Hoje – 115 anos do nascimento do poeta Mario Quintana

O AUTO-RETRATO
Mario Quintana (1906-1994)

No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
as coisas que não existem
mas um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,
no final que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

(Do livro “Apontamentos de História Sobrenatural”, lançado em 1976)

No dia 31 de julho de 1906 nascia em Alegrete (RS) o poeta Mario Quintana

35 anos de saudade

20 de julho é Dia do Amigo e há exatos 345anos minha mãe, professora Delzuite Maria Carvalho Cavalcante, pioneira do magistério amapaense, partiu ao encontro do maior e melhor amigo: Deus.
A saudade é imensa. E ainda dói.
Paraense, Delzuite Cavalcante veio para o Amapá ainda muito jovem, a convite de Janary Nunes, tão logo foi criado o Território Federal do Amapá. Lecionou em diversas regiões do interior, às margens de rios e estradas, desenvolvendo seu trabalho no Araguari, Aporema, Cajari e Campina Grande. Sob a luz de lamparinas preparou uma geração de jovens.
Em Macapá, lecionou no Alexandre Vaz Tavares. Fez parte do primeiro quadro de professores das escolas Coaracy Nunes e José de Anchieta. Trabalhou também com educação de adultos no Centro de Ensino Emílio Médici.
Poetisa, amante da cultura e da educação, ao deixar a sala de aula continuou seu trabalho em outros setores de formação da juventude, como a Divisão de Assistência ao Estudante e o Departamento de Assuntos Culturais (hoje Secult).
Delzuite Cavalcante era filha de um português, Domingos Pereira de Carvalho, com Jacinta Alves Carvalho.
Casou-se em 1953 com o poeta e jornalista Alcy Araújo Cavalcante com quem teve quatro filhos: Alcione, Alcinéa, Alcilene e Alcy Filho. Teve duas filhas adotivas: Genassuema e Adélia.
Mãe, na saudade dos que te amam descansa na paz de Deus.

Homenagem póstuma: Promotorias de Justiça do MP-AP recebem nome do promotor Eraldo Afonso Zampa

Em cerimônia realizada nesta segunda-feira (12), o Ministério Público do Amapá (MP-AP) instituiu o nome da ALA destinada ao MP-AP, no novo prédio da Fecomércio/AP, onde vão funcionar Promotorias Criminais e de Família, Órfãos Sucessões e Incapazes, como “Complexo  – Promotor Eraldo Afonso Zampa”. A homenagem póstuma ao membro da instituição, vítima de complicações da Covid-19, foi decidida pelo Colégio de Procuradores de Justiça, durante reunião no dia 17 de maio de 2021, e transmitida, ao vivo, pelo Canal do MP-AP: https://www.youtube.com/c/canalmpap/live

A abertura da solenidade foi feita pela procuradora-geral de Justiça do MP-AP, Ivana Cei, que ressaltou as qualidades do promotor falecido em 2020. A PGJ enfatizou a competência de Eraldo Zampa nos seus quase 30 anos dedicados à instituição e agradeceu os relevantes trabalhos prestados à sociedade amapaense.

Sobre o novo espaço
O primeiro pavimento do prédio, localizado na Avenida Procópio Rola, esquina com a Rua Eliezer Levy, no centro de Macapá, recebeu adaptações para receber as Promotorias de Justiça Criminais de Macapá e de Família e é fruto de uma parceria com a Fecomércio. O local será um espaço provisório até o órgão ministerial ter uma estrutura própria para as referidas unidades. Amplo, moderno e com acessibilidade, as instalações visam proporcionar melhores condições de trabalho e de atendimento ao público. Além da localização privilegiada, ao lado da Defensoria Pública do Estado, e próximo do Fórum de Macapá. O edifício também receberá órgãos de outras instituições do Sistema de Justiça e empresas comerciais, além do Ministério Público.

Jornalista Sândala Barros e Victória, esposa e filha de Eraldo Zampa

A esposa do homenageado, Sândala Barros,  exaltou também as qualidades de Eraldo Zampa como marido e pai, bem como as experiências vividas em família.

