Você tem amigos do outro lado do muro

Thiago Carneiro *

Já vimos esse filme antes. A cidade está dividida ao meio por um muro, erguido em nome da cisão ideológica. Sim, parece Berlim. A Alemanha dividida ao meio separou famílias, casais de namorados, amigos de infância. Agora, um muro está erguido em Brasília, para apartar os polos dos protestos a favor e contra o impeachment na votação de domingo.

O muro da vergonha corta a Esplanada dos Ministérios de ponta a ponta. Dá para ter uma ideia do tamanho do trabalho que a Polícia Militar do Distrito Federal avalia que vai ter para garantir a segurança de tantas pessoas. Elas entoarão palavras de ordem dos dois lados do muro. Todos lutando por aquilo que acreditam ser o melhor para o país. Provavelmente, alguns de seus amigos e familiares estarão em lados opostos.

Portanto, haja o que houver, não vale a pena provocar o outro lado para um confronto direto, para uma briga. Uma pedra atirada por cima do muro pode resultar em um amigo seu postando “fui atingido!”. Uma provocação pode ser como uma fagulha para a situação sair do controle. Mas, com pessoas inteligentes, esse dia pode acabar bem.

Para ficar nos livros de história

Não sei de que lado você, leitor (a), estará no domingo. Mas provavelmente você concorda que esse dia entrará para a história.

Histórico mesmo seria ver toda essa gente reunida na Esplanada sem dar muito trabalho para a polícia. Um show de civilidade pode ser muito mais marcante do que uma praça de guerra. Já pensou nisso?

Mensagens de respeito podem fazer contraponto às mensagens de provocação. Se amigos usando camisas de torcidas rivais podem tomar cerveja juntos, por que não fazer o mesmo quando o assunto é política? Afinal, um povo atinge a maturidade política quando aprende a defender pontos de vistas diferentes, sem perder amizades nem o bom humor.

Infelizmente, no domingo haverá um grupo comemorando a vitória, e outro amargando a derrota. Haverá euforia e frustração. Mas, se já sabemos como é feio e vergonhoso quando torcidas organizadas se enfrentam após um jogo, podemos poupar nossas famílias e amigos de brigas inúteis. Bonito é ver os cidadãos voltarem para casa de cabeça erguida, com o dever cívico cumprido. Sem ferimentos, sem gás lacrimogêneo. Fazendo o muro parecer ridículo, desnecessário. Isso, sim, pode ser histórico.

*  Doutor em Psicologia Social pela Universidade de Brasília, com especialização em Participação Política.

Artigo dominical – O grande espelho

O grande espelho
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Numa grande cidade, houve uma exposição de quadros artísticos. Como acontece nessas exposições, há muitos que vão para se fazer de entendidos em arte ou para se exibir. Na antessala da exposição, colocaram um grande espelho. Talvez para ajudar os visitantes a se recomporem, após ter caminhado pelas ruas agitadas. Entre os primeiros visitantes, tinha uma senhora bem vestida e coberta de cosméticos. Ao chegar à frente do grande espelho, ficou indignada e começou a reclamar: – Vejam só! Pela amostra já se vê que tipo de exposição vai ser esta. Olhem este espantalho, aí no quadro, é horrível! Quando lhe disseram que aquilo era simplesmente um espelho, ela ficou toda envergonhada, Continue lendo

Os desafios da Zona Franca Verde

Os desafios da Zona Franca Verde
Por Randolfe Rodrigues

rand2aA mais importante noticia econômica dos últimos tempos para o Amapá foi a assinatura do Decreto de regulamentação da Zona Franca Verde de Macapá e Santana, após passar quase sete anos engavetada.

É importante destacar que, diferente da atual área de livre comércio, na qual os incentivos fiscais limitam-se à compra e venda de produtos para circulação local, a Zona Franca concederá benefícios para indústrias de transformação e sua produção poderá ser comercializada em todo o território nacional (ou exportada). A peculiaridade da nossa Zona Franca é que o processo produtivo terá que usar predominantemente matérias-primas regionais.

Entretanto, para que este regime aduaneiro especial venha a se tornar realidade ainda há importantes desafios a serem superados.

O primeiro deles é junto à SUFRAMA, que está com a atribuição de definir os critérios daquilo que vem a ser “predominância de matéria-prima regional”. A regulamentação exige que seja levado em conta pelo menos um dos seguintes atributos: volume, quantidade, peso ou importância em relação ao produto final. Trata-se de uma etapa crucial, que pode ampliar ou restringir a atratividade de potenciais empresas interessadas em aproveitar os incentivos no Amapá. Por isso, estamos organizando uma visita com lideranças políticas e empresariais a Manaus, para sensibilizar a SUFRAMA acerca da necessidade de que as ZFVs tenham real efetividade. A agenda será cumprida na próxima terça-feira (19/01) com a Superintendente Rebecca Garcia.

Além disso, um outro desafio é a descentralização da SUFRAMA que, aliás, teria que mudar de denominação, de “Superintendência da Zona Franca de Manaus” para “Superintendência das Zonas Francas da Amazônia”, uma vez que o Decreto 8597 de 18 de dezembro passado criou quatro novas ZFs: Tabatinga (AM), Guajará-Mirim (RO), Brasiléia e Cruzeiro do Sul (AC), além de Macapá e Santana. Nessa descentralização é fundamental que tenhamos no Amapá uma câmara de análise dos Processos Produtivos Básicos, avaliando localmente as empresas que poderão fazer jus aos benefícios da Zona Franca. Se ficarmos dependentes de enviar os projetos para crivo em Manaus, seguramente serão processos morosos e relegados a prioridade secundária.

Há ainda o debate sobre a origem da matéria-prima elegível de ser destinada às novas Zonas Francas. O Decreto reza que deverão ser originadas na “Amazônia Ocidental e no Estado do Amapá”. Se por um lado este trecho restringe inicialmente a fonte primária que abastecerá nossa futura ZFV, por deixar de fora as matérias-primas do Pará, por outro lado esta restrição se constitui em poderoso estimulo ao setor primário amapaense, que terá vantagens comparativas em relação ao Estado vizinho.

Por tudo isso, o momento é de reunirmos todas as forças interessadas em tirar o Amapá do atraso e superarmos nossa arcaica economia do contracheque público, fazendo com que a Zona Franca Verde se torne um real impulso ao nosso desenvolvimento.

*Randolfe Rodrigues é senador da República (REDE-AP), professor e historiador.

Artigo dominical – O aproveitador

O aproveitador
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Era uma vez um sujeito que marcava presença em todos os casamentos da cidade. Sabendo de algum, vestia-se e ia para a igreja. Depois, acompanhava os noivos participando das comemorações. Os parentes e amigos da noiva pensavam que ele fosse um dos convidados do noivo. Os parentes e amigos do noivo pensavam que fosse, ao contrário, convidado da noiva. Assim, participava de todos os casamentos. Um dia, porém, um parente quis saber quem ele era de verdade e perguntou-lhe:

– O senhor é parente do lado do noivo ou do lado da noiva? Continue lendo

Artigo – O que vem por aí?

O que vem por aí? Não sabemos, mas eduquemos para o futuro
Ronaldo Mota (*)

É bastante comum ouvirmos corretas reclamações dos menos jovens sobre a compulsiva e obsessiva ligação dos mais jovens com celular (geração heads down ou, em português, “cabeças baixas”). Ainda que pertinentes as observações, a tendência é que, ao invés dos mais jovens mudarem seus hábitos, talvez o mais provável é que os mais velhos se acostumem com os hábitos e parem de reclamar. É previsível também que o celular seja somente um prenúncio de algum novo dispositivo que ficará cada vez mais grudado ao corpo e, certamente, ativo o tempo todo.

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Artigo dominical

“Tu és o meu Filho amado”
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

O lobo, cansado de caçar e de correr o dia todo para conseguir comida, resolveu se disfarçar de pastor para chegar mais facilmente perto das ovelhas. Com habilidade, fingiu ser o pastor e encaminhou-se ao rebanho na hora em que todos tiravam um cochilo. Com a vara bateu nas ovelhas, mas elas nem se mexiam, nem se espantavam. Então lembrou que elas obedeciam ao comando da voz do pastor e ele começou a gritar para fazê-las caminhar.

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Artigo dominical

A globalização da indiferença
Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá

O contrário da misericórdia pode ser o ódio ou a vingança, mas acredito que o contrário da compaixão seja mesmo a indiferença. Esta, praticamente, é a incapacidade de deixar-se envolver pela situação do outro, sobretudo quando a outra pessoa está passando por uma situação difícil de sofrimento, abandono ou desprezo.

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Artigo – A boa e a má notícia do Supremo

A boa e a má notícia do Supremo
Por Randolfe Rodrigues

rand2aNuma única sessão, na quinta-feira, 17 de dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) brindou o país com duas decisões importantes – e contraditórias no seu conteúdo.

Uma muito boa e outra muito, muito ruim.

A primeira – e muito boa – decisão foi a desmontagem da manobra, mais uma, urdida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e sua ‘tropa de choque’ na tentativa nefasta de impor suas ideias pessoais e seus interesses escusos no processo de impeachment da presidente da República. Uma grave e séria ferramenta constitucional que não pode ser manipulada por conveniências vingativas.

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Artigo dominical

Misericórdia eu quero, não sacrifícios (Mt 9,13)
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 No dia 8 de dezembro, o papa Francisco abriu, na Basílica de São Pedro, em Roma, a Porta Santa, dando início ao Jubileu Extraordinário da Misericórdia, chamado também de Ano Santo. As nossas “portas santas” estarão abertas na Catedral São José e em outras Igrejas a partir do domingo 13 de dezembro. É bom oferecer algumas explicações sobre o assunto, lembrando que o último Jubileu foi celebrado no ano 2000.

Os Jubileus “ordinários” acontecem a cada 25 anos, mas, vez por outra, os papas proclamam Jubileus Extraordinários. Desta vez, a ocasião é dada pela recorrência dos 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, ocorrida no dia 8 de dezembro de 1965. Essa motivação pode parecer exclusiva para os católicos e,  Continue lendo