Da Antologia Modernos Poetas do Amapá

Poema com destino à Noruega
Alcy Araújo

Eu ando com a cabeça baixa e dolorida
tateando na sombra dos guindastes
o corpo flácido das mulheres das docas
dentro das noites do cais.
Por que passam por mim tantos
marinheiros, navios, ondas balouçantes?
Se eu pudesse
descansaria a cabeça dolorida
num saco, num fardo, numa caixa,
depois escreveria um poema simples
e montava-o na onda com destino à Noruega.
E a moça loira
que o lesse ao sol da meia-noite
não saberia que sou negro
funo liamba
e tenho as mãos revoltadas e calosas.

Não me peças, Maria
Aluízio da Cunha

Não me peças, Maria,
um poema de amor,
profundamente musicado pelas rimas.
Não me peças, Maria,
um poema de amor.
Olha, Maria,
os jatos perturbaram
a melodia nascente
da primeira canção deste poeta.

Poema III
Arthur Neri Marinho

Não mais no quadro negro
o tempo de criança.
A escola isolada
desapareceu.
As meninas casaram
ou ficaram no mundo,
os meninos viraram homens,
uns de pés descalços,
uns de mãos vazias.
Minha mestra, onde anda?
Que problema difícil
de solucionar.

Muro
Ivo Torres

Olhos que buscam uma paisagem
no ninho árido da primeira saudade.
Mãos que se chocam
no frio vazio
de um antigo calor.
Sombras alienadas que se desesperam
à procura do corpo inaugural.
Flores à cata de perfume.
Palavras querendo uma voz.
Enquanto a vida sorri,
lá fora,
milionária de saúde.

Ciúme
Álvaro da Cunha

não sabe a flor
das varzéas da Indonésia
a frustração
do meu olfato ocidental.

Chá da tarde

Guerreira
Izaías Cunha

Se só li de ti te amei
O que serei se conviver contigo?
Teu brilho
Tua graça
Tua arte na praça
E o mais que tu tenhas.

Teu olhar de guerreira
Tua voz de roufenha
Invadiu meu espaço sem senha

E o que mais que eu quero
Se pra o mal és martelo
Que esmiuça a pedra na penha.

(Izaias José Cruz Cunha é paraense, mas há anos mora no Amapá. É carteiro em Porto Grande. Poeta dos bons, lírico, sensibilidade a flor da pele. Em 2011 publicou o livro de poemas “Destinados a mim – O carteiro é o poeta”. Um livro que leio, releio e recomendo sempre.  O poema “Guerreira” Izaias fez para mim. E isso me orgulha muito)

Criança feliz

ziraldo2Essas crianças brincam, correm, pula, estudam e fazem poesia. São os “poetinhas” do Movimento Poesia na Boca da Noite. A foto é do ano passado na Bienal Internacional do Livro de São Paulo onde eles lançaram uma coletânea de poemas, declamaram e conversaram com seus ídolos, como o Ziraldo- de quem receberam o maior carinho.

Chá da tarde

Lavrador
Gûlval

Cada pessoa tem de mim
O que planta em mim.
Se gostas do que colhe,
é porque tens boas sementes.
O solo da minha persona
Pouco ou nada interfere
na qualidade do fruto!
O mérito é apenas…
Do Lavrador!

( Gûlval, jovem poeta amapaense, faz parte do grupo poético Pena & Pergaminho, que reúne sempre na primeira sexta-feira do mês, a partir das 19h no Centro Cultural Franco-Amapaense. Mais poemas de Gûlval você lê no blog Espírito na Carne, clicando aqui)

Movimento Poesia na Boca da Noite comemora 70 anos do Amapá

Amanhã, 13, o Movimento Poesia na Boca da Noite comemora os 70 anos do Amapá e o aniversário do poetinha Asaf Assunção. Asaf completa amanhã 10 aninhos. Faz parte do Movimento desde os 8 anos de idade, está na coletânea Poesia na Boca da Noite e participou ano passado da Bienal Internacional do Livro de SP, onde declamou,  autografou, deu entrevistas e conversou com renomados escritores, dos quais recebeu elogios e palavras de incentivo.

Então, amanhã, além de muita poesia, ciranda, leitura, troca de livros e distribuição de origamis com poemas, haverá guloseimas, como bolos, brigadeiros, sucos etc etc. E, claro, que cantaremos parabéns para o Asaf e para o Amapá.

Você, leitor do blog, é nosso convidado especial. Vá viver  momentos plenos de ternura, alegria e lirismo à beira do rio Amazonas. Vá lá, deite e role no Pano da Poesia, declame, leia, converse, brinque de roda… enfim, a palavra de ordem é ser feliz.

Só reforçando: amanhã, das 17h às 19h, tem Movimento Poesia na Boca da Noite, no Parque do Forte, bem atrás da Fortaleza de São José, sob um bela árvore e de frente para o rio mais belo.

S

Chá da tarde

Bar du Pedro
Rubemar

Sr. Prefeito
Uma coisa eu tenho medo
Nunca feche o Bar du Pedro
Que é relíquia territoriá
Pode mudar toda a arquitetura
Du Mercado Centrá
Mas não feche o Bar du Pedro
Se não muita gente vai falar.
Sempre foi o lugar do seresteiro
Do bebum sem dinheiro
Do boêmio Apaixonado
Do peão que labuta com esforço
Do mulato preguiçoso
Ou mesmo do homem doutorado
Sr. Prefeito!!

Um poema de Joel Elias

O Rio e a Poeta
Joel Elias

É poeta!
O rio não é como o mar
Indomável que nem o coração das ninfas
O rio é teu porto seguro
Para que possas zarpar de cais noturnos
Em poemas a caminho da Noruega

O rio é teu pranto
Rolado em lágrimas de poesia
Para inundar a existência humana
de amores e desamores
Na derradeira Lua do homem

Teu cantar é o vento que sopra dos Açores
Em direção à Favela de teus sonhos gertrudeanos
Repousados no toque ancestral das caixas de marabaixo

Esse rio é tua benção sobre nós
Andaluzes da madrugada, notívagos
Boêmios camicases, brandõesdelima
Cunhascantosearaújos ivandotorres de marfins
Em acordes leais para cantar todas as mães, todas as luzias

(Joel Elias é poeta, compositor e jornalista. Durante muitos anos editou o jornal Diário do Amapá. Atualmente mora em Porto Velho-RO. É  meu amigo há muitos e muitos anos e tenho uma saudade danada dele)

Cícero Gomes e Ernani Motta no Poesia na Boca da Noite nesta sexta-feira

SNesta sexta-feira, 16, o Pano da Poesia será estendido no entorno da Fortaleza de São José, na ilharga do maior rio do mundo. Será um encontro especial com a presença do renomado poeta Cícero Gomes (SP) e do cronista Ernani Motta.
Cícero é alagoano radicado em São Paulo. Autor de várias obras, ele vai declamar poesias suas e de Catulo da Paixão, Chico Nunes e Zé Limeira, entre outros.
Ernani Motta é amapaense, mas mora no Rio de Janeiro há mais de 20 anos, onde participa de diversos movimentos culturais. Mantem um blog onde publica crônicas e poesias de escritores de vários cantos do país.
Ernani já está em Macapá. Cícero chega hoje à noite.
Você, leitor do blog, é nosso  convidado especial. Vá lá declamar ou ouvir poesia, deitar no Pano da Poesia, ler, conversar com poetas e escritores, rir e brincar de ciranda.
A brisa já mandou avisar que estará à nossa disposição e a lua mandou dizer que estará mais linda do que nunca.