“Em nome da Dra. Ivana Cei, agradeço essa honrosa homenagem. Isso acalenta nossos corações, pois convivi com o Eraldo 26 anos e a gente sabe o quanto ele amava essa instituição e a função que ele desenvolvia, na qual se dedicou de coração e de alma. Sabemos que, posteriormente, o prédio permanente terá também o nome dele. Nunca esqueceremos esse reconhecimento. E toda vez que passarmos em frente à instituição, nos confortará ver o seu legado. Nós agradecemos, e digo a vocês que Eraldo Afonso Zampa se faz presente”, frisou Sândala Barros.

O promotor Jander Vilhena, que atua na Promotoria Militar e é um dos membros que trabalhará no novo espaço, destacou as qualidades de Eraldo Zampa e relatou apoio pessoal durante um problema familiar. Por sua vez, o presidente da Comissão de Acompanhamento de Obras da instituição,  promotor de Justiça Roberto Alvares, discorreu sobre o colega homenageado e parabenizou a administração superior pela justa homenagem ao promotor.

“Esse é um momento muito importante, pois o próprio e saudoso Eraldo Zampa era um dos nossos membros que solicitaram mais espaço para realizar suas atividades e a homenagem a ele é mais que justa, pois o promotor foi um exemplo de profissional.  Na minha primeira gestão, tentei resolver essa demanda, mas não foi possível. Agora conseguimos executar essa ação para que nossos membros e servidores possam trabalhar em um local mais adequado. Aproveito para agradecer, em nome do Dr. Roberto Alvares, a nossa Comissão de Obras, que tem dado vazão aos planos de nossa gestão. Este novo espaço tem todas as condições para os promotores executarem suas atividades e estou muito feliz por isso”, finalizou Ivana Cei.

Membros e familiares, presentes ao evento, fizeram o descerramento da placa, que dá nome à ALA,  fixada ao lado de um quadro com a imagem do promotor Eraldo Zampa, pintado pelo artista plástico Josué Rodrigues Nascimento (Jorron).

Autoridades presentes
Também participaram da inauguração os procuradores de Justiça Clara Banha e Joel Chagas; o chefe de Gabinete da PGJ, promotor de Justiça João Furlan; o ouvidor do órgão ministerial, promotor de Justiça Paulo Celso Ramos; o coordenador das Promotorias Criminais, promotor de Justiça Flávio Cavalcante; e os promotores de Justiça que atuam na área criminal, Vinicius Carvalho, Ricardo Crispino e Neuza Barbosa; além dos servidores que prestam assessoria nas Promotorias alí instaladas. Também presente a procuradora-geral de Justiça do Ministério Público de Roraima, Janaína Carneiro, que está em visita ao MP-AP.

Resumo histórico

Eraldo Afonso Zampa nasceu no município de Americana (SP), filho de Antônio Eraldo Zampa e de Cacilda Kuhi Zampa, cursou direito na faculdade de Varginha/MG, obtendo diploma de bacharel em direito na data de 26 de janeiro de 1989, aos 33 anos. Dois anos depois, em 1991, tornou-se promotor de Justiça no estado do Amapá, aprovado no I concurso público do estado do Amapá, em 23⁰ lugar.

Tomou posse no dia 1⁰ de novembro de 1991, assumindo a titularidade da Comarca de Calçoene (AP), na qual pertenceu até ser promovido, por antiguidade, em 27 de maio de 1992, para ocupar a titularidade da Promotoria de Justiça da Comarca de Macapá, com atribuições junto à 1⁰ Vara Criminal – 3⁰ Entrância.

Durante seu exercício como membro do Ministério Público, Eraldo Zampa destacou-se nos cargos de coordenador das Promotorias de Justiça com atribuições junto às Varas Criminais e também junto às Varas de Família, órgãos e sucessões da Comarca de Macapá.

Exerceu por cerca de 30 anos o cargo vitalício de promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Amapá, tendo como a última titularidade a 7⁰ Promotoria de Justiça de Macapá – 1⁰ Vara Criminal. Em 15 de novembro de 2020 aos 65 anos de idade, deixou amigos, família, e instituição, vítima da pandemia do Covid-19.

Nota triste – Morreu hoje o desembargador aposentado Manoel Brito

Morreu hoje, no inicio da noite no Hospital São Camilo, o desembargador aposentado Manoel Brito, aos 69 anos de idade. Ele estava internado desde sábado quando foi submetido a uma cirurgia de urgência.
Manoel Brito – também conhecido como Manelão – foi professor de Educação Física na escola Antônio João no final dos anos 1960 e inicio dos anos 1970. Depois cursou Direito e em 1991 ingressou no Ministério Público aprovado no primeiro concurso para promotor. No ano seguinte foi nomeado procurador de Justiça. Em 1993 foi nomeado Procurador-Geral de Justiça (biênio 1993-1995)   e reconduzido para o biênio seguinte (1995-1997). Foi presidente dp Tribunal Regional Eleitoral no biênio 2017-2019.
Em 2015 tornou-se desembargador do Tribunal de Justiça do Amapá. Em janeiro deste ano, 2021,  foi aposentado.

Conheci Manelão na época que ele professor. Naquele tempo era comum familiares se reunirem, alugarem um ônibus ou caminhão para fazer piquenique em Fazendinha. Na época Fazendinha era considerada tão longe, a estrada não era asfaltada e não havia linha de ônibus para lá.
Minha mãe, a professora Delzuite Cavalcante, trabalhava na escola Coaracy Nunes. Um grupo de professores dessa escola se juntava a um grupo da escola Antônio João para fazer o piquenique. Faziam a coleta para pagar o aluguel do ônibus ou caminhão e cada família era responsável para levar alguma coisa para o lanche e almoço. Faziam reuniões para decidir quem levaria o que. Sim, eram farofeiros. Mas é que nessa época não existiam restaurantes em Fazendinha.
Olha, era uma festa esses piqueniques. O dia inteiro de alegria, de correr na areia e de nadar,  tomar muito banho  (a água de lá ainda não era imprópria para banho).
No ônibus ou caminhão tanto na ida como na volta se ia cantando, rindo, sendo verdadeiramente feliz.

Adeus, Manelão. Descansa em paz.

Homenagem póstuma: Complexo da Zona Sul do MP-AP passa a ser denominado de promotor Mauro Guilherme da Silva Couto

Em cerimônia realizada nesta sexta-feira (2), o Ministério Público do Amapá (MP-AP) instituiu o nome do prédio do “Complexo Cidadão da Zona Sul – Promotor Mauro Guilherme da Silva Couto”. A homenagem póstuma ao membro da instituição, vítima da Covid-19, foi decidida pelo Colégio de Procuradores de Justiça, durante reunião no dia 17 de maio de 2021, e transmitida, ao vivo, pelo Canal do MP-AP: https://www.youtube.com/watch?v=Brj3qAyqwLQ).

Na abertura, com a presença no dispositivo de honra da procuradora-geral de Justiça, Ivana Cei, e da esposa do homenageado, Márcia Távora Couto, a poetisa amapaense Annie Carvalho declamou uma poesia de autoria do promotor de Justiça Alcino Moraes, intitulada “O Poeta Vive”, em homenagem ao amigo Mauro Guilherme. Em seguida, houveram as manifestações de uma representante da família, Suelen Távora, e do amigo e advogado Helder Ferreira, ressaltando as qualidades, falando da saudade e também fazendo agradecimento ao MP-AP por eternizar o nome do promotor de Justiça no local onde trabalhava. Na carta escrita pela filha do homenageado, Natália Távora, e lida na ocasião por sua tia Suelen Távora, agradecimentos em nome da família pela homenagem do MP-AP. “Ele tinha um imenso orgulho de ser membro do Ministério Público e, sem dúvida nenhuma, amava o que fazia. Papai tinha uma fé imensa na instituição, na justiça, na igualdade, no amor e na caridade. E, assim ele viveu seus cinquenta e cinco anos e nos deixou doces lembranças que carregaremos para a vida toda”, disse.

O coordenador das Promotorias de Investigações Cíveis, Criminais e de Segurança Pública, promotor de justiça Marco Antônio Vicente, falou em nome dos membros e servidores das Promotorias ali instaladas, e parabenizando a “administração superior pela justa homenagem ao promotor que era coordenador do Complexo Cidadão”, que passa a dar nome ao prédio.

Pelo chat no Youtube, várias manifestações de carinho e reconhecimento pela homenagem. O juiz de Direito Matias Pires Neto escreveu: “Mauro Guilherme, meu eterno amigo. Ainda abatido pela dor da perda, saudade que aumenta a cada dia, mas a fé me faz acreditar que meu amigo está muito na Glória, é o conforto”. O promotor Horácio Coutinho, registrou ser uma “Justa Homenagem ao colega Mauro Guilherme. Promotor, artista, escritor, músico, futebolista. Uma pessoa de um coração enorme”.

A PGJ também falou da espiritualidade e da dedicação ao trabalho e agradeceu ao Colégio de Procuradores que aprovou a homenagem. “Mauro, você construiu humanidade, solidariedade e amor. Então, com todo respeito que você significa para o Ministério Público, digo com toda minha alma que você deixou bons frutos, você deixou poesia, alegria e deixou no trabalho o orgulho de ser Ministério Público”, finalizou Ivana Cei.

Membros e familiares, presentes ao evento, fizeram o descerramento da placa que dá nome ao prédio fixada ao lado de um quadro com imagem do promotor Mauro Guilherme, pintado pelo artista plástico Josué Rodrigues Nascimento (Jorron).

Resumo histórico

Mauro Guilherme nasceu em Belém-Pará, e aos 23 anos obteve o diploma de direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Após três anos de formado tornou-se promotor de justiça no Estado do Amapá, aprovado em 19º lugar no primeiro concurso público para ingresso na carreira do MP-AP, onde tomou posse em 1º de novembro de 1991. Assumiu inicialmente a titularidade da comarca de Mazagão e, posteriormente ocupou diversos cargos na instituição, tendo como última titularidade a 3ª promotoria de Justiça Criminal de Macapá.

Juntamente à carreira de membro do MP-AP, Mauro Guilherme também contribuiu para o desenvolvimento da arte. Por meio de sua atuação como músico e escritor publicou diversas obras que mereceram destaque no meio literário do Amapá, dentre elas: “Reflexões Poéticas” (1998); “Humanidade Incendiada” (poemas 2003); “Destino” (romance 2007); além da recente coautoria no livro de crônicas intitulado “Cronistas na Linha do Equador”.

Era cidadão amapaense, com título concedido pela Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, em 1997. Vítima da covid-19, Mauro Guilherme partiu, em 4 de maio de 2021, deixando amigos, família e a instituição que tanto se dedicou, nos quase 30 anos de trabalho.

Fortalecimento institucional

Após a cerimônia, a Administração Superior do MP-AP fez a entrega de notebooks, da marca HP modelo Elitebook 840 G6, a membros que atuam no Complexo Cidadão Zona Sul – Promotor Mauro Guilherme da Silva Couto. A ação faz parte da meta da atual gestão para promover melhores condições de trabalho que resultará em fortalecimento da atuação ministerial em prol da sociedade.

A coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-AP) e Núcleo de Inteligência do Ministério Público (NIMP), promotora de Justiça Andrea Guedes, recebeu o equipamento da procuradora-geral do MP-AP, Ivana Cei. Os demais membros da instituição, que atuam nas Promotorias Criminais do MP-AP, Marco Vicente; Lindalva Jardina; Iaci Pelaes; Afonso Guimarães; Laércio Mendes e Alberto Eli Pinheiro, também receberão os computadores.

A entrega dos equipamentos já ocorreu na Procuradoria-Geral de Justiça – Promotor Haroldo Franco e Complexo de Promotorias de Justiça do município de Santana.

Adeus, Tia Cila. Hoje não tem carnaval na avenida do samba, mas tem na avenida celestial

Voa azulão, azulão azulão
leva o meu coração, leva o meu coração
pra morar contigo, azulão
no reino da ilusão, voa voa azulão.

Aqui hoje não tem carnaval na Avenida do Samba, mas na Avenida Celestial está a maior animação. Todas as escolas se reuniram numa só para homenagear Cila Trindade.
Paulo Rodrigues organiza o desfile, auxiliado por Marjô; Mestre Monteiro comanda a bateria e Ivo Canuty,  Macunaíma e Sobral puxam o samba. Manoel Torres cuida da harmonia.
Vai começar o desfile. “Solta o azulão, Tia Cila”, grita o Ivo com aquele vozeirão. E a escola entra na avenida com toda empolgação, alegria e, principalmente doçura, que era uma característica marcante de Tia Cila.
Um desfile impecável que se encerra com a passagem da rainha Tia Cila num lindo carro alegórico (feito pelo Estêvão), azulzinho como o céu e decorado com estrelas e nuvens.

Cila França Trindade, a Tia Cila, faleceu ontem à noite, dias após ter sido submetida a uma delicada cirurgia no cérebro.
Figura das mais queridas e mais conhecidas foi uma professora exemplar. Nas redes sociais seus ex-alunos lamentaram sua morte e ressaltaram suas qualidades; o mesmo fizeram seus colegas de magistério. Ela fez história na educação amapaense.  E fez história também – e muita – no carnaval.
Foi fundadora da Unidos do Buritizal e presidente da Liga das Escolas de Samba.
Na época do carnaval, sua casa virava sede da escola, ateliê, barracão etc etc.
Cila lutava pelo carnaval amapaense, não só pela sua escola, mas por todas. Por isso era tão amada pelos amantes do carnaval, brincantes e dirigentes de escolas de samba.

A escola Grêmio Recreativo Cultural Acadêmico Escola de Samba Unidos do Buritizal foi fundada na casa da Tia Cila em julho de 1990. Em 1991 fez seu desfile de apresentação (não concorria ao título) com o enredo “Uma viagem ao mundo da fantasia”; em 1992 já entrou na disputa e sagrou-se vice-campeã do grupo de acesso com o enredo “Alcy Araújo, o poeta do cais”. E foi nesse ano que começou nossa amizade com Cila Trindade. Por vários anos desfilei na comissão de frente da escola e depois passei para a ala da “Velha Guarda”.
Mas o que eu quero falar aqui é da doçura da Cila, do carinho com que ela nos recebia cada vez que íamos na casa dela; do abraço tão carinhoso que ela nos dava quando nos encontrava em qualquer lugar. E ela tinha um sorriso tão lindo e a voz tão suave. Nunca vi Cila de cara amarrada, falando alto, resmungando ou de mau humor. Até quando garfavam sua escola ela protestava sem perder a elegância, a suavidade, a ternura.

Lembro que às vezes faltando dois ou três dias pro desfile eu corria lá na casa dela. “Tia Cila, a minha fantasia”. E ela com aquele sorriso tão lindo, me dizia: “Mas tu mesmo, só vens em cima da hora tirar a medida”. No outro dia minha fantasia estava prontinha. Raras vezes deixei de desfilar na escola. E eu sempre dizia que era apaixonada pelo Buritizal tanto quanto pelo Maracatu da Favela. Hoje estou na dúvida se minha paixão era pela escola ou por Tia Cila.

Ah, Tia Cila, ontem quando soube da tua partida eu chorei, chorei mesmo. Mas depois fiz uma prece a Deus pedindo a Ele que te receba no reino do Céu com muita ternura e agradeci a Ele ter tido o privilégio da tua amizade, do teu carinho, do teu cuidado.
Vai em paz, Tia Cila. Voa, Tia Cila, nas asas do azulão para o céu.
Obrigada por tudo que você fez pela cultura, carnaval e magistério.

Eu na Comissão de Frente da Unidos do Buritizal em 1992. Foi aí que começou minha paixão pela escola e por Tia Cila

Xexeo – “O jornalista tem de ter duas qualidades básicas: a curiosidade e a humildade

Trechos de uma entrevista que Xexeo concedeu à Associação Brasileira de Imprensa

ABI OnlineVocê já reparou que escreve muito sobre o passado, sobre coisas que já foram? Isso é saudosismo?
Xexéo — Isso é idade, né? Quanto mais eu vivo, mais passado eu tenho. Hoje mesmo escrevi uma coluna inteira sobre o assunto. Muitas vezes isso ocorre porque você percebe que certas coisas vão se perdendo e dá uma vontade de que elas permaneçam. Meu contato maior é com as redações, muito maior até do que com a vida real. As pessoas mais novas são muito desinformadas sobre o que já aconteceu. É muito comum você falar de determinado acontecimento ou personalidade e o mais jovem retrucar: “Ah, mais isso foi antes de eu nascer.” Como se o mundo começasse no dia em que a gente nasce! Então, quando escrevo, eu sinto essa vontade de mostrar como as coisas eram e aconteciam. Acho que a nostalgia é essa sensação de achar que “aquele tempo” era melhor do que esse. É claro que a nossa juventude é sempre melhor do que a maturidade. A infância é, de certa forma, idealizada e tudo o que a cerca parece melhor também. Mas eu tenho consciência de que não é bem assim. Só quero deixar registrado.

ABI OnlineVocê já escreveu a coluna dos seus sonhos?
Xexéo — É capaz. Foram tantas que já devo ter feito a dos meus sonhos e também a pior de todos os tempos. Na verdade, não tenho nenhum projeto de escrever uma coluna determinada e não me acho um cronista. Não sei o que sou quando escrevo naquele espaço ali. Mas, de vez em quando, eu me aproximo da crônica. Quanto mais isso acontece — e ainda é raro — mais eu gosto. Supero um obstáculo, meu trabalho é melhor, fica mais literário e atinge as pessoas de modo mais sofisticado do que simples comentários ou opiniões sobre um assunto. Quando isso acontece, estou mais perto dos meus sonhos.

ABI OnlineE se você fosse professor universitário de um curso de Jornalismo, o que ensinaria a seus alunos?
Xexéo — O jornalista tem de ter duas qualidades básicas. Uma é a curiosidade; acho que é possível ensinar isso. A outra é a humildade, pois esta é uma profissão que — talvez por ser associada a essa história de quarto poder — permite que você se ache melhor que os outros, tenha o nariz empinado e se sinta com o rei na barriga. Isto acaba prejudicando o trabalho. A gente detém, ou consegue, a informação por uma única razão: não porque é mais inteligente, mais bonito ou mais gostoso, mas porque sabe que tem a função de dividi-la com a sociedade. É preciso ter humildade o tempo todo para saber que você é só o “cavalo” dessa história, que não é melhor do que ninguém porque sabe antes das coisas. Eu tentaria passar isso.

A entrevista completa você lê aqui

Notícia triste – Morre o jornalista e escritor Artur Xexeo

“Tudo que eu faço, o que eu edito, o que eu escrevo, é em nome do leitor. Então, eu acho que ele tem o direito de reivindicar, de gostar, de não gostar, de reclamar, de escrever, de se colocar, de se posicionar, eu gosto de participar dessa troca”
(Artur Xexeo)

 

Morreu neste domingo, aos 69 anos,  o jornalista e escritor Artur Xexeo. Uma perda imensa para o Brasil, para o jornalismo e para a cultura.
Xexeo – que trocou a faculdade de engenharia pela de jornalismo – começou no “Jornal do Brasil” em 1976 como repórter na sucursal do Rio de Janeiro. Quatro anos depois, convidado por Zuenir Ventura foi para a revista “IstoÉ”. Trabalhou também na Veja.

Colunista do jornal “O Globo” e comentarista da GloboNews, desde 2015  participava da transmissão do Oscar na Globo. Também ficou conhecido no rádio, como comentarista da CBN.

Além de jornalista, Xexeo era escritor e dramaturgo. Autor dos livros Janete Clair – A usineira dos sonhos (Relume Dumará, 1996);  Liberdade de Expressão (Futura, 2003), com Carlos Heitor Cony e Heródoto Barbeiro;  O torcedor acidental (Rocco, 2010) e  Hebe: A Biografia (Best Seller, 2017).

Escreveu os musicais “A Garota do Biquíni Vermelho”,  “Nós Sempre Teremos Paris” e “Cartola – O Mundo é um Moinho”, espetáculo idealizado e produzido por Jô Santana, com direção de Roberto Lage. Em 2018, assinou o texto da comédia romântica “Minha Vida Daria um Bolero”, Foi roteirista dos seriados Pé na cova e Sexo e as Negas, da Rede Globo. A última obra de Xexéo no teatro foi a adaptação do espetáculo americano “A Cor Púrpura”, com direção de Tadeu Aguiar.