapá.

(Oscar Filho – Pastoral da Comunicação)

João Paulo II e João XXIII são declarados santos

Da Agência Brasil

cerimonia_canonizacaoDiante de 800 mil fiéis na Praça São Pedro, o papa Francisco celebrou hoje (27) a missa de canonização dos papas João XXIII e João Paulo II. O ritual foi concelebrado pelo papa emérito Bento XVI e transmitido em telões em vários pontos de Roma e em 500 cinemas em mais de 20 países, segundo informou a Rádio Vaticano.

Os agora São João XXIII e São João Paulo II foram lembrados por Francisco como dois homens corajosos e sacerdotes dedicados, que “colaboraram para restabelecer e atualizar a Igreja”. Os dois novos santos participaram do Concílio Vaticano 2º, convocado em 1961 por João XXIII para que teólogos e autoridades eclesiásticas discutissem temas referentes à doutrina católica e atualização da Igreja aos assuntos em voga no século 20.
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Liberdade
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1), Este é o lema da Campanha da Fraternidade que está chegando ao fim junto com a Quaresma. O tema da Campanha denuncia a trágica vergonha que é o tráfico de seres humanos, nos diversos aspectos do trabalho escravo, exploração sexual e tráfico para a extração de órgãos. Este “tráfico” movimenta grandes quantias de dinheiro, tem uma organização capilar e aproveita do medo e do receio de se expor que paralisa, muitas vezes, as vítimas.

O Estado do Amapá, que é um Estado de fronteira e têm portos e rios navegáveis, está entre as rotas do tráfico humano e das drogas. Já ouvi pessoas dizerem que moram perto de uma “boca de fumo”. Algumas das obras assistenciais atuantes em nossa Diocese, sob a responsabilidade de religiosos e religiosas, abrigam menores “em situação de risco” entregues a elas pela Justiça. Muitas outras crianças e adolescentes precisariam ser resgatadas de ambientes impróprios.

O tema desta Campanha, portanto, envolve-nos de perto. Pede-nos atenção naquilo que acontece de baixo dos nossos olhos, coragem na denúncia, solidariedade com as vítimas e prudência para não sermos envolvidos em algo que reconhecemos indigno de seres humanos. Talvez, para isso, ajude-nos a entender de qual “liberdade” Paulo falava na carta aos Gálatas e de qual “escravidão” todos, afinal, precisamos ser libertos.

Paulo anunciava a liberdade que trazia a fé em Jesus Cristo e denunciava a dependência da Lei antiga como amarra de uma escravidão. Segundo ele, os Gálatas, após terem abraçado a fé, tinham sido “enfeitiçados” por alguma falsa doutrina e tinham voltado sob o jugo da Lei. Ele não defendia somente o seu trabalho de evangelizador que estava sendo prejudicado; lamentava a facilidade com a qual os Gálatas tinham voltado atrás, deixando um caminho tão bem iniciado. Basta lembrar as polêmicas de Jesus, sobretudo com os fariseus, para entender a gravidade da questão. Segundo os legalistas, a rigorosa obediência à Lei tornava o homem “justo”, merecedor do prêmio divino. Seria como dizer que a salvação era o resultado das obras da Lei e não um dom gratuito e generoso de Deus.

A lei do amor que Jesus nos deixou é muito mais do que o cumprimento de normas e nunca é um direito. O amor só pode ser dado e recebido também por amor, sem segundos interesses. De outra forma, seria “negócio”; um dar para receber e não um dar pela alegria de fazer da própria vida um dom. A nossa maior hipocrisia sempre será cumprir as normas religiosas – e sentir a nossa consciência em paz – mas, depois, deixar de praticar o bem e a justiça respeitando e promovendo a vida e a dignidade as pessoas.

Dito isso, é fácil entender que os nossos irmãos e irmãs vítimas do trabalho escravo, de exploração sexual ou do tráfico de órgãos, não são os únicos “escravos”. A sociedade, a nossa maneira de pensar e de organizar a vida, todos nós, enfim, somos vítimas – e com isso “escravos” – da ideologia do ganho fácil, do lucro e do consumo. Quem explora o trabalho dos outros, colocando os empregados em situação de eternos devedores, visa somente o seu lucro, aproveitando da necessidade alheia. Quem explora sexualmente adultos e menores o faz pensando em ganhar vendendo o corpo dos outros. Muitas vezes, também, quem foi vítima do tráfico entrou nesta situação pensando que ia melhorar de vida, ganhar e ter sucesso. Mais triste, ainda, é a ganância daqueles que sequestram e matam pessoas, jovens e crianças, para tirar os órgãos deles e vendê-los para quem os encomendou. É o próprio interesse acima de tudo.

Não tenho medo de afirmar que se não mudarmos a maneira de pensar, se não trocarmos a fome do dinheiro pela busca de mais justiça e fraternidade, continuaremos a ter exploradores e explorados, ganhadores e vítimas numa luta sem fim. Continuaremos a lamentar tantas situações de violência e exploração. A vergonha do tráfico humano deve ser desmascarada e arrancada, com todas as suas raízes, também do nosso coração.

Com esta Campanha, entendemos que alguns dos nossos irmãos e irmãs explorados entraram nesta situação por necessidade ou pela esperança de melhorar as próprias condições. Outros, porém, se deixaram levar pela ilusão do ganho fácil, pensando ter encontrado a sorte grande na vida. No entanto quantas outras pessoas, por dinheiro, dão amparo e compactuam com este tráfico vergonhoso? Quantos fingem não saber que a cota que recebem é fruto de vidas perdidas, de infâncias roubadas, de juventudes apagadas? Somos chamados a lutar pela libertação dos nossos irmãos e irmãs escravizados, mas antes nós, também, precisamos ser libertos de todos os males que nos levam à indiferença, à insensibilidade, ao medo que fecha a boca e os corações